Capítulo 45

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Cordélia

É domingo. Um belo domingo de céu azul, com belas nuvens brancas e fofinhas caminhando pela imensidão iluminada pelo sol brilhante. Um belo dia para deixar tudo para trás. 

Meu ônibus chega, apenas eu entro. Caminho pelo transporte vazio e sentada aguardo a entrada dos outros passageiros.  Uma paz estranha tomando conta de mim, como se este fosse o caminho certo, longe de Griffiths, em direção a outra cidade desconhecida. O pensamento me traz um arrepio na espinha, como se um fio me puxasse para Londres, para Griffiths. Como se este longo fio estivesse criando distância entre nós, mas ainda assim continua inteiro, conectando-me a ele. Sempre.

O ônibus começa a sair da rodoviária e em um impulso decido ligar o celular, ignorando aquele puxão uma última vez - apenas para avisar Vivi sobre qual será o meu destino. Me arrependo assim que vejo as dezenas de chamadas perdidas e mensagens de voz de Sr. Griffiths. Meu coração contorce e aqueles lindos olhos azuis voltam a memória arrancando dor e agonia do fundo do meu peito. 

Ah, Griffiths... o que eu daria para nunca ter visto aquela mulher ao seu lado? O que eu daria para nunca ter saído de perto de você? O que eu daria para clicar em um dos seus recados e escutar sua voz acalentadora no meu ouvido? Com lágrimas nos olhos, mando uma mensagem para Vivi e desligo novamente o celular. 

Ao passar por Londres, não consigo desviar meu olhar das ruas tentando achar o carro dele ou algum sinal de John. Mas não há nada. Apenas carros e mais carros comuns.

Busco no bolso interno do meu sobretudo a última carta de Griffiths e a seguro. Eu a peguei ainda hoje quando amanhecia e eu e Vivi voltamos ao meu dormitório para fazer minha mala. Ela estava no chão encostada na porta do meu dormitório. Não a abri ainda e não sei se vou. Algo me diz para não abri-la, para não me machucar desta forma. Seria como cutucar uma ferida que ainda sangra.

Observo a carta dobrada em seu envelope, endereçada à universidade, ao meu prédio, ao meu dormitório, com a letra esguia e inclinada de Griffiths. Sinto vontade de rasgá-la e queimá-la para não arriscar querer voltar para ele. Porque Deus sabe o quanto eu quero voltar para Tom, mesmo sabendo que ele obviamente tem outra mulher. 

Seguro a carta com força e respiro fundo. O que preciso agora é deixar mais uma vez tudo para trás, enterrar as lembranças e fingir que não me afetam. No entanto, não consigo despedaçar a carta. Não consigo deixá-lo para sempre, expulsá-lo de mim, não estou pronta para isso e não sei se realmente quero. É um pensamento estúpido, eu sei, mas o máximo que eu consigo fazer no momento é fugir. 

Não quero deixar Tom, nem parar de amá-lo, por mais que ele tenha sido quem mais me machucou. E esse desejo não tem motivo. Não existe razão nos sentimentos, eles são apenas sentimentos... e eu sinto que não devo destruir a carta. Sinto que devo ter a letra dele, o cheiro dele no papel comigo enquanto puder. Guardar esse pedaço de papel até que a memória do meu grande amor de olhos azuis não doa tanto. 

Guardo a carta no bolso interno do meu sobretudo e a aperto contra meu peito. Ele está comigo, independente de quem ele realmente é longe de mim, do que representa e do que fez comigo. A lembrança do que passamos, mesmo que tenha sido mentira, ficará comigo eu fingirei que foi verdade. De outra forma, não sei como vou aguentar.

Com a última carta de Griffiths e a sensação dele ao meu lado ainda viva, apoio a cabeça na janela e escutando minhas músicas favoritas, observo Londres ficar cada vez mais para trás.

O caminho, assim como as paisagens da Inglaterra, me deixam em inércia. 

Observo o mundo lá fora e me sinto uma desconhecida. Ninguém. Ser ninguém significa que eu posso fazer o que quiser, ir para onde quiser sem me preocupar com nada. Eu gosto dessa sensação.

A paisagem adota mais árvores e casas antigas do que prédios. A estrada lisa nas rodas do ônibus um deleite. Depois das árvores e vilarejos, chegam os campos verdinhos, tão extensos que não consigo ver onde terminam. 

Pego um livro para ler enquanto o mundo me ignora do lado de fora deste transporte. No tempo suspenso do caminho de uma viagem. Aqui, sem ninguém me conhecer, com ninguém para reparar em mim, sou apenas uma espectadora da vida e pela primeira vez em dias me sinto aliviada e consigo sorrir com a paz que a estrada me traz.


<3


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Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora