Capítulo 15

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Cinco anos atrás- Arabella

O conforto é cômodo, a mesmice acomoda cada célula do nosso corpo, com o passar do tempo tudo em si fica condicionado a fazer o mínimo de esforço, a rotina começa a ser rígida, mas não por disciplina e sim por preguiça, pois é muito mais fácil ir a escola, trabalhar, arrumar a casa, dormir e no dia seguinte seguir tudo novamente.

Mas eles não, eles fazem tudo, podem tudo, estudam, tem seus cursos complementares, viajam para suas casas de temporada, gastam quase o salário da minha mãe em uma tarde com os amigos, a vida se torna mais fácil quando se tem dinheiro, mas meu pai sempre disse que ela fica mais perigosa.

Quanto mais poderoso, quanto mais alto, maior será a quantidade de ossos quebrados na queda, durante muitos anos alimentei isso em minha mente, em todos os jantares chiques que éramos obrigados a ir por conta do seu trabalho, em todo o caminho da viagem para aqui, mas agora vendo eles a minha frente duvido muito.

Eles são o que são, adolescentes sem disciplinas com o limite do cartão de crédito maior que o financiamento de nossa casa, nada além disso, as pessoas podem ser fúteis apenas por quererem ser fúteis.

Rodo os olhos pelo Jeep novamente, os bancos de couro pretos a brilhar, o cheiro de carro recém lavado a invadir minha narina, a forma como o mundo parece pequeno do lado de fora da janela pelo tamanho do carro, aperto mais forte a bainha do meu vestido, eu não sei ao certo o motivo de estar aqui dentro, uma parte minha quer acreditar que é simplesmente por medo da minha mãe perder o emprego, mas a outra martela que é apenas a curiosidade de saber como é ser eles nem que seja por um instante.

– Mais rápido, Will - Misha grita no banco do passageiro - Não vai dar tempo de comprar as pipocas se continuar a ir devagar assim - um riso escapa de meus lábios, eu adorei o menino no primeiro instante que conversamos, a forma como ele parece ser mais velho, como tentou me confortar quando viu meu desespero em ir para uma escola nova.

– Essa é uma estrada que permite apenas oitenta quilômetros por hora, Misha - a voz de Will sai calma ao se concentrar na estrada.

– Anteontem você me buscou na escola a mais de cento e vinte por hora - o pequeno é debochado e não consigo controlar o sorriso ao ver a cara brava de Will, como se isso fosse um segredo dos dois.

Minha atenção vai a estrada novamente e respiro fundo *Que os ingressos não sejam caros, por favor * meus pais me dão o suficiente para comprar algumas besteiras pela semana nos mercados, não o suficiente para frequentar os mesmos locais que eles.

Sinto meu corpo a sofrer um sobressalto, olho para frente e agora Will acelera com mais força, passando pelos outros carros com maestria, mordo os lábios na tentativa de esconder o sorriso, suas mãos vão ao painel abaixando todos os vidros. O ar invade o carro com força, meu cabelo preso voa, minha bochecha sente a força do ar, ele acelera mais e o vento move meu vestido coloco as mãos a coxa o segurando no local, a adrenalina em meu corpo aumenta quando o carro começa a desviar dos outros de forma mais rápida, o barulho do motor quase a fazer meus ossos se tremerem, eu nunca havia andando tão rápido em um carro e céus eu amei essa sensação.

Meus olhos vão ao retrovisor e vejo Will a me encarar com um sorriso de lado no rosto e só ai percebo o quanto estou a sorrir. O carro diminuiu a velocidade e para em um grande estacionamento, Misha salta com empolgação sem nem se preocupar em nos esperar.

– Vamos vamos - suas mãos vão ao ar nos chamando.

Respiro fundo antes de sair do carro, Kai me deixa nervosa, apreensiva, sem ar, como se sua presença fosse querosene ao meu corpo, mas Will me da uma sensação estranha no estômago, como um revirar.

Devotion • Kai e WillOnde histórias criam vida. Descubra agora