Merino não era apenas um moleque, como Vivi disse. A conversa com minha amiga me deixou reflexiva e me fez lembrar do meu passado, do que eu fazia na cidade em que morava, com quem eu acabei me envolvendo.
Na minha antiga e pequena terra havia um certo grupo de jovens rebeldes que nenhum pai gostaria que se tornasse companhia para os filhos. No entanto, eles não eram um problema porque queriam e sim porque precisavam do crime para sobreviver.
Eu vivia no interior, em um lugar tão pequeno que o centro da economia local eram os jovens de uma universidade da cidade vizinha que vinham comprar drogas.
Mas sempre há excessões. E Merino, meu primeiro amor, é uma delas. Ele não era um dos universitários que vinham comprar drogas e tampouco precisava do crime para sobreviver. Ele simplesmente gostava do caos e fazia o mal porque queria. A venda de drogas não o contentava, então ele também roubava, destruía todos os tipos de espaços como escolas, supermercados, hospitais... Merino tinha um ódio grande e incompreendido dentro de si. Ele era um delinquente que me dava sede de viver. E eu sempre fui tão sedenta por vida. Talvez por isso tenha me apaixonado tão cegamente por ele.
Eu fui embora antes de ver o que Merino se tornaria.
Relembrar meu passado me fez questionar se eu não estou o repetindo. Eu sei que Griffiths deve trabalhar com algo complicado, talvez até perigoso. Com tantas empresas espalhadas pelo mundo sonegar impostos deve ser a mais inofensiva das coisas que ele faz.
Me intriga a relutância de Griffiths para entrar de uma vez por todas nessa relação comigo. Depois que ele se abriu comigo ficou claro que ele quer o meu melhor e por isso tentou se manter afastado, porque a vida dele pode me colocar em risco. De alguma forma eu sempre volto para esse ciclo vicioso de relações amorosas com pessoas de caráter duvidoso.
Pensando melhor, toda a experiência que eu tenho com homens que fazem coisas ruins me dá uma certa vantagem sobre Griffiths. Sei exatamente o que preciso fazer para conseguir o que eu quero dele.
Em um impulso busco papel e caneta e rabisco uma carta atrevida que Griffiths não terá como recusar.
Chega de esperar para que senhor Griffiths tome as decisões. Eu o quero e vou tê-lo.
*
Acordo com a necessidade de um banho quente daqueles que deixam a pele vermelha. Antes de levantar da cama escuto barulhos na cozinha, o que significa que Drevon não saiu cedo hoje.
Me lembro da carta que enviei para senhor Griffiths e o arrependimento toma conta de mim. Não deveria ter enviado tamanha descaração em um impulso. Eu deveria ter esperado mais um pouco. De qualquer forma, respiro fundo e com esforço levanto da cama. A carta já foi enviada, Griffiths provavelmente já a recebeu e agora basta esperar e aguardar o resultado.
O chuveiro do meu dormitório é muito bom, agradeço a universidade mentalmente por me proporcionar esse momento de paz. O aquecimento é tão forte que sinto minha pele pinicar sob a água.
Pensar no senhor Griffiths agora não seria má ideia. Ele tem me deixado com tanta vontade pelas coisas que escreve nas cartas. Vezes ele descreve o que pretende fazer comigo, outras fala sobre o que a visão do meu corpo causa nele, em como ele fica excitado ao se lembrar de eu gozando no seu colo... Não é difícil focar o pensamento na barriga definida de Griffiths e na altura dele quando se aproxima de mim, intimidador, olhando para baixo. Penso no calor do corpo dele rente ao meu, no jeito que ele encaixa perfeitamente em mim quando me coloca em seu colo...
A porta do banheiro abre com força e Drevon entra abruptamente.
- Sério!? - Grito, assustada. - Saia, Drevon! Agora! - Exatamente o que eu tinha receio de acontecer: Drevon me interromper e quase me pegar em um desses momentos de intimidade.
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Com amor, Cordélia (Daddy!)
RomansaCordélia foge do passado perigoso para a cidade grande e conhece um bilionário vinte anos mais velho que ela. O relacionamento dos dois é intenso desde o começo, mas tudo parece conspirar contra o final feliz do casal. A relação é ameaçada por segr...