Capítulo 13 | Primeira carta

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Vivi chegou da biblioteca pouco tempo depois que eu entrei na casa dela. Fizemos um café e agora estamos escutando música e jogando Trash no baralho.

- Você falou com ele depois daquele dia? - Vivi pergunta. Sinto seu olhar em mim enquanto puxo uma carta do baralho reserva.

- Não. - Digo sem desviar meu olhar das cartas.

- Por isso estava daquele jeito quando me ligou?

- Não. - Minto. Não quero falar a verdade porque me incomoda que senhor Griffiths tenha desaparecido depois de me conhecer um pouco mais a fundo. 

- Cordélia, por favor, me diga que você não está esperando ele vir te procurar, como um donzela do século 19?

- Bom, se eu vou me quebrar no final de tudo, que ele pelo menos tenha corrido atrás de mim.

- Ah, por favor. - Vivi diz, irritada. - Ele não é um jovem, Cordélia. Ele é um adulto. Não vai fazer joguinhos com você. Provavelmente só está ocupado...

Continuo encarando as cartas... Será que pode ser isso mesmo?

Depois de um instante, Vivienne bate em minhas mãos fazendo todas as cartas caírem.

- Vivienne, isso é trapaça! - Grito.

- Tenho uma ideia melhor. - Ela fala com um olhar entusiasmado, levanta e vai ao quarto. Volta com um monte de papéis e várias canetas coloridas.

- O que é tudo isso? - Pergunto.

- Você, Cordélia, querida - Ela diz imitando a voz e sotaque do senhor Griffiths. - Vai escrever uma carta para o seu amado.

- Não, não vou. E ele não é meu amado. Não tenho nada com ele, Vivienne. Por favor, não me faça pensar em tudo o que aconteceu de novo.

- Sinceramente, você lê tanto e nunca pensou em fazer algo do tipo?

- A maior parte do tempo eu leio para tentar entrar em outro mundo não para pegar dicas do que fazer no meu tempo livre em relação a alguém que não manda nenhum sinal de vida depois de me beijar. 

- Você me lembra uma tartaruga bem velha, de uns 100 anos e sem dentes, Cordélia. Deve ter mastigado todos eles, por isso vive de mal humor, fica pensando nos dentes que perdeu. - Ela diz rindo e continua - Sinceramente, ele não faria o que fez e depois te deixaria de lado, Délia. Ele só deve estar ocupado.

- Acha mesmo?

Vivi balança a cabeça em confirmação.

- Sim, acho. Ele provavelmente iria transar com você para depois te deixar de lado, bobinha. - Vivi tenta segurar um sorriso e sua face começa a ficar rosa.

Que ridícula e grosseira. No entanto, logo ela começa a dar gargalhadas eu também. Ela tem razão.

- Quer saber, de qualquer forma vou me arrepender. - Puxo os papéis e uma caneta preta da mão de Vivi. - Assim pelo menos fica interessante.

Quando olho para o rosto de Vivi meu coração se aperta de ternura. Ela está com um sorriso gigante e bate palminhas de entusiasmo.

Balanço a cabeça e coloco a caneta no papel apoiando no chão para começar a escrever, mas então eu paro. Não sei como fazer isso. Nunca fiz antes.

- Como o chamo? - Pergunto - Senhor Griffiths? Tom? Começo dizendo o que? 

- Comece pensando estar na frente dele. - Ela tenta guiar minha escrita. - Então pense no que diria sobre o que aconteceu quando você estava na casa dele. O que você sente. Se imagine em um lugar comum, como a biblioteca. Você tem o controle da situação, Délia.

"Senhor Griffiths," - Começo a escrever. - "Me desculpe por ter saído abruptamente de sua casa e tão cedo, como se estivesse fugindo.

Não estou."

- Agora imagine que a atenção dele é única e somente para você. - Ela continua - Não precisam esconder nada um do outro, então conte, fale. 

- Vivi, vou deixar você escrever a carta se continuar falando. Deixe-me terminar e depois te dou para ler. 

Ela revira os olhos. Eu rio e volto a escrever.

"Entretanto, não tive notícias suas, senhor Griffiths. O que é um dos motivos para eu estar escrevendo essa carta.

Lhe contei sobre meu medo do futuro e você me perguntou se não estava claro que eu não deveria temer.

Eu não quero ter medo, mas estou aterrorizada. Me sinto frágil diante do senhor. 

Me diga que tudo o que aconteceu não foi apenas fruto da minha imaginação. Me diga que você ainda está aí, me esperando. 

Eu estou disposta a não querer temer. Mas a cada dia que passa, minhas dúvidas me consomem e meu terror aumenta. 

Você ainda me espera, senhor Griffiths? E o fará por quanto tempo? 

- Cordélia."

Vivi é tão doida quanto eu. Saímos no meio da madrugada para deixar a carta no endereço de senhor Griffiths.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora