Capítulo 16 | Não se pode fugir para sempre

1.4K 98 8
                                    

Só por um dia.

Já perdi a conta de quantos dias Drevon está comigo. Quase uma semana ou mais. Não estou reclamando, já fizemos isso mais vezes do que posso contar. Ele vinha, eu ia. E ficávamos assim por um bom tempo. Me lembro do começo de tudo, quando nos conhecemos e, depois, de quando ele foi embora. Drevon foi o primeiro fantasma que eu tive que carregar depois que cheguei em Londres.

Passamos mais de seis meses num vai e vem louco de "apenas um lance físico". Essa necessidade que ele sentia de mim era quase obsessiva. Eu não sentia tanto quanto ele, mas quando estávamos juntos éramos um do outro e parecia o suficiente.

Drevon foi minha primeira loucura sozinha na cidade grande. Ele me ensinou a começar a viver aqui. No entanto, todas essas lembranças boas são manchadas pelo dia em que ele me deixou.

- Eu não consigo continuar parado aqui, Cordélia. - Ele me disse. Falava como se estivesse sendo destruído por dentro por ser obrigado a continuar algo que não estava saindo como o planejado.

- Eu sei. Quer dizer, você tem quase 35 anos e mora no dormitório de uma universitária. Quem gostaria de continuar dessa forma?

Ele ri, sem graça.

- Não é assim. O problema é Londres. Eu já cansei de ver essas mesmas ruas todos os dias, ir nos mesmos bares, ver as mesmas pessoas. Quero algo diferente.

Eu não respondo. Encaro o chão do meu dormitório e fico assim por mais alguns instantes.

- Por que não vem comigo? - Drevon sugere quando percebe que eu não conseguiria dizer mais nada, mas parece da boca para fora. Um convite por educação.

Nego com a cabeça. - Eu acabei de chegar. Estou cansada, você sabe o quanto eu estou cansada. Preciso parar, estudar, conseguir um emprego melhor. Cansei de correr, Drevon. Olha o quão longe eu vim para esquecer do meu passado. Não posso viver de esquecimentos.

- Eu quero ficar por você, Delia. - Ele me diz, carinhosamente.

- E eu não posso fazer isso com você. Por favor, não vou deixar você se sentir mal por isso. Eu estou bem. Vou sentir saudades, mas vou ficar bem. - Afirmo.

- Seria tão mais fácil se você viesse comigo... - Ele se aproxima de mim. - Você veria tantas coisas incríveis, lugares que nunca imaginou ver... - Drevon passa a mão pesada pela minha cabeça e me olha com pesar.

- Eu não vou te pedir para guardar esse convite, mas se você quiser, quando voltar, talvez eu esteja pronta para ir com você.

Ele sorri fracamente.

- Me abrace. - Eu peço.

Ele passa os braços em volta do meu corpo e me sinto numa fortaleza impenetrável. Completamente segura. Então Drevon me solta e sai. Fecha minha porta e me deixa sozinha.

Sozinha novamente.

E foi como se todas as colunas que mantinham minha fortaleza em pé estivessem despencando de uma só vez em cima de mim. O peso era insuportável, eu me sentia sufocar de pouco em pouco.

Dias passaram e eu não conseguia sair de casa nem para estudar. Mal me levantava para satisfazer minhas necessidades fisiológicas. Às vezes, pelo celular, Drevon me mandava fotos dos lugares em que ele estava, o que só fazia a dor piorar. Os lugares eram tão lindos e, cruelmente, me mostravam o quão longe eu estava dele. O quão distante de mim ele decidiu ir sem se importar em ser a única pessoa que eu conhecia em Londres.

Mais tarde, Drevon parou de me enviar fotos, depois parou de me mandar qualquer mensagem e então perdemos todo o contato. Eu não me importei. Era melhor dessa forma.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora