Acordo suada, meus cabelos grudam no meu pescoço. Começo a abrir os olhos lentamente e quando não enxergo nada minha respiração fica mais rápida e descompassada. Parece que um ou dois dias foram arrancados da minha memória.
Minha visão começa a se ajustar aos poucos. Meus olhos pesam como se tivessem pregas juntando as pálpebras. Conforme me acostumo com a claridade, começo a ver meu entorno e minha respiração aos poucos volta ao normal. Estou com a mesma blusa que vesti da última vez que me olhei no espelho, porém sem calça. Estranho, mas talvez eu mesma tenha tirado.
Não sei onde estou. É um quarto grande, confortável, com um cheiro levemente amadeirado e quentinho.
Me sento em uma cama surpreendentemente grande, com lençóis de seda brancos. Duas janelas se estendem à minha esquerda com cortinas pretas de chiffon. Ainda está de noite, então provavelmente eu não dormi tanto tempo assim.
Na minha frente vejo uma lareira de pedra ônix e o fogo que crepita e aquece o quarto arde em chamas de um azul gélido e incomum.
O chão e as paredes são de um mármore tão branco que sinto como se olhasse para o reflexo do sol na água. Além da lareira, o quarto se ilumina apenas por um abajur ao lado da cama. É tudo simplesmente lindo.
Não sei onde estou, mas não parece um sequestro. Caso fosse, o sequestrador tem um ótimo gosto e é gentil por me deixar tão confortável. Sei que é um homem por que vejo uma camisa social perto da minha calça largada na poltrona ao lado da lareira.
A última coisa que me lembro é de correr pelas ruas, sem ter certeza de onde ir. Sentia uma dor horrível. Não era uma dor física, era sufocante, como se meus pulmões estivessem sendo reduzidos a grãos e meu tronco ganhado um espaço vazio maior do que o necessário. Minha cabeça girava. Depois me lembro de ver livros e livros e livros... E depois nada.
Me levanto da cama esperando o choque do chão frio sob meus pés, mas está morno por causa da lareira, o que é muito confortável.
Abro a porta do quarto e suspiro aliviada por não estar trancada. Me deparo com um corredor longo e largo. Olho para trás e ao invés de uma parede vejo um vidro imenso dando vista para um lago.
Começo a andar pelo corredor com mais portas fechadas e uma pintura azul clara e vermelha, abstrata e horizontal que acompanha meus passos pela longa parede. O corredor termina em um parapeito vazado com desenhos em espiral. Duas escadas se abrem a partir dele, uma para cada lado.
Antes de descer as escadas, paro e observo uma sala gigante abaixo, toda branca e com alguns pontos escuros na decoração. A casa é gigante.
A luz da lua entra no cômodo e o deixa aconchegante e azulado. As luzes estão apagadas e eu não as acenderia por nada, é tudo muito lindo.
Desço as escadas e vejo livros espalhados pelo lugar, outra lareira como a do quarto, só que muito maior e desligada e um sofá cinza claro, grande e macio.
Sigo o cheiro de café. Chego na cozinha do lugar, linda em tons de branco e cinza. Uma garrafa está cheia com o líquido marrom que parece recém passado. Sinto muita vontade de beber, mas ainda não sei onde estou - apesar de desconfiar - e nem o que poderia ter no café para estar intocado.
Na parede esquerda da cozinha vejo o caminho para um corredor. Sigo para lá, entrando na primeira porta e me deparo com um lavabo muito chique. Me olho no espelho. Minhas olheiras agora parecem menos roxas do que eu me lembrava e meus olhos estão inchados. Meu cabelo está totalmente amassado e despenteado. Lavo o rosto, a boca e tento ajeitar o cabelo com um elástico que tenho no pulso. Não melhora muito.
Saio do lavabo e entro na próxima porta que tem dois pequenos degraus de madeira marrom escura descendo para uma sala belíssima. Paredes e chão são de madeira e livros e mais livros são organizados em estantes. Fico olhando para essa pequena biblioteca até que escuto um arranhar de garganta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, Cordélia (Daddy!)
RomansCordélia foge do passado perigoso para a cidade grande e conhece um bilionário vinte anos mais velho que ela. O relacionamento dos dois é intenso desde o começo, mas tudo parece conspirar contra o final feliz do casal. A relação é ameaçada por segr...