Capítulo 9

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Cinco anos atrás - Arabella

A brisa do mar gélida entra pela pequena fresta aberta da janela e abraço meus braços com força na fula tentativa de me esquentar. Círculo o carro com o olhar, o caminho está sendo feito em completo silêncio, Will concentrado na estrada a sua frente e Kai a digitar em seu celular sem parar, não consigo controlar a curiosidade e serro os olhos tentando ler.

"Não vou poder cara, eu e Will temos compromisso"

"Vai se foder, Kai. Não temos segredos um com o outro"

"Amanhã depois da escola passamos o dia todo juntos, prometo Michael. Mas hoje eu e o Will temos compromisso"

Seus olhos vão de canto me encarando com seriedade e desvio com rapidez para o olhar para janela. *minha casa já está chegando, o que eles fariam depois?"

À curiosidade começa a dominar meu ser.

– Sua casa fica para qual lado? - a voz de Will me acorda e balanço a cabeça antes de o responder.

– A esquerda - digo calmamente me inclinando no banco - A terceira casa do lado direito - a brisa entra novamente pela fresta e espirro pelo frio - É a única casa com flores no quintal - a chuva só aumenta no lado de fora e uma parte minha agradece pela carona, mas a outra se encontra extremamente irritada com a prepotência desses riquinhos.

– É uma linda casa - a voz de Kai  invade meu campo ao seu corpo se encostar em meu ombro, analisando cada detalhe da minha casa e foi inevitável não avaliar com ele, a grama bem cortada, as rosas da mamãe inundado a frente da varanda, era uma casa simples do vilarejo pobre de Thunder Bay.

– Não é legal zombar de uma casa simples só pela sua ser enorme - puxo a saia para baixo tentando esconder a vergonha, não de ser pobre, longe disse, mas já me encontro nesse país a dois anos a mudar de cidade em cidade pelo emprego do meu pai e nesse tempo nunca ninguém do meu convívio escolar esteve tão perto de quem eu sou, de como vivo. Vê-los enfrente a minha casa se torna estranho, como se uma parte minha desconhecida dos outros pertecem a eles agora.

– Não estou a zombar de nada - sua voz é grave em minha lateral- Lembra a casa da minha vó no Japão, eu amava ir lá quando era criança - sua voz é suave ao analisar a estrutura da casa com atenção, como se estivesse a grave cada centímetro dela.

– Nem todas as pessoas estão a zombar de você quando fazem um elogio- a voz de Will é grave ao finalmente desligar o carro - Aposta que seu quarto é aquele - seu dedo aponta para a janela com a cortina de renda branca, onde realmente é meu quarto.

Reviro os os olhos, isso é um tipo de brincadeira doentia deles com os seus outros amigos? Todas as garotas da escola querem estar com eles entre as pernas, mas não, ao invés de estarem transando eles estão aqui querendo me dar lição de moral *me poupe*

Abro a porta do carro com força ao puxar minha mochila para o ombro, assim que meu corpo sai debaixo da lataria a chuva me toca com dureza e o frio que sentia antes piora mil vezes.

– Nem um obrigado ? - Will grita do volante

– Não vou agradecer por ser forçada a entrar no seu maldito carro - cuspo as palavras - Ao menos sejam gentis com a próxima que tentarem assustar - lanço o dedo do meio para os dois - Riquinhos de merda - grito antes de me virar e correr para casa.

Abro a porta com força e ao fechar encosto minhas costas nela soltando todo o ar que estava prendendo, a presença deles me causa muito mais nervosismo do que gostaria de admitir.

– Quem lhe trouxe, meu amor? - mamãe entra na sala com seu avental sujo de farinha e o cheiro do bolo de chocolate invade minhas narinas, isso é estar em casa.

– Uns amigos da escola - minto, ela iria pirar se soubesse tudo o que passava desta porta para fora, ela já havia sofrido de mais com a morte do meu avô recentemente para lidar com os dramas de uma jovem tentando se acostumar a nova cidade.

– Que bom que está fazendo amigos, deve os chamar para jantar- sua voz é animada, ela sofreu com a ideia de me tirar do Brasil e me jogar em um outro lugar apenas pela promoção do meu pai. Mas ser pobre nos Estados Unidos é completamente diferente de ser pobre no Brasil, não os julgo, teria feito o mesmo se a decisão fosse minha.

– Um dia mamãe- sorrio ao tirar as sapatilhas- Vou para o quarto, me avise quando estiver pronto o bolo, desço para comer com a senhora- seu sorriso contagia a casa e o corpo moreno se vira indo para a cozinha novamente.

                           """""""""""""""""
Fecho o armário com calma, a luz do sol havia ido embora á horas dando espaço a escuridão da cidade. Grito um boa noite aos meus pais pela última vez ao guardar a escova de dente e fechar a porta do banheiro.

Caminho pelo corredor até chegar ao meu quarto no fim do mesmo, mas uma brisa corre por minhas pernas e me viro vendo a janela aberta. *meu pai não aprende, sempre deixando isso aberto*

Vou a seu encontro a puxando para baixo, meus olhos percorrem a rua e tudo é calmo, a maioria das casas já com todas as luzes apagadas e outras com pequenos cômodos ligados, passo pelo asfalto vendo os carros já conhecidos até que paro em um diferente, ele é com toda certeza muito caro para estar nesse bairro, não que conseguisse saber qual marca ele é, isso literalmente nunca foi de meu interesse.

Mas é um carro deslumbrante demais para está nesta região da cidade. Solto um suspiro ao fechar a janela caminhando novamente até meu quarto *isso não é problema meu*.

A luz já se encontra desligada e nem me dou ao trabalho de ligá-la, já tenho memorizado o caminho até minha cama, apenas tranco a porta e me jogo com tudo fazendo a cama estremecer, meus dedos tateam a mesinha até achar meu celular e o puxo desbloqueando com a digital.

Rodo por alguns aplicativos até chegar ao Instagram e rolo por alguns segundos até me deparar com uma foto recomendada pelo aplicativo.

{foto no começo do capítulo}
Kai sorri ao olhar para Will que tem o rosto coberto por seu capuz. Eles são próximos, todos são próximos, como se fossem irmãos.

Todos são ricos, de boa família, influentes na cidade, com talento no basquete pelo o que circula no colégio e bonitos. Mas os dois da foto, são diferentes, Damon exala uma beleza quase que diabólica, Michael é o padrão do mundo, não haveria um lugar a qual fosse que não estaria no padrão de beleza.

Só que Will é  diferente, sua beleza é jovem, emana liberdade com sua pele dourada e já com pequenas tatuagens espalhadas pelo braço, os olhos, a boca, tudo nele é convidativo, como uma sentença de morte. Diferente de Kai, sua beleza é única, os traços misturados entre oriental e ocidental, como se houvesse pego o melhor das duas partes. Seu olhar é frio, lhe causando arrepios até a alma quando ele põem os olhos em sua direção, mas os traços de seu rosto são delicados, ele é, magnífico. *Mas idiotas e estranhos, Arabella*

Babacas - xingo ao jogar celular no final da cama, isso não é uma boa ideia, é exatamente isso que eles querem, entrar em sua mente e bagunçar tudo.

– Seus pais não lhe disseram que xingar é feio? - um sussurro sai de algum lugar do quarto e estremeço, sentindo cada pelo do meu corpo se arrepiar e meus olhos se encherem d'água *não não*

Delicadamente levo minha mão direta ao abajur na penteadeira, a luz fraca ilumina menos que meio metro do quarto, mas me fornece visão o suficiente para enxergar dois homens mascarados ao pé da minha cama.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora