04x02

35 3 0
                                    

Aquele sangue me fez bem, mas mesmo assim não foi o suficiente para me trazer de volta ao meu cem por cento e não ter sonhado, ou tendo um pesadelo, com Viktor, foi maravilhoso mas também ruim, já que o mesmo acabou por me tirar o gostinho de felicidade que tinha tido durante a noite. E assim como já imaginava que seria ou não, minha noite de sono foi péssima e para piorar, tive que sair cedo do quarto para ir ao meu e me arrumar para a universidade.

Sai de casa antes que qualquer um desse as caras e me fizesse ir tomar meu "café da manhã" junto deles, não queria e nem podia, então é melhor evitar. Durante o caminho para a universidade acabou que me fez bem, já que tinha o sol e o vento batendo em meu rosto, apesar dos milhares de cheiros diferentes que vinham para mim também. Conseguia ver o campus ao longe e isso me deixava mais aliviada, pois logo estaria na sala de aula e longe de problemas que ele poderia me causar. Pelo menos acho, já que ele não gosta muito de perder a bonequinha dele de vista e nem ficar entediado sem me perturbar.

"Ora, falando mal de mim nesse horário? O que fiz a você? Não deseja mais meu sangue, bonequinha? Tudo bem então. Se divirta, Sarah."

E o golpe veio. A carta branca de ontem a noite, ele a pegou e a cobrou. E da pior forma. Engoli e enxotei a vontade de chorar com aquilo que ele tinha acabado de me dizer. O meu castigo estava proclamado e ele não voltaria atrás, não até me ver rastejar e quase morrendo de fome. Más o pior disso tudo, é que terei que continuar a me alimentar com os irmãos Bartholy como se nada tivesse acontecido e eu continuasse bem, apenas para colocar tudo para fora no segundo que entrasse no banheiro de meu quarto.

— Ei, você está bem? Está parecendo um fantasma de tão pálida que está. Quer que quê te leve até a enfermaria?

Quem estava falando? E quando foi que parei de andar? Soltei o ar aos poucos para manter as aparências, negando ao garoto em minha frente que me olhava preocupado.

— Obrigada, estou bem... Sou pálida assim mesmo, desde quando nasci, não se preocupe. Obrigada de novo pela preocupação, vou entrar agora. Tchau.

— Se cuida, viu? E eu sou Thyago, estou no 3° período da turma de música.

Dei um aceno de cabeça a ele e entrei no campus, indo para a aula de artes que teria agora. Música, uma coisa que nunca me interessei, muito menos agora que vivo ouvindo vindo do quarto de Peter. Me sento no fundo da sala, no topo dela e no canto da janela e espero a aula começar.

Com meu caderno sobre a mesa e o lápis na mão, fico a rabiscar algumas jóias, alguns moldes de jóias com pedrarias caras de várias pedras preciosas. Quando ouvi a voz dele novamente em minha mente "Por quê está chateada e avoada?", "Porque você não me deixa em paz? Porque me deixou sair, me alimentar dela apenas para me castigar depois? Eu não te entendo, Viktor..." Um silêncio ensurdecedor se instalou em minha mente, o que me fez parar os rabiscos na folha e piscar os olhos atordoada, apenas para levar a mão ao nariz ao sentir algo escorrendo e ao ver o que era, paralisei. Sangue.

" Cuidado com o que deseja, bonequinha."
"Saia de minha cabeça!!"

E com essa última frase em puro ódio e desespero, bloqueei minha mente, a fechei para ele, ou pelo menos tentei. Sentia ele querendo falar comigo, sentia seu poder psíquico e também sua presença chegando perto da cidade. Mas eu era a única a sentir, a única pelo simples provo de ter uma ligação direta com ele.

Estou perdida. Tenho que sair daqui. E rápido.

Juntei meu material e sai da sala sem me importar se receberia olhares ou bronca da professora, apenas precisava sair dali, da escola e também da cidade. E quem sabe até mesmo do país.

Fora da universidade, a uns três quarteirões para o lado oposto da mansão, senti o cheiro de sangue por perto aue me deixou em alerta e com a cabeça leve. Ele me chamava, me hipnotizando. Entrei em um beco vazio e escuro, o cheiro do lixo e da bebida eram fortes ali e foi o que me ajudou a me acalmar, apesar de que estava em encrenca e uma completa bagunça. Meu celular tocava e já até sabia quem era, mas não me importo com ele agora, apenas com minha fome que voltou parecendo que não me alimentava a dois meses e não apenas durante a manhã toda.

— Por favor.... isso está me matando...

Outra pontada em minha cabeça. Um chamado e uma ordem. Estremeci com tal poder e deixei minhas barreiras caírem, assim como eu que cai de joelhos e cuspindo sangue, por causa da fúria de Viktor Bartholy.

"Nunca mais, Sarah Bartholy!"

Esse nome... Esse maldito nome que me atormenta desde que acordei. Essa maldição que foi posta em mim. Lágrimas se acumularam em meus olhos, meus braços me rondar-am em um abraço apertado e desesperador, pedindo por ar e paz. Para que aquele castigo cessasse. Mas apenas parou quando perdi a consciência.

A Puro-SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora