Capítulo 40

2K 173 51
                                    

Dias atuais - Arabella

Seus olhos correm pelo meu rosto com raiva e respiro fundo tentando eliminar de minha mente tudo que esses anos me causaram, todas as angústias, sofrimentos, lembranças. Eu paguei todas as minhas penitências por ter ido embora, sofri em silêncio por dois anos no Brasil tentando me reerguer, fingir aos meus pais que estava tudo bem depois daquela noite, tentando acalmar minha mãe em todas as vezes que ela se lembrava de Damon trazendo meu corpo espancado para casa e nos dando dinheiro o suficiente para sumir dali. Eu tentei, eu realmente tentei por dois anos ser normal, viver o resto de minha adolescência sem culpa ou remorso.

Porém o que mais me assusta é que desde o primeiro segundo do meu sequestro até o momento em que seus corpos apareceram para me buscar eu senti que mereci tudo aquilo, foram minhas decisões que nos colocaram em todas essas situações.

Foram minha decisões que fizeram meus pais perderem o emprego, foram as minhas decisões que fizeram Kai e Will espancarem Troy e irem presos, foram meus atos que ocasionaram a morte de Chad, eu só nunca entendi o que minhas decisões teriam haver com meus três anos presa, mas no fundo sempre me senti culpada por isso também.

– Eu não posso, Damon - minha voz sai suave ao colocar as mãos nos olhos por conta da luz do sol que agora é demasiadamente forte.

– Você pode - sua voz é fria - É só ir embora, levantar daí e ir embora - seus olhos percorrem meu rosto.

– E ir para onde? Ir para quem? - meu tom de voz engrossa, eu não tenho para onde ir, não tenho mais documentos, dinheiro, não terminei a faculdade, não tenho emprego, não tenho ninguém para quem voltar, nossa família sempre foi eu, minha mãe e meu pai, não existe avós, tios, primos ao qual possa me agarrar agora.

Estou solta no mundo novamente sem nenhuma base além deles, além de toda essa bagunça que eles chamam de família.

– Você precisa ir embora - sua voz é cortada, como se mais palavras quisessem sair de sua boca - Eles vão te machucar novamente, Bella - seu tom de voz abaixa junto aos seus ombros  - Não somos normais e não quero que se machuque de novo - suas mãos vão aos bolsos.

– Eu já estou machucada - minha voz sai baixa ao encarar a grama - Não me peça para deixá-lo outra vez - volto ao seus olhos.

– E para o seu bem - sua voz  é grave - Vamos eu te ajudo a sumir novamente- seus olhos não expressam qualquer sentimento.

– Você não tem o direito de decidir minha vida, Damon - o encaro brava do chão e o sol da reflexo em seu rosto.

– Sua lealdade é minha desde aquela noite, temos um trato - não existe nenhum sentimento em sua voz além de raiva.

– Minha lealdade ser sua é diferente de lhe deixar decidir minha vida - tento encarar seus olhos, mas o sol e os fios de seu cabelo impedem isso.

– Não é - seus joelhos se dobram me permitindo agora ver seu maxilar cerrado - Eu sei o quanto você sofreu nos primeiros dois anos, não eles, eu que lia suas cartas na prisão, eu que te mandava cartas, não eles - sua voz é grave - Então eu decido quem é bom o suficiente para você ou não

– Não - minha voz sai mais alta - Você tem que parar com isso - minha voz sai mais manhosa do que gostaria - Nenhum cara nunca é suficiente, você lembra do Marcos? Ele era legal, me tratava bem, me fez esquecer toda a dor que deixar os dois me causou, foram os dois meses mais felizes dos meus últimos cinco anos, ele era apenas meu amigo e o deixei por sua causa - tento empurrar seu ombro, mas sua mão me segura.

– Ele queria te usar - sua voz sai autoritária - Fiz o certo em te mandar largar ele - o rouco domina o jardim.

– Céus, Damon - puxo meu braço de seu agarre - Você só o conhecia por minhas cartas - viro o rosto encarando a lápide e não ele - Não deveria ter tido essa ideia idiota de te mandar cartas, você nunca as deu a mesma importância que eu - aperto a grama - Me confortava saber que no final de semana iria poder te contar tudo que fiz e iria saber o que você fez também, quando me contou que estava preso eu achei que poderia ser legal, que sei lá poderia te distrair, te tirar da mente toda aquela merda que rolou entre você e o pai de Winter, te fazer ver que eu estava do seu lado que em nenhum momento acreditei nas mentiras imundas que ele inventou sobre você, pois o conheço, conheço sua alma, muito além de todas as suas ações idiotas na tentativa de afastar tudo e todos de você, mas não, nada nunca é o suficiente para você- o encaro novamente vendo seu corpo sentando agora  ao meu lado.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora