Com a chuva intensa lá fora, Harry sequer ouvia o que seus amigos – e seu noivo – discutiam no cômodo ao lado. Estava, na verdade, imensamente distraído com o pomo de ouro que Dumbledore lhe deixara no testamento.
As vozes mudavam de tom para dizer coisas além de sua compreensão, e deitado em uma cama abandonada por alguém, tudo que ele fazia era soltar o pomo, apanhar o pomo, soltar o pomo, apanhar o pomo... Perguntando-se o que ele poderia significar, afinal.
Todas as outras heranças do diretor tinham apresentado algum significado maior. O livro de contos de Draco falava sobre as Relíquias da Morte, a flecha (se fosse a verdadeira) serviria para a destruição das horcruxes que eles achassem, e o Desiluminador do Blaise, até o momento, fora o mais útil das quatro...
E o que é que essa porcaria de pomo fazia?!
Em um momento de frustração, Harry perdeu o embalo do pomo e deu-lhe um tapa ao invés de apanhá-lo, derrubando-o no chão com uma asa danificada. Ele bufou, abaixando-se para tirar a coisa do chão; se bem que era típico de Dumbledore, realmente, fazer uma piada do seu testamento...
Mas Harry encarou o pomo estragado, aberto no chão como uma noz recheada, e com todo o cuidado possível, retirou a jóia reluzente de dentro dele.
Não era uma coisa volumosa ou extravagante – só uma pequena pedra vermelha, que cabia sem problema em sua mão, mas brilhando como nova em folha. Harry encarou-a por um bom tempo, observou-a contra a luz, e só se tocou que havia mais alguém no cômodo com ele quando ouviu um pigarreio da garganta.
Olhou para a frente. Era o professor Dumbledore.
– Vejo que finalmente descobriu o que eu guardei para você, hm?
Harry quase derrubou a pedra das suas mãos – ao invés disso, segurou-a com ainda mais força. Encarou o professor Dumbledore à sua frente, sem falar nada. Diz-se, ele sabia que não era realmente o professor, não poderia ser, mas parecia tão...
– Parece tão real, não parece? Esse foi o erro de Cadmus Peverell – Dumbledore comentou, apontando para a pedra na mão dele. – Um desejo dele à própria Morte criou essa pedra que você está segurando. Ele transformou as coisas que mais nos fazem humanos em uma arma de decepção e chantagem, Harry. Tome cuidado com ela.
Um desejo à Morte? Agora, onde foi que ele ouviu isso...?
– Cadmus Peverell... Era o segundo irmão?
– Garoto esperto – Dumbledore elogiou, com seu sorriso de velho sabichão, e Harry sentiu os cantos dos olhos se encherem de lágrimas. – Você sabe como a parte dele termina. Sabe como a Pedra da Ressurreição é perigosa. Parece real, mas não é.
Harry só acenou.
– Eu não estou realmente aqui, Harry.
– Eu sei que não, professor.
– Que bom que sabe.
Harry engoliu o choro e soltou a Pedra, deixando-a ao seu lado no chão. A imagem do professor Dumbledore sumiu, e Harry respirou fundo, muito fundo, algumas vezes. Sabia que isso não era verdade – Cadmus Peverell se enforcou com a noiva porque tentou trazê-la de volta dos mortos com a Pedra – mas... Mas...
Mas Harry deu-se o direito de ser fraco, só uma vez, sozinho em um quarto abandonado por uma família refugiada da guerra que ele causou. Ele tornou a segurar a pedra e fechou os olhos, mentalizando um rosto. Ele ergueu os olhos e uma única lágrima escorreu por seu rosto.
A imagem de Lily Potter era fosca, como uma pintura pegando mofo, mas ela estava ali e estava linda, com os cabelos ruivos como cascatas sobre os ombros e os olhos verdes como duas esmeraldas que Harry tanto admirava – sempre foram mais dela do que dele próprio, mesmo. Lily sorriu para Harry como só uma mãe faria e ele apertou a Pedra nas mãos.
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When I First Met You
Fanfiction"Todos nós já fizemos escolhas que interferiram nas nossas vidas... Mas e se tivéssemos deixado o destino decidir por nós? Harry Potter, um bravo herói da Grifinória, foi vítima de sua própria interferência na escolha das casas, ainda em seu primeir...