A Puro-Sangue

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Ela irá se ver comigo, quem ela pensa que é para falar e me tratar daquela forma? Ela não passa de uma morta que deveria ter morrido junto dos pais naquele dia... Maldita hora que ela sobreviveu! Ele é meu, não dela!

— Essa expressão não lhe cai bem, Mia. O que lhe aflige desse modo?

Senti uma mão em meu queixo, erguendo meu olhar para o seu e apesar da voz calma dele, seu olhar demostrava outra coisa, o que me fez gelar e desviar o olhar do dele.

— Nada, nada me aflige. Pode ficar tranquilo. Vou terminar algo agora.

Meu solto de seu toque e me levanto, indo para a saída da mansão dele, apenas para parar de andar ao ouvir sua ordem que me fez odiar aquela garota mais ainda.

— Não toque nela novamente e não vá para o meu quarto em minha mansão, você está proibida de entrar lá ou chegar perto das redondezas. Pode ir agora.

"Hora de acordar, bonequinha. Você tem que voltar para a aula e tirar boas notas, já que é o único motivo de ainda a deixar aí."

Acordar? Mas acordar do quê? Desde quando estou dormindo? Não quero levantar, não quero sair daqui. Estou tranquila e sem fome, minha garganta não arde e minha tontura passou...

"Levanta Sarah! Honre o nome Bartholy que você tem!"

E como se ele tivesse virado uma chavinha em minha mente com aquelas palavras, meus olhos se abriram e o que vi em minha frente não foi nada agradável. Estava em um beco escuro, com um mendigo em minha frente e todo desmembrado. Mas quem fez isso a ele? Eu... Eu fiz isso?

Pânico se assolou em mim, me fazendo me sentar e me encolher em um canto, levar as mãos a cabeça puxando os cabelos loiros.

"Não foi você, calma. Respira, Sarah. Quem fez isso foi alguém que você irritou a pouco tempo, respira Sarah. Você não foi a causadora dessa morte!"

A voz dele ressoou em minha mente, me fazendo erguer a cabeça como se ele estivesse em minha frente mesmo. Soltei meus cabelos aos poucos e minha respiração foi voltando ao normal, apesar de lágrimas resolverem se formar em meus olhos e caírem pelo meu rosto, em forma de alívio. "Não fui eu, que bom... Mas quem..." parei no instante ao lembrar de suas palavras "Mia Cooper" Meus olhos ficaram vermelhos e sérios, aquela garota estava mexendo com quem não devia.

"Isso. Agora se levante, seque o rosto e volte para o campus. Não vou aí hoje, então volte para seus estudos e os meus filhos. E lembre-se, nada disso aconteceu. Não desejo lhe dar uma ordem, pois sabe o que acontecerá se eu a der a você."

Estremeço com a menção de outra ordem vindo dele e não querendo isso, me levanto do chão e me arrumo, seco o meu cabelo e volto para o campus, fingindo que nada tinha acontecido, já que pelo caminho passei em uma sorveteria e comprei um milkshake de baunilha. Entrei na sala de química calmamente, vendo a Osborne ali junto de sua amiga, e também Samantha. Ignorei as duas e fui para o meu balcão, onde deixei minhas coisas e tomei meu milkshake em paz, ouvindo a explicação da professora que tinha entrado alguns segundos depois de mim.

Com essa palhaçada, com esse castigo dele, acabei por perder dois turnos: artes, a que já estava; música, não me arrependo de perder; e mitos e lendas, viu ter que dar um jeito de pegar o material depois com alguém.

Junto minhas coisas para sair da sala quando sinto alguém do outro lado da bancada, ergo o olhar e vejo Sara Osborne. A observo calada, já que não tenho nada a dizer e como a mesma também não fala nada, apenas pego o copo vazio de milkshake e minha bolsa para sair de vez, quando ouço sua voz.

— Você está bem?
— Por que eu não estaria? Não entendi essa pergunta.

A bruxa me olha atentamente, atenta a qualquer movimento meu, e isso me irrita mas tenho que manter a calma e minha aura também, não posso a deixar sair, nem por um fiapo.

— Fiquei sabendo que você saiu da aula de artes sem mais nem menos e também não compareceu na aula de mitos e lendas. O professor Jones perguntou por você.

Franzo o cenho ao ouvir a menção ao lobo que leciona e dou de ombros indo para a porta com ela me seguindo. Bruxa irritante. "Basta se livrar dela." "Não me enche você, já basta ela!" Ouvi sua risada e logo a cortei, bloqueando minha mente mas logo sinto sua magia psíquica, querendo passar novamente, mas não vou ceder de novo. Não mesmo.

— Sarah, por favor...
— Me deixa em paz, eu não quero conversar com ninguém hoje. Quero apenas ficar no meu canto, ver as aulas ou o que resta delas e depois ir para casa. Será que é pedir muito?!

A Osborne se calou no mesmo instante em que me virei para ela, ouvindo cada palavra minha atônita e chocada, já que não esperava por essa reação minha.

— Ótimo. Tchau.

Me virei e fui para o refeitório, onde joguei o copo fora e peguei um sanduíche que não comeria, apenas para manter as aparências e saí de lá também e depois do campus, indo até uma praça onde dei o sanduíche para os pássaros comerem.

"Como você está? Sua fome..."
"Me deixa... Não quero nada vindo de você, já basta esse nome que eu recebi por sua culpa."
Nada foi ouvido, até alguns minutos depois.
"Você ainda vai se acostumar com ele. O seu tempo acabou, de noite eu irei até você. Você sabe onde deve ir, te darei meu sangue pessoalmente."

Travei a mão antes de jogar o último pedaço do sanduíche no chão, ao ouvir aquelas palavras. Ele viria hoje... Eu teria seu sangue... Minha visão se nublou por um instante, mas com um piscar de olhos ela voltou ao normal e assim voltei para o campus, para as minhas últimas aulas do dia.