Capítulo 26

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Dias atuais - Arabella

Recomendado que a música coloque a partir de agora

Ninguém me vê, eu já esbarrei com diversas pessoas, eu sou quem você encontrou na fila do supermercado, sou sua colega de infância que a adolescência separou, o colega de trabalho que despreza por ser chato, eu sou pura dor, eu sou o acumulado de vezes em que uma sociedade conseguiu oprimir uma mulher, eu sou uma sobrevivente, eu sou quem vive com medo e angústia.

Eu sou o que ninguém vê, o que ninguém percebe, eu sou suja, mentirosa, uma traidora, então me diga, grite em minha cara o motivo deles ainda estarem aqui, arriscando a vida por mim?

Meus olhos percorrem o carro com tanta dor, a concentração de Kai na estrada, os olhos de Will a observar a paisagem, nada além de dor inunda essa carro, três almas quebradas dividindo o mesmo espaço.

Luto contra as lágrimas que tentam escorrer, quando deixamos de ser felizes? Quando a vida fica complicada demais para se apreciar os bons momentos? Quando a tristeza se tornou nossa melhor amiga?

– Isso não é uma boa ideia- minha voz quebra o silêncio interminável, os olhos de Kai me encaram pelo retrovisor, mas o corpo de Will nem se mexe no banco a minha frente.

– Nada disso é uma boa ideia - a voz do moreno tatuado recostado a janela me invade, um som tão famíliar, mas ao mesmo tempo tão estranho.

– Sua noiva estará lá- minhas palavras rolam, mas seu corpo ainda nem se dá ao trabalho de se virar para mim - Os meninos estarão lá, isso não é uma boa ideia- coço a cabeça, sentindo os cachos abertos e nada definidos desde o meu último banho onde nem tive a chance de passar um creme nos fios.

– Você nunca ligou para a opinião de Michael e Damon - a voz de Kai ainda é rouca, mas agora muito mais masculina do que o menino que conheci - Você só está com medo do quanto Damon vai latir na sua cara como foi uma puta - suas palavras nem tentam me consolar, um filho da puta que não aguenta ter o coração quebrado, mas quem sou eu para dizer algo, no exato momento que senti isso, que senti meu coração se quebrando fugi para o mais longe possível.

– Vocês não reclamavam quando era puta o suficiente para satisfazê-los - minha voz sai mais alta - Pelo o que lembro, foram vocês que me ensinaram a ser uma - dou uma pausa como se estivesse a pensar- Nossa putinha - imito o tom de voz grosso deles.

– Olha só- o corpo de Will se vira com força no banco, me encarando com os olhos em chamas - Eu não tenho tempo para suas brincadeiras - ele berra em meu rosto - Minha mulher está a menos de cinco minutos daqui, eu não tenho tempo para suas esterias - sua voz é descontrolada- Eu tenho que pensar- suas mãos vão ao cabelo o puxando com força- VOCÊ PODE CALAR A PORRA DA SUA BOCA PARA EU PENSAR CARALHO - seu berro treme o carro e é inevitável não me encolher, esse não é meu Will, eu nunca o vi tão desesperado.

– Will ? - a voz de Kai é grave.

– Não Kai - seus olhos vão ao moreno - Ela fodeu nossas vidas, ela fodeu minha mente, a consumiu como uma praga, fica o tempo todo aqui - seus dedos batem em sua cabeça- Nem a cocaina é tão viciante assim - os ombros do moreno caem, ele nunca foi santo, mas não sabia que chegou ao ponto de usar  isso com frequência - Só que ela estava morta, MORTA- sua voz berra - Aí aparece do nada - o desespero começa a alterar até a cor de seu rosto que agora fica mais vermelho - Eu tenho uma vida, eu construí uma vida, eu vou me casar - ele berra em minha cara a última frase fazendo meu coração se partir ao meio, eu já havia aceitado o fato que nunca ficaríamos juntos, que nenhum de nós três teríamos uma história de amor. Mas machuca tanto ter isso estampado a minha frente- E agora o que eu faço? - seus olhos caem a mim, a dor quase paupável - Eu preferia quando estava morta - assim que a frase sai de sua boca as lágrimas rolam sem controle, quando me tornei tão dispensável em sua vida ?

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora