Midsummer Season

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 Enquanto os Dursleys assistiam o noticiário, comentando em vozes altas sobre as desgraças que rolavam nas vidas alheias, Harry ouviu as piores notícias embaixo do guarda-corpo da janela.

Foi tremenda a sua sorte de não ter crescido o suficiente nesse verão para não poder mais se esconder atrás das begônias imundas de tia Petúnia, como fazia quando era criança e Duda o acusava dos maiores absurdos. Pelo menos dali ele sentia o perfume das roseiras e dos lírios, que ironicamente deviam ser os mais bem-cuidados de toda Little Whinging.

Uma celebridade engravidou do marido ordinário... Um homem ganhou a loteria pela segunda vez consecutiva... Um canadense da Ilha do Príncipe ganhou uma competição de maior pato inflável da América do Norte... E agora a previsão do clima. Harry suspirou de alívio. Esperava não precisar suportar dias em que os jornais trouxas comentariam com grande pesar os frutos do retorno de Voldemort e ele não poderia correr ao socorro de ninguém... Ou não ter ninguém a correr ao seu socorro.

Ainda assim, era um alívio não ter nada de interessante para ouvir no jornal. Tia Petúnia bufou do lado de dentro e se levantou para retornar ao seu quarto e terminar um bordado com suas miçangas penduradas nos fios e tio Válter abriu um dos livros que mal lia. Duda não estava em casa – isso virou uma ocorrência cada vez mais comum.

Tia Petúnia acreditava firmemente que o filho estava na casa dos amigos do clube de boxe da cada vez mais aborrecida Smeltings, tomando chá, mas isso só seria verdade se tardes tomando chá envolvessem derrubar crianças de seus balanços e assaltar a criançada do fundamental. Harry pulou por cima da cerca da casa dos Dursleys, torcendo para que nenhum dos vizinhos decidisse espiar a rua naquele momento, e permitiu-se vagar até o encontro da 5ª com a Magnolia Street.

Na última vez que Harry fugiu para lá, ele se sentou no meio fio com as malas feitas, viu Padfoot e foi surpreendido – em todos os sentidos – pelo Nôitibus Andante. Agora, ele andou até o parque abandonado, sob a ameaça do chuvisco frio que fazia das madrugadas céleres uma terapia sensorial, e se sentou em um dos balanços sujos, enferrujados, e maltrapilhos.

Isolado e sem notícias, o próprio Harry se sentia enferrujado e tratado como um maltrapilho.

Recebia cartas – principalmente de Draco, lindas cartas de páginas e mais páginas com fotos, recortes, flores secas em embrulhos e beijos desenhados de tinta – mas nenhuma informação relevante como onde estavam, o que estavam fazendo, se tinham alguma notícia de alguém fora de seu pequeno círculo. Imaginar que todos estavam tão isolados quanto Harry não era, exatamente, reconfortante.

Seus devaneios foram interrompidos quando Duda e a gangue surgiram nos becos de London Avenue. Um garotinho com metade do tamanho deles entregava a carteira a um dos grandões e saía correndo, chorando por sua mãe, e toda a gangue ria como um bando de idiotas. Todos eram igualmente maus, mas como Duda era o maior e o mais burro, era o líder deles.

– E aí, Dudão! Batendo em mais um menino de dez anos?

A gangue toda olhou para Harry de uma vez só. Apesar de mais alto, ele continuava magricela, então sua única verdadeira ameaça era a carranca e a agudeza das palavras más – desconsiderando, claro, a varinha que sempre andava em seu bolso, da qual só Duda sabia a existência.

Depois de um tempinho em silêncio, Duda abriu um sorriso de valentão.

– Aquele lá mereceu.

E toda a gangue riu, parecendo um amontoado de porcos asmáticos e vestidos. Harry não revirou os olhos, não debateu, mas não se fez o esforço de esconder o desagrado.

– É, brigar com gente do seu tamanho realmente perde a graça quando todos são mais espertos que você – Harry alfinetou, e a gangue parou de rir; os outros seis só assistiram enquanto Duda ficava cara-a-cara com o relutante primo.

When I First Met YouOnde histórias criam vida. Descubra agora