Gentle Invitation

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 Harry se levantou com um sobressalto no meio da madrugada. Tinha sido acordado várias vezes pela tempestade do lado de fora, açoitando as calçadas e janelas da miúda Rua dos Alfeneiros, mas agora fora diferente – sua cicatriz queimava na testa e sob a palma de sua mão, seu coração batia a mil e sua cabeça parecia prestes a explodir.

O que tinha o acordado, afinal? Os detalhes lhe escapavam quando tentava se lembrar. Um velho em uma casa abandonada... Rabicho e... E Lorde Voldemort...

Não tinha o visto claramente. Óbvio que não, ninguém o via em carne e ossos há quase catorze anos. Mas ele tinha o sentido, tinha o ouvido, e agora sua cicatriz parecia querer rachar a cabeça em duas partes sem explicação alguma. Quem poderia explicar? Quem estaria disposto a ouví-lo àquela hora da madrugada sobre um maldito sonho?

Só um nome lhe veio à mente. Sirius.

Harry se levantou aos tropeços – sua cabeça ainda doía, merda, como doía – e correu atrás dos pergaminhos e do único tinteiro bom que ainda lhe restava no assoalho solto do quarto na casa dos Dursleys. Conseguiu rabiscar algo no pergaminho às pressas, agarrando-se aos detalhes do sonho – não tinha ideia de onde era, mas tinha certeza de que tinha visto Rabicho e ouvido o próprio Lorde Voldemort debater planos sobre o Ministério da Magia e a Copa de Quadribol, além da morte de uma tal de Berta Jorkins.

Harry conseguiu enviar a carta pelo belíssimo pássaro colorido e africano com o qual Sirius tinha lhe enviado a última, confiando que ele o encontraria cedo o suficiente, bem antes dos Dursleys começarem a acordar, na aurora cada vez mais tardia do começo de Agosto. Suspirou pesadamente e desceu, nem se preocupando em tirar os trapos que o entregavam e chamavam de "pijamas".

Desde a volta de Duda do primeiro ano letivo na Smeltings, a vida dos Dursleys tinha virado de cabeça para baixo: foram convocados para uma reunião sobre o péssimo comportamento e hábitos alimentares de Duda. Depois de muito chorar, mentir ("Duda não machucaria uma mosca!" tinha dito a tia Petúnia, lívida e chorosa no desespero do momento quando o diretor finalmente delatou os casos de bullying) e querer ignorar as recomendações do décimo terceiro especialista agora, foram convencidos pelos membros do Conselho Tutelar a adaptar a dieta de Duda, ou eles os forçariam a fazê-lo. Portanto, aqui estavam todos os quatro, no café da manhã, comendo um quarto de uma toranja cada.

O lado bom de tudo isso era que Harry não tinha mais que cozinhar e a louça tinha diminuído consideravelmente, junto com todo o estoque das coisas que Duda gostava: hambúrgueres, pastéis, doces, refrigerantes e tudo o mais que tinha o levado a seus quase 100 quilos agora. O lado ruim é que ele tinha que ser incluído na dieta e se contentar com um quarto pequeno demais para ser um quarto de uma toranja enquanto sabia que Duda não estava acompanhando dieta alguma – conseguia sentir os cheiros das porcarias que ele escondia no quarto a quilômetros de distância.

Todas as refeições eram silenciosas. Tinham se cansado de reclamar, uma vez que perceberam que não faria diferença alguma. Finalmente algo nessa casa que Harry poderia aproveitar! Uma refeição em silêncio já parecia um milagre divino!

Ainda assim, o silêncio só o deixava com mais saudade de Hogwarts, de todos os almoços com os amigos e as conversas e as risadas... E a comida, claro. E já não era novidade que sentia falta de Draco.

Desde o fim do ano, quando Draco o convidou para a final da Copa de Quadribol e se despediu dele com um beijo no rosto – senhor Jesus Cristo, aquilo tinha mexido com Harry de um jeito inexplicável – ficava cada vez mais difícil não pensar nele. Parecia um carinho muito maior agora, embora Harry tivesse se proibido terminantemente de pensar no assunto.

When I First Met YouOnde histórias criam vida. Descubra agora