Capítulo 12

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Cinco anos atrás - Arabella

A biblioteca se encontra vazia neste horário, na realidade foi um alívio quando descobri que os alunos não vem para este lado no intervalo. O que me dá um local completamente silencioso sem ninguém para fazer gracinhas sobre a falta de dinheiro da minha família.

Minhas pernas doem um pouco por estarem a bastante tempo no chão e troco de posição ficando com as mesmas grudadas, mas ainda sentada ao chão. Coloco a mochila por cima das minhas coxas cobrindo as partes nuas e mordo o sanduíche ao riscar a opção correta da questão de química.

– Hoje estou tendo um dia calmo, gostaria que não aprontasse - a voz da coordenadora da biblioteca ecoa pelo local.

– Juro que hoje estou vindo em paz - uma voz grave domina o ambiente, me causando arrepios pelo rouco - Eu só vim estudar - o tom de brincadeira é nítido na voz.

Sacudo a cabeça e mordo mais um pedaço do meu sanduíche que trouxe de casa, a escola oferece comida gratuita no refeitório, mas só a possibilidade de ter que entrar naquele refeitório novamente depois do que aconteceu no meu primeiro dia trás a bilé a tona.

– Oferecem lanches melhores lá embaixo- o rouco domina o meu cantinho escondido, onde ao menos achava que estava escondida, subo o olhar com calma. Analisando a calça preta surrada e larga, a blusa branca amarrotada e aberta três botões, a gravata apenas jogada pelo pescoço. Subo mais vendo o maxilar travado e o cabelo preto jogado pelos olhos. *Damon*

Prefiro o meu - falo ainda de boca cheia ao analisar seu rosto uma última vez e voltar a minha lição.

O cheiro de cigarro e perfume caro invade o ambiente e tento respirar ar fresco, só infelizmente inalando com mais força seu perfume.

– Qual a graça de pintar o cabelo? - sua voz é grave e levanto o olhar indignada - Não acho que exista um tom de vermelho desse que seja natural - seu corpo se agacha com as pernas uma de cada lado de mim, ficando a menos de trinta centímetros do meu rosto - Então qual a graça de fica sempre escondendo a cor natural do seu cabelo? - sua voz é ríspida.

– Talvez seja a mesma que você sente ao ficar escondendo dos seus amigos que está comendo a pequena Ashby - antes que minha frase terminasse a gravata em volta da minha garganta é puxada com força ao seu encontro, nos deixando agora a menos de dez centímetros de distância- Só um idiota não percebe a forma como fica olhando para ela, sabia que parece que você vai devora-la ? - não vacilo a voz por nenhum segundo, não sou como as outras pessoas dessa cidade, adolescentes idiotas não me causam medo.

– Porque eu vou - o cheiro do cigarro invade meu rosto junto ao seu hálito quente, não era pela forma como ela a olhava apenas que percebi e sim quando vi eles em um dos testes de incêndio da escola indo para uma sala vazia - E posso fazer o mesmo com você agora, ninguém nos veria enquanto fodo essa sua boceta virgem - seus olhos permanecem o tempo todo nos meus, cresci com meninos como Damon em minha cidade natal no Brasil, garotos atolados em sofrimento que ao se sentirem vulneráveis tenta lhe causar medo.

– Seria uma péssima lembrança da minha primeira vez - debocho ao confirmar sua acusação ao me chamar de virgem, isso nunca foi um problema ou uma vergonha ao qual carreguei, na realidade só ninguém atraente o suficiente havia me desejado para que pensasse nisso - Você não parece muito saber o que faz, seria catastrófico- rio ao ver um leve sorriso se formando em seu rosto.

– Você não sente medo de nenhum de nós, né? - sua voz sai rouca quase a tremer meu rosto pela proximidade e balanço a cabeça em um não - Mas deveria - sua mão sobe ao nó da minha gravata o apertando - O Will é gentil, vai lhe fazer se sentir amada, mas você não tem a noção de quantas mulheres ele já comeu não é? - ele queria me machucar, da para ver isso em seus olhos - Você mal deve saber chupar um pau, como vai satisfazê-lo ? - o nó em minha gravata aperta - E você deveria sentir medo do Kai, ele é o único deles que até eu tenho medo - o nó é apertado mais uma vez e puxo o ar na tentativa de respirar - Ele foi criado pelo pai para ser um matador fora e dentro do ringue, já imaginou o que ele deve fazer na cama com uma mulher ? - um sorriso diabólico sai de seus lábios *sádico de merda*

– Deve doer - minha voz sai fraca pelo aperto na minha garganta - Sentir tanto medo do seu amigo se apaixonar e te deixar de fora - puxo o ar mais uma vez - Deve doer tanto se sentir sozinho - um sorriso sai de seus lábios e por um instante realmente senti medo, como se ele gostasse de ser machucado, gostasse de ser ferido.

– Você até que é interessante - seus olhos caem aos meus lábios e depois ao meus olhos e sinto como se a porra de um demônio estivesse a minha frente, o diabo que vem em forma belíssima como meu avô me contava na infância- Eles vão lhe machucar, Arabella - sua voz diminui o volume e fica mais rouca - Eles não sabem como amar alguém- sua voz é sincera pela primeira vez na conversa - Se um dia precisar de ajuda para escapar deles à ajudarei - a noite de ontem passa em minha mente e me arrepio ao lembrar das figuras paradas ao pé da minha cama - Se me der algo em troca é claro - seu sorriso não é mais diabólico.

– O que ? - minha voz sai normal novamente pelo afrouxar de seu aperto, eu nunca precisarei de sua ajuda, mas mesmo assim fico curiosa para saber o que ele gostaria em troca de trair seus amigos.

– Sua lealdade eterna - franzo a sobrancelha por não entender, o que minha lealdade iria acrescentar em sua vida? - Se algum dia me pedir ajuda para se livrar dos dois, sua lealdade será minha - sua mão sai do aperto da gravata e vai aos meus cachos soltos, tocando um dos fios que cai por meu ombro - Você nunca poderá mentir para mim.

– Não preciso da ajuda de ninguém para me salvar - finalmente empurro seu corpo para longe que desequilibra e cai de bunda ao chão- Qual é o problema com vocês? - grito ao me levantar e guardar os cadernos na mochila - Acham que seu dinheiro compra tudo - jogo-a em meu ombro e o encaro.

– Mas ele compra - suas mãos apoiam os joelhos ainda ao chão a me encarar com divertimento.

– Minha lealdade não está a venda- encaro seus olhos cobertos pelos fios de cabelo- Eu não pedi por nenhum daqueles dois a me infernizar e também não estou pedindo sua ajuda. Só me deixem em paz pelo amor de Deus - grito ao correr pelo biblioteca.

Eu odeio este lugar, eu odeio tudo que este lugar está fazendo com a minha mente, eu deixei que dois homens que mal conheço fiquem em meu quarto, beijem meu corpo, eu me deixei gostar disso.

Corro pelos corredores sentindo as lágrimas a escorrerem sem parar.

Eu deixo que essas pessoas me zoem, eu deixo que tudo aconteça em minha vida sem revidar, eu deixo tudo passar por cima de mim e só depois cobrir as cicatrizes, eu sou fraca, céus eu sou tão fraca.

– Olha por onde anda caralho - a voz invade meus ouvidos me acordando quando sinto a dor no meu corpo por bater em algo, respiro fundo e reluto em abrir os olhos, pelo baque duro sinto como se batesse em uma pilastra e meus ossos inteiros agora estivessem quebrados, olho para cima com calma, e vejo Michael parado segurando meus braços com força *a pilastra era seu corpo?* .

Mas antes que pudesse abrir a boca um corpo me vira com força me fazendo sair do aperto do que acho que seja loiro ou castanho, seus cabelo se divide entre as duas cores de uma forma bonita. Os braços que agora me seguram tem o toque misturado em força e delicadeza ao mesmo tempo e subo o olhar.

Seu cabelo incrivelmente bem penteado para trás, o uniforme limpo e bem passado vestido da maneira correta, o cheiro do mar que seu perfume exala, eu o detesto, não consigo conter as lágrimas que rolam mais pelo meu rosto, eu odeio oque estou me tornando quando você está perto, Kai.

– Quem lhe fez chorar ? - Sua voz é grave ao colocar uma mão em cada lado do meu rosto o apertando com tanta afeição, mesmo que seu tom de voz pareça estar a gritar- Quem lhe fez chorar, Arabella ? - tenho certeza que o tom de sua voz chamou a atenção do corredor inteiro.

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Obrigada por cada curtida, cada comentário, sou incrivelmente grata por estarem a gostar da história que tenho em minha mente.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora