Capítulo 16

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Cinco anos atrás - Arabella

A água cai em meu ombro, quase que a levar todo o pesar do dia, passo a mão pelos lábios na tentativa de senti-lo novamente. O gosto doce, a suavidade de seus lábios, o toque de seu corpo ao meu, a força em minha cintura, inclino a cabeça para trás sentindo o jato quente em meu rosto. *ninguém que presta ameaça o outro após o beijo, Arabella* repito a mim mesma tentando tirar qualquer sensação de conforto da minha mente.

Desligo o chuveiro e enrolo uma toalha no cabelo e a outra no corpo.

– Arabella - a voz de minha mãe invade a casa e saio a correr do banheiro parando no topo da escada.

– O que foi mamãe? - nossas vozes circulam a casa em nosso idioma natal.

– Já disse para fechar a janela do seu quarto assim que escurece, o barulho está invadindo a casa inteira - seu tom de voz é alto, mas ainda gentil.

– Sim mamãe- respondo a revirar os olhos e caminhar até o banheiro novamente, desligando a luz e fechando a porta.

Percorro pelo corredor escuro e vejo uma fresta de luz a sair do quarto dos meus pais, por algum milagre meu pai havia chego cedo hoje e é provável que está a tomar banho, passo por sua porta e caminho mais alguns segundos até meu quarto.

Abro a porta e me viro de frente a mesma para fechá-la e acender a luz, caminho pela penteadeira deslizando os dedos e abro o armário marrom ao lado, passo os dedos pelas roupas, o clima na cidade ainda é de veraneio, então apenas pego uma camiseta e calcinha me viro com calma para jogando-as na cama para me vestir.

– Aaaah - um berro sai de meus lábios ao ver o grande corpo sentado na minha poltrona, a roupa completamente preta, a cabeça coberta pelo capuz, mas o maxilar a cintilar pela lâmpada do quarto.

– Filha, aconteceu algo ? - a voz grave do meu pai sai do outro lado da porta ao tentar abri-la.

Minha respiração acelera, sentindo quase meu coração a pular do peito, a figura de Kai a cobrir minha poltrona inteira, como se todo meu quarto fosse pequeno para seu tamanho.

– Filha - a voz do meu pai berra do outro lado e o sorriso do moreno surge, deixando claro o quanto está a gostar da situação.

– Nada, papai - digo com calma em nossa língua- Prendi a mão na janela, foi só isso - tento controlar a respiração *Por que você não está dizendo a verdade?*

– Céus, Arabella- sua voz agora é calma - Eu já sou velho, qualquer dia vai me infarta.

– Desculpa, papai - controlo a respiração o máximo que posso a encarar o corpo.

Segundos se passam e o silêncio invade o local, meu pai provavelmente já se juntou a minha mãe na sala e eu estou aqui completamente paralisada.

– Sua língua natal é linda - as palavras saem calmas de sua voz - Parece que vocês estão a cantar - sua mão direita brinca com algo ao lado da poltrona.

– O que faz aqui, Kai ? - tento dar firmeza a minha voz, mas o pavor me domina, meus pais no cômodo abaixo acordados e um menino em meu quarto.

– Vim te ver - sua voz é tão calma que sinto vontade de o bater, agindo como se isso não fosse completamente errado.

– Poderia me ver na escola amanhã- minha voz sai calma ao tentar pegar as roupas na cama.

– Se você tentar cobrir seu corpo eu grito até seu papai aparecer aqui novamente, Arabella- o rouco de sua voz volta e estremeço - Tire essa toalha do cabelo - sua voz é mandona.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora