Capítulo 3 | Daeva, casa de horror e prazer

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Sr. Griffiths

Caminho pelo curto gramado e entro no prédio em que Cordélia mora. Subo as escadas de madeira, os degraus rangendo sob meus pés. O prédio é antigo e gelado, o cheiro de limpeza agradável e aconchegante. A luz das janelas no alto das escadas criam sombras e deixam o lugar pouco iluminado. Ao chegar no corredor do dormitório, chaves jogadas no chão chamam a minha atenção. Não preciso me aproximar para ver que a porta de Cordélia está aberta.

Entro na pequena casa. Tudo está igual ontem a noite. O livro que ela leu para mim na mesa de centro ao lado das taças de vinho e as janelas entreabertas. O celular e notebook continuam na bancada da cozinha.

Tento ser razoável e pensar que Cordélia saiu apenas para comprar alguma coisa e por isso não levou o celular. As chaves devem ter caído sem ela perceber... Não. Quem eu estou tentando enganar? Merda, Cordélia. Busco meu telefone e John me atende no primeiro toque.

- Onde ela está? - Pergunto, impaciente.

- Daeva, senhor.

Porra, Cordélia, você cai rápido demais. Daeva é uma das casas de prostituição mais famosas de Londres, frequentada por políticos e celebridades que procuram carne jovem de qualidade e um bom lugar para se esconder e aproveitar. É um dos negócios que mais me dá lucro e um dos mais imorais que eu tenho.

Não sei o que faz Cordélia buscar a podridão de lugares como Daeva. Deve ter sido essa escuridão dentro dela que fez Francesco Ruggiero a escolher para fazer parte do negócio quando a viu pela primeira vez. Como ele soube que ela seria boa apenas observando-a pegar livros nas prateleiras da biblioteca eu não faço ideia. Mas de alguma forma ele sabia que ela poderia chegar a este nível, que ela seria perfeita para lugares como esse.

- Coloque ela em um dos quartos. Agora.

- Mas, senhor...

- E coloque alguém de confiança para ficar ao lado dela. Eu vou buscá-la assim que possível. Não perca ela de vista. E, por tudo o que é mais sagrado, não deixe ela se aproximar de nenhuma substância.

- Substância? - John pergunta, reticente. Respiro fundo tentando não gritar com meu funcionário. Já é difícil o suficiente ter que pensar em fazê-la passar por isso, ela aprecia seus momentos de esquecimento. Mas não posso deixá-la se matar por causa de um mal entendido.

- Drogas, John, não a deixe usar drogas. Por que não me avisou que ela tinha saído?

- Senhor, não sabia que precisava. Ela apenas saiu e eu a segui, como sempre.

- Porra, John. Quando a minha mulher entra na porcaria de um lugar como Daeva, a primeira coisa que você deve fazer é me ligar, entendeu?

- Entendido, senhor. Peço perdão.

Desligo o telefone e sinto como se algo estivesse preso em minha garganta. Ando pelo espaço entre o sofá e a estante de livros de Cordélia pensando no que fazer, considerando se buscá-la neste estado é minha melhor opção ou se devo dar espaço a ela.

Começo a sair da casa de Cordélia, mas me lembro que Vivienne em breve vai procurá-la e não quero que ela se envolva mais uma vez com lugares como Daeva ou com os frequentadores.

Prestes a mandar uma mensagem para a melhor amiga de Cordélia pedindo para que venha até mim, uma chamada aparece no alto da tela.

- O que foi agora? - Pergunto e a voz de John demora para soar do outro lado da linha.

- É... senhor...

- John. - Aviso, violência prometida em meu tom de voz grave.

- Cordélia está saindo de Daeva acompanhada.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora