Capítulo 6

2.7K 250 27
                                    

Cinco anos atrás - Arabella

Sempre acreditei que o sofrimento é inevitável, a vida passa em uma constância de ciclos intermináveis. Você nasce para morrer, desde o momento em que o ar adentra por suas narinas o horário, dia e motivo de sua morte já estão traçados. Então, o sofrimento no decorrer do caminho é inevitável, além do mais você só sabe que está sofrendo, pois já passou pelos momentos de alegria.

Na realidade não sei se acredito fielmente em toda essa teoria ou se é só o mecanismo do meu cérebro para justificar toda a merda que é o ensino médio. Para uns esse seria o momento mais magnífico de suas vidas, para outros a porta de entrada para diversas oportunidades, no meu caso eram incontáveis horas de sofrimento.

Quando criança olhava os filmes americanos e quase ria das sátiras com o bullying e gozações, mas ao chegar neste país vi que nada era mentira e que só piora quando você se muda para uma cidade de riquinhos e ganha uma bolsa na escola dos filhos desses riquinhos.

– Ela não deve ter banheiro em casa, vamos deixar que aproveite esse - a voz de uma das líderes de torcida é alta ao jogar sabonetes em minha direção encorajando as outras a fazerem o mesmo - Se eu fosse você pedia para sair o quanto antes - seu rosto se aproxima do meu.
*eu não tenho medo de você, só tenho ciência que lhe provocar é pior*

– Talvez siga seu conselho realmente- me enrolo na toalha e saio do boxe - Mas você deveria tratar toda essa insegurança reprimida - pego minha mochila prendendo a alça ao ombro, eu sei o que vai acontecer no exato momento em que as palavras saírem de minha boca - Todo esse ódio ao próximo- levanto os dedos circulando ao ar como se fumaça pairasse pelo ambiente, chegando mais perto da porta a cada instante- O bullying é para compensar o fato do seu pai não te amar ou da sua mãe te culpar pelo casamento fracassado ? - assim que as palavras pairam ao ar vejo três meninas correrem a minha direção.

Abro a porta com rapidez e a seguro por fora, os pontapés e gritos começam quando passo um dos tacos de beisebol pela porta impedindo que elas saíam, uma respiração profunda escapa de meus pulmões com força.
*eu lidaria com sua vingança em outro momento, de preferência vestida*

– Gostei da roupa - uma voz familiar sussurra ao meu ouvido e um grito escapa de meus lábios ao virar de supetão- Deveríamos abrir uma petição para que esse seja o traje feminino deste escola - o moreno diz a passar os dedos pelos lábios enquanto me analisa de cima a baixo.

– Eu meio que estou sem tempo agora - finjo o sorriso ao tentar passar pelo seu corpo, mas suas mãos vão a cada lado meu corpo se recostando a porta. Ele não era tão grande quanto o menino de dois dias atrás, eu ainda consigo ver algo por cima de seus ombros, seu corpo não era minha única alternativa de visão igual quando Kai fez isso - Eu realmente estou sem tempo, Will - tento sair de sua prisão ao sentir os pontapés as minhas costas aumentarem.

– Kai lhe disse como prefiro ser chamado é? - seu sorriso é, bom, tenho que admitir, seu sorriso é encantador.

– Eu realmente preciso sair daqui - um empurrão do outro lado faz a porta estremecer e finalmente sua atenção vai ao bastão que segura a mesma.

– O que você fez, garotinha ? - sua gargalhada é alta e minhas mãos vão a sua boca o calando, mas seu corpo ainda permanece imóvel não me deixando sair.

– Por favor, me deixe sair - minha voz sai fraca e sinto seus lábios a se mover por debaixo da minha mão, como se estivesse a falar.

– Seu nome - as palavras são ditas com calmaria quando minhas mãos saem de sua boca - Quero seu nome em troca - seus lábios se umedecem.

– Arabella - digo com pressa sentindo os empurrões a aumentarem.

– Vá se vestir, Arabella - meu nome sai de seus lábios com calma - Eu não estou bem disposto hoje- seu rosto se aproxima do meu - Seria uma merda ter que ficar socando cada cara que te olhasse- um beijo é depositado em meu pescoço e o empurro com força, mas seu corpo nem se move.
*qual é o problema dos homens dessa escola?*

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora