Capítulo 28

2.1K 187 109
                                    

Dias atuais - Arabella

Recomendado que ouça a música a partir de agora

Deixo a água quente escorrer lentamente pelas minhas costas, sentindo os pelos se arrepiarem, tombo minha cabeça deixando o jato fervente aquecer meu rosto. O cheiro de bolo invade minha narina e sinto uma lágrima a se dissipar com a água, minha mente volta a três anos atrás quando o calor da minha terra preenchia meu corpo junto a areia da praia, quando meus pés entravam em casa sujando todos os cômodos apenas para comer mais um pedaço do bolo da minha mãe.
*Eu sinto tanto sua falta*

Eu gostaria de fugir, sair desta casa, dessa cidade e nunca mais olhar para trás, mas a quem posso enganar eu não tenho para onde ir, não tenho como me proteger e nem mesmo tenho dinheiro para isso. Conforme o cheiro vai aumentando sinto meu peito a inchar, minha garganta a fechar, o desespero a me invadir.

Desligo o chuveiro e pego a muleta para me apoiar e conseguir sair do banheiro.

O frio do quarto arrepia meu corpo e me encolho mais na toalha caminhando até o armário planejado e o abro com calma vendo as incontáveis roupas femininas *De quem é esse quarto?* passo os dedos com velocidade pelas peças até achar um vestido, seu tecido é leve, então fácil de colocar sozinha.

Pulo até a cama e me sento na tentativa de ter mais apoio para colocá-lo, assim que o tecido verde escuro cai pelo meu corpo me levanto e crio coragem para sair desse quarto.

A casa se encontra em silêncio, como se ninguém estivesse aqui o que era estranho visto que hoje pela manhã ouvi o choro de uma criança. Me fixo mas a muleta e passo pelo corredor que creio ser dos quartos, chegando a uma sala oval gigantesca, o lustre enorme de vidro pendurado ao meio, os quadros famosos expostos nas quatro paredes, meus olhos passeaiam quase pensando em sorrir, isso é literalmente aqueles salões de festa dos filmes.

Eu gostaria de dançar aqui, céus como eu queria voltar no tempo e ter a chance de ser chamada para dançar aqui.

– Não precisa ficar usando isso ? - sua voz invade meus ouvidos e sinto meu peito a se contrair ao lembrar de suas palavras ontem no carro - Eu posso te levar para onde quiser - seu corpo sai de trás da pilastra, a calça jeans e a regata preta revelando suas inúmeras tatuagens nos braços, mistura de palavras e desenhos.

– Deve ser pesado levar um cachão para todos os lugares - desvio de seus olhos, observando as obras - Afinal para você já devo estar morta mesmo, quando é minha missa de sétimo dia, Will? - o encaro furiosa.

– Foi no dia 20 de novembro- sua voz é grave ao recosta as costa na pilastra- Bom, seu pais não estavam na cidade, ninguém fez nada, então eu decidi fazer sozinho- seus olhos me encaram a mais de cinco metros - Eu levei sushi até o parque do Cove a meia noite e comi em nosso quarto - sinto minha barriga a roncar *quando foi a última vez que eu comi?* - Vi uma vez em seu Instagram que gostava, achei que seria legal- sua voz ainda era tão familiar.

– Sua história triste não irá me comover, Will? - sinto minha perna doer de ficar na mesma posição.

– Minha história só é triste por sua causa, Arabella - seus olhos ainda tão tranquilos em mim - Minha vida era perfeita- não controlo o riso.

– Perfeita? - gargalho - Você era o capacho dos três, sempre se metia em brigas, enchia o cu de drogas, não frequentava a escola, você não tinha futuro nenhum - minha voz sai debochada.

– A santa - seu corpo se desencosta da pilastra ficando ereto - Se eu sou tão errado assim com quem se meteu para precisar ter que fugir? Quem era perigoso para sua família?- seu tom de voz aumenta.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora