Capítulo 6

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- O que achou da seleção de livros, Cordélia? - Senhor Griffiths me pergunta, com o sotaque britânico que só o deixa mais tentador, enquanto caminhamos até a Ala Demetrificada, dentro da biblioteca dele.

- Os livros são tão estonteantes quanto a sala e a pintura no teto. É perfeito. Foi perfeito.

- Vai ser perfeito. - Ele diz.

Sinto meu rosto e pescoço ficarem mais quentes e arranho a garganta tentando me recompor. Isso foi um flerte, certo?

- Do que se trata a pintura no teto, senhor Griffiths?

- Há muitas histórias sobre a pintura, a maioria dos livros que tentam explicá-la estão na Ala Demetrificada, para onde estamos indo agora. Acredito que cada um que veja a obra deva tirar suas próprias conclusões. E algo me diz, Cordélia, que a sua interpretação vai ser uma das mais interessantes.

Isso foi outro flerte?

Chegamos aos portões da Ala. Griffiths os abre e segura para eu passar na frente.

- Na semana passada você estava lendo 'O Morro dos Ventos Uivantes'. Gosta de romances? - Ele me pergunta.

- Eu gosto de romances, mas não são os meus favoritos. Com 'O Morro dos Ventos Uivantes' é diferente. Sinto como se algo me atraísse para dentro da história daquelas pessoas. Talvez a realidade de não conseguir viver um amor por causa de como o mundo simplesmente é. É como se eu fosse parte... como se os personagens e eu fossemos...

- Como se eles fossem você, mesmo com partes diferentes? - Nossos olhares se encontram. - Eles estão divididos em uma batalha interna onde não há vencedores, nem perdedores... só há o amor que está ali, porém indisponível para acessar. - Assinto, boquiaberta. - Eu penso a mesma coisa.

Foi exatamente o primeiro pensamento que eu tive quando li o livro.

Observamos os olhos um do outro como se estivéssemos em um universo distante, onde só nós dois habitamos em perfeita harmonia. Sem falar nada, nos entendemos. Griffiths sustenta o meu olhar por mais alguns instantes e depois volta a atenção para a sala ao nosso redor.

- Fiquei intrigada quando citou a pintura e a história dela... - Digo, tentando pensar em outra coisa que não os olhos dele.

- Começaremos a pesquisar agora então. - Ele aponta para a parede ao lado - Eu me encarrego de pegar os livros em níveis mais elevados e você, conforme sua intuição, escolhe os outros.

- Feito.

Me dirijo a parede leste da sala, enquanto ele vai para a norte.

- Conte-me, Cordélia, como veio parar em Londres? - Griffiths começa a pegar alguns livros e eu faço o mesmo enquanto conto minha história de forma reduzida.

Não sei como ele sabe que eu não sou daqui, mas admiro as habilidades de dedução.

- Eu nasci e cresci longe daqui, em uma cidade pequena bem depois de Yorkshire. Sempre quis vir para a cidade grande e na primeira oportunidade que tive, fiz minhas malas e parti. - Explico enquanto leio os títulos de alguns livros e vou os separando. - Deixei muitas pessoas no meu passado, mas acredito que não tinha como ser diferente. No mesmo dia que tomei minha decisão, peguei o primeiro voo para Londres, sem olhar para trás.

Conforme conto minha história minha pele arrepia. É difícil voltar no tempo e relembrar tudo o que aconteceu. 

- Lembro-me do desespero de estar fazendo uma coisa tão louca e sozinha, vindo para um lugar sem ninguém, sem nada, tão nova. Não sei como tive coragem.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora