Capítulo 8

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Dias atuais - Will

Nada na vida o prepara para o pânico, nada te prepara para o desespero e agonia. Nunca irei saber se foram suas palavras, se foi seu corpo, ou a fumaça que já preenche meus pulmões me causando tosses, mas eu sei que preferia estar morto, nesse exato instante eu preferia morrer do que encarar a menina a minha frente, presa como um cão por minha causa.

– Acaba logo com isso - sua voz é tão triste ao tentar decifrar pela escuridão minha silhueta- Me mate, por favor- sinto meu coração a esfacelar- Pro seu próprio bem, pois se algum dia eu sair daqui vou cortar cada membro do seu corpo - sua voz ainda é a mesma, a porra daquela voz aveludada que da a sensação de um doce, mas seu rosto é diferente.

Agora ela não era mais uma menina, seu tamanho ainda permanece igual, me dando a nostalgia de quando seu corpo batia em meu queixo, mas só isso ainda se mantinha igual. Seus cabelos agora não tinham mais tons de vermelho, apenas laranja, como se a tinta houvesse desbotado com o tempo e essa foi a cor que restou.

Os traços em seu rosto agora são marcados, a boca havia aumentado, as maçãs eram mais rosas e a sobrancelha não mais em tons de laranja e sim de castanho, meus olhos descem pelo seu corpo e engulo em seco, ela nunca foi pequena seu corpo sempre foi maior que os das demais.

Mas agora tenho certeza que seria maior do que o de qualquer uma da nossa antiga escola, seus seios são tão grandes que não encaixariam mais em minhas mãos como antes, a fina blusa preta da a visão ao decote e o suor que escorre de seu pescoço ao colo de seu peito.
*será que ela consegue sentir o calor da fumaça dali?*

Minha atenção foi a sua barriga, não mais chapada, agora um pouco maior fazendo ela ter dois pequenos gominhos por estar de joelhos e com a curvatura largada.
*ela era, meus Deus, minha Arabella havia se transformado em uma completa mulher*

Respiro fundo,  tirando todo o ar que conseguia, inalando uma mistura de cheiro de sangue e fumaça, meu pé direito se move primeiro e com dificuldade movo o esquerdo, os passos são pesados e lentos, sentindo o peso do mundo inteiro em meus ombros a cada vez que chego mais perto de seu corpo.

Paro a menos de dois metro de sua frente, mas ainda protegido pela escuridão, me agacho para tentar ficar de seu tamanho e inclino apenas o tronco.

Meu rosto sente o calor da iluminação mesmo por debaixo da máscara.

– Esse truque parou de doer a muito tempo - ela cospe na testa de minha máscara *Ele fingia que era eu?*.

Antes que pudesse abrir a boca o som estridente de uma lâmina sendo arrastada pelo chão me atordoa, a cada instante ficando mais alto, o agudo preenchendo mais minha audição, o medo não precisou percorrer pelo meu corpo, eu sabia quem está a arrastar essa espada, seu corpo para ao meu lado, pois a respiração pesada e ofegante vinha acima de mim.

Com delicadeza para que ela não se assuste ou recue levo minha mão direita ao queixo da máscara e a levanto com calma, sentindo a luz iluminar meu queixo, depois a boca, as maçãs do rosto, meus olhos e por fim todo meu corpo  ao posicionar a máscara no topo da cabeça.

– Oie garotinha - não consigo esconder o sorriso ao sentir o alívio de poder dizer essas palavras novamente.

Por outro lado alívio foi a última coisa que passou em seu rosto, seu tom de pele claro piorou, seus lábios perderam a cor e seu corpo tomba ao lado em um desmaio

- Merda, merda, merda - puxo seu corpo para o meu colo e forço a barra de metal em seu pescoço na intenção de abri-la.

– Não temos muito tempo - a voz de Kai é grave ao se juntar a nós, consigo ver em suas mãos uma pequena chave coberta de sangue - Você vai levá-la até o carro, enquanto vou dando cobertura aos dois - a chave encaixa na lateral da barra de metal, seus dedos a giram causando um barulho enferrujado quando a mesma se soltou, ele a retirou de seu pescoço com força.

Se ele ainda não permanece-se com a máscara conseguiria ver o ódio em seus olhos quando viu a vermelhidão fazendo um colar no pescoço da menor.

– Anda, caralho - sua voz é grave ao se levantar e colocá-la em meu colo.

Aperto seu corpo como se fosse minha vida e sigo Kai pelos corredores, a fumaça já dificultando o trajeto.

Seus olhos se abrem assim que a luz do sol ilumina seu rosto, os olhinhos deslizando pelo céu com fascinação, como se não o visse a muito tempo, ela procura pelo meu rosto novamente, mas ele já esta coberto pela máscara agora.

– Vamos te levar para casa - aperto seu corpo ao meu - Está tudo bem, pode descansar- meu polegar faz círculos em seu braço.

– Corre, Will - a voz de Kai se perde junto ao barulho do primeiro tiro, percorro o local na busca de achar quem está atirando, mais nada - Vai para o carro - sua voz é grave ao se agachar atrás de uma lixeira e disparar um tiro em direção a porta do armazém.

– Kai, vem - grito ao abrir a porta traseira do carro  e deitar Arabella no banco - Porra, Kai - retiro a arma do meu cinto a engatilhando - Vem pro carro - disparo na mesma direção de suas balas, enquanto vou agachado até a lixeira - Para de ser teimoso, porra - dou um tapa em seu pescoço antes do seu corpo se levantar e disparar quatro vezes.

Os tiros adversários param, ele acertou ou assustou o segurança.

– Você se feriu ? - seus olhos vão aos meus braços e faço o mesmo ao vê-lo coberto por sangue - Porra, você foi atingido ? - suas mãos percorrem meu corpo em busca do ferimento, mas não sentia nenhuma dor além do meu pulmão que queima por inalar a fumaça por muito tempo - Porra - seu corpo corre para o carro e chuta a porta com força- Não foi você- o som de sua voz é sombrio ao passar pelo meu corpo e ir caminhando em direção ao armazém novamente.

Corro até o carro vendo Arabella respirar com dificuldade, enquanto as mãos pressionam o sangue que escorre de sua coxa.
*o primeiro tiro havia pego nela, merda, merda, isso não fazia parte do plano.*

Me diz qual ? - ouço o berro de Kai e corro até a porta do armazém onde seu corpo se encontra- Você atirou na minha mulher - um soco é depositado no segurança ao chão. Sua arma jogada longe e sangue jorrando de sua barriga onde provavelmente Kai conseguiu o atingir - Qual foi a mão? - ele se baixa ficando a centímetros do rosto do outro moreno- Qual foi a mão que você usou para atirar na minha mulher? - sua voz é diabólica.

O rapaz levanta com dificuldade a mão direita, o medo dominando sua expressão facial.

– Bom garoto - Kai retira uma faca de seu bolso e pressiona a mão do rapaz ao chão, a ponta dela vai ao mindinho gravando com força, o barulho da lâmina encontrando o osso fez a minha bile subir.

– Você está louco - berro ao ver o mindinho rolar pelo chão quando a faca foi deitada - Você está pior do que o Damon, porra - empurro seu corpo que cai ao chão - O torturar não vai lhe fazer um homem- o levanto pelo colarinho - Levar aquela garota para casa que vai lhe fazer um homem - o empurro em direção ao carro e ele nem contesta, apenas começa a caminhar em direção ao carro como uma criança que sabe que aprontou.

Pego o celular do meu bolso e mando o "ok" aos capangas de Michael para virem recolher os corpos garantindo que ninguém morra e eles não sejam descobertos, por estarem em sua hora de almoço no momento do ataque.

– Você é fraco - sua voz é grave ao apertar a maçaneta da porta de motorista e me olhar por cima do carro - Sua ética e moral está acima de tudo, mas para mim - seus olhos percorrem meu rosto - Não existe nada acima dela - seus olhos caem a baixo apontando para a menina deitada ao abrir porta do carro com força e imito seus movimentos em silêncio, minha ética realmente é acima de muitas coisas nesses últimos cinco anos, me tornei uma pessoa melhor, alguém mais centrado, cauteloso.

Minha cabeça deseja pensar, meu corpo quer descansar, mas assim que minhas mãos tocam na poltrona traseira coberta de sangue me dou conta, isso é um pesadelo e não haveria descanso tão cedo.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora