Em frente à janela, me espremo para tentar tomar uma última brecha de sol que custa para atravessar as grossas nuvens de Londres. Eu faço o possível para aproveitar a sensação quando tenho a oportunidade.
Depois da noite em que eu e Griffiths fomos ao Serpentine estou sendo mais leve comigo mesma. Ele é experiente, mais velho, sábio e parece não se incomodar com meus sentimentos intensos e confusos.
Faz quatro dias desde que ele acordou do meu lado e passamos a manhã nos beijando em minha cama. Apenas nos beijando, nada mais. Eu não pude deixar de me perguntar porque ele não tentou nada mais até agora. Não é como se não tivéssemos oportunidade. Talvez ele queira ter certeza antes? Não me parece algo muito característico de homens, mas...
Naquela manhã as coisas começaram a esquentar. Nenhum de nós voltou a dormir. Senhor Griffiths me beijava com tanta vontade, me mordia com tanto afinco e me apertava tão forte que me faltava o ar, mas eu gostava. Logo sua mão começou a subir pela minha coxa devagar, tão devagar... eu estava completamente pronta para recebê-lo, então seu celular vibrou. Sem tirar as mãos de mim ele olhou o nome na tela do aparelho e disse que precisava atender. Me pediu perdão, me deu mais um beijo e depois saiu do quarto em direção a sala. Para deixá-lo mais à vontade fui tomar um banho. Quando terminei, não encontrei mais senhor Griffiths, apenas um recado em cima da bancada que divide a minha cozinha do resto da casa.
"Cordélia,
Desculpe sair dessa forma. Tive uma emergência.
Em breve continuaremos o que estávamos fazendo.
T."
No dia seguinte enviei outra carta para ele e desde então não nos falamos.
Assim que o sol me deixa apenas com as sombras na janela, saio a procura de algum lugar para comer. Não é como se existissem muitos, já que culinária não é o forte dos britânicos.
Uma das coisas que eu menos gosto em Londres é o fato de batatas, feijão, peixe e scones estarem sempre envolvidos em qualquer prato. Uma lasanha de queijo? Simples, fácil. Então porque colocar batatas no meio? Não me surpreende eu ter emagrecido tanto de dois anos para cá.
Sentada como uma criança esperando os pais na mesa de madeira de um restaurante pequeno, eu cutuco com a pontinha do garfo a minha lasanha com batatas tentando me convencer a comer. Uma senhora de cabelos brancos não para de me encarar desde que eu me sentei aqui. Ela não me direciona um olhar frio, é mais curioso, no entanto me incomoda.
- Eu me pergunto quais são as chances, Cordélia... - Alguém fala próximo às minhas costas. Não tenho certeza se quero responder, mas a voz soa levemente familiar.
- Oi? - Respondo, me viro devagar e depois direciono o rosto para cima. Quando encaro aqueles olhos verdes meu coração pula. Levanto apressada da cadeira já passando meus braços ao redor do homem que não via a tanto tempo. - Drevon!? Oh, meu Deus! Quanto tempo!
- Espero que tenha sentido minha falta, porque eu senti muito a sua. - Ele me diz. Escutar a voz de Drevon e olhar para ele me traz sensação de casa. Deus, como eu senti falta dele.
- O que está fazendo aqui? - Pergunto, agora encostada em seu peito largo com meus braços ao redor do seu corpo. Drevon é um antigo... era um antigo algo mais que um amigo, mas ainda assim um bom e grande amigo.
- Não sei. Apenas quis vir. - Ele explica. - Estava passando e te vi entediada lendo esse livro gigante e pensei "porque não resgatar ela desse martírio?". Posso me sentar? - Ele pergunta e, conforme fala, noto que a voz dele está mais grave do que eu me lembrava.
- Não, por favor, fique em pé. - Respondo e me afasto dele. Sentamos um ao lado do outro.
Como se tivesse um imã, a mão de Drevon vai para a minha coxa e descansa ali. Não é um toque íntimo com segundas intenções, é um toque de posse. Ele deixa a mão ali porque pode, porque é como se fosse a coxa dele e não a minha. Com Drevon sempre foi assim, ele nunca coloca fim em nada. Para ele, tudo é um capítulo de um livro interminável em que a constante é o que ele decide da relação. Se já estivemos juntos, bom, então ainda estamos. Eu sempre estive bem com isso, mas agora, com o senhor Griffiths, o cenário muda.
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Com amor, Cordélia (Daddy!)
RomanceCordélia foge do passado perigoso para a cidade grande e conhece um bilionário vinte anos mais velho que ela. O relacionamento dos dois é intenso desde o começo, mas tudo parece conspirar contra o final feliz do casal. A relação é ameaçada por segr...