Capítulo 37 | A traição de Griffiths

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Meus olhos queimam com lágrimas quando me lembro dos últimos dias. Aquela suíte escura e gelada, o cheiro das drogas que eu usei, os sons de prazer dos quartos ao lado. A dor por ter perdido Tom. A revolta por ter sido beijada à força por Drevon. E então o alívio ao sentir o cheiro de Griffiths naquele corredor escuro, de saber que ele me procurou, me resgatou, me abraçou e cuidou de mim. Quando eu voltei a respirar com ele me segurando em seu colo tudo escureceu e Merino voltou. E agora que eu retomei minha consciência, Tom não está mais comigo.

- Tom - tento chamar por ele, mas quase não reconheço minha voz. Parece que pequenas garras afiadas arranham o interior da minha garganta. Mesmo assim tento chamar por Tom de novo. Preciso dele. Preciso que ele tire o gosto amargo que as lembranças de Merino deixaram em minha boca.

- Tom - repito. Drevon que está ao meu lado me olhando como se eu estivesse morrendo e ele não pudesse fazer nada, parece não entender o que eu falo. 

Faço um gesto com a mão para indicar minha garganta que parece estar em carne viva. 

Rapidamente ele estende a mão e pega um copo com água. Tento segurar o copo mas meus dedos estão fracos. Drevon coloca um pouco de água na minha boca com um olhar carregado de piedade. Eu odeio. Não quero pena. Eu me coloquei nessa situação, não sou digna de clemência.

Assim que a água toca minha boca tenho a sensação de que eu estava há uma vida desidratada. Depois de alguns minutos tento falar novamente.

- Drevon, por favor, Tom. Eu preciso de Tom. - Ao falar essas palavras meus olhos se enchem de lágrimas. Não consigo mais ficar longe dele. Os últimos dias foram um pesadelo e eu não quero mais revivê-los. Nunca mais.

- Quem é Merino? - Drevon pergunta.

- Merino? - Um arrepio percorre minha espinha. Como Drevon descobriu o nome dele?

- Você estava chamando por ele - explica.

Sinto como se todos os meus fantasmas estivessem sentados em cima do meu peito, esmagando meus pulmões e apertando minha garganta com suas grandes mãos afiadas e frias. Não consigo direcionar meu pensamento, mas não quero pensar no meu passado agora. Não depois de tudo o que está acontecendo no meu presente.

- Drevon... Tom?

- Ele não está aqui. Você se lembra do que aconteceu?

Quase sinto vontade de rir. Tudo o que eu fiz foi tentando esquecer o que aconteceu, tentando não lembrar do que eu fiz acontecer. Tentando ignorar a dor. Nada deu certo.

Mas eu sei o que eu vi. Tom estava lá. Não foi um sonho. Não é possível que tenha sido um mísero sonho. Não. Ele foi até mim e me trouxe de volta, me tirou da escuridão daquele lugar. Não foi um delírio. Quando se trata de Tom, eu não me engano. 

Observo o rosto de Drevon. Ele nota que eu o avalio e desvia o olhar. Com ele ao meu lado lembro de tudo o que aconteceu vividamente.

Drevon sabia que Tom estava na minha casa naquela noite, do contrário ele não teria me cumprimentado com um beijo. Ele nunca fez isso antes. O beijo teve um propósito. Só não entendo como ele sabia quem é Griffiths. 

Como ele poderia saber que o beijo afetaria uma relação que ele nem sabia que existia?

Conforme penso nas inúmeras perguntas sem respostas, minha cabeça começa a latejar. Preciso de muitas coisas, mas acredito que um banho e um chá são as melhores opções para esse momento.

Já passei por essa "ressaca" de drogas mais vezes do que eu consigo me lembrar, mas não injetando. Foi a melhor sensação que eu já senti e ao mesmo tempo a pior. Quando vi meu braço com a agulha e meus olhos fechando de prazer, senti também uma angústia que parecia irradiar pelos meus poros e um alívio que brigava fervorosamente contra a amargura da minha alma.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora