Capítulo 10 | Brincando com fogo

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Acordo suada, meus cabelos grudam no meu pescoço. Começo a abrir os olhos lentamente e quando não enxergo nada minha respiração fica mais rápida e descompassada. Parece que um ou dois dias foram arrancados da minha memória.

Minha visão começa a se ajustar aos poucos. Meus olhos pesam como se tivessem pregas juntando as pálpebras. Conforme me acostumo com a claridade, começo a ver meu entorno e minha respiração aos poucos volta ao normal. Estou com a mesma blusa que vesti da última vez que me olhei no espelho, porém sem calça. Estranho, mas talvez eu mesma tenha tirado.

Não sei onde estou. É um quarto grande, confortável, com um cheiro levemente amadeirado e quentinho.

Me sento em uma cama surpreendentemente grande, com lençóis de seda brancos. Duas janelas se estendem à minha esquerda com cortinas pretas de chiffon. Ainda está de noite, então provavelmente eu não dormi tanto tempo assim.

Na minha frente vejo uma lareira de pedra ônix e o fogo que crepita e aquece o quarto arde em chamas de um azul gélido e incomum.

O chão e as paredes são de um mármore tão branco que sinto como se olhasse para o reflexo do sol na água. Além da lareira, o quarto se ilumina apenas por um abajur ao lado da cama. É tudo simplesmente lindo.

Não sei onde estou, mas não parece um sequestro. Caso fosse, o sequestrador tem um ótimo gosto e é gentil por me deixar tão confortável. Sei que é um homem por que vejo uma camisa social perto da minha calça largada na poltrona ao lado da lareira.

A última coisa que me lembro é de correr pelas ruas, sem ter certeza de onde ir. Sentia uma dor horrível. Não era uma dor física, era sufocante, como se meus pulmões estivessem sendo reduzidos a grãos e meu tronco ganhado um espaço vazio maior do que o necessário. Minha cabeça girava. Depois me lembro de ver livros e livros e livros... E depois nada.

Me levanto da cama esperando o choque do chão frio sob meus pés, mas está morno por causa da lareira, o que é muito confortável.

Abro a porta do quarto e suspiro aliviada por não estar trancada. Me deparo com um corredor longo e largo. Olho para trás e ao invés de uma parede vejo um vidro imenso dando vista para um lago.

Começo a andar pelo corredor com mais portas fechadas e uma pintura azul clara e vermelha, abstrata e horizontal que acompanha meus passos pela longa parede. O corredor termina em um parapeito vazado com desenhos em espiral. Duas escadas se abrem a partir dele, uma para cada lado.

Antes de descer as escadas, paro e observo uma sala gigante abaixo, toda branca e com alguns pontos escuros na decoração. A casa é gigante.

A luz da lua entra no cômodo e o deixa aconchegante e azulado. As luzes estão apagadas e eu não as acenderia por nada, é tudo muito lindo.

Desço as escadas e vejo livros espalhados pelo lugar, outra lareira como a do quarto, só que muito maior e desligada e um sofá cinza claro, grande e macio.

Sigo o cheiro de café. Chego na cozinha do lugar, linda em tons de branco e cinza. Uma garrafa está cheia com o líquido marrom que parece recém passado. Sinto muita vontade de beber, mas ainda não sei onde estou - apesar de desconfiar - e nem o que poderia ter no café para estar intocado.

Na parede esquerda da cozinha vejo o caminho para um corredor. Sigo para lá, entrando na primeira porta e me deparo com um lavabo muito chique. Me olho no espelho. Minhas olheiras agora parecem menos roxas do que eu me lembrava e meus olhos estão inchados. Meu cabelo está totalmente amassado e despenteado. Lavo o rosto, a boca e tento ajeitar o cabelo com um elástico que tenho no pulso. Não melhora muito.

Saio do lavabo e entro na próxima porta que tem dois pequenos degraus de madeira marrom escura descendo para uma sala belíssima. Paredes e chão são de madeira e livros e mais livros são organizados em estantes. Fico olhando para essa pequena biblioteca até que escuto um arranhar de garganta.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora