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Fecho a porta atrás de mim, vendo ele sentado na poltrona olhando para a janela e com a mão esquerda na boca, enquanto pensa no que fazer comigo.

— O que quer comigo? Porque me trouxe aqui?

Ele não proferiu uma palavra sequer, o que apenas me fez ir até ele e parar em sua frente, onde vejo que sobre a mesa tinha duas taças vazias e uma faca. Passei os olhos por elas sentindo um frio se apossar de meu corpo, me gelando com a hipótese.

— Para que isso?

Minha voz saiu em um fio, dando um passo para trás. Não queria aquilo, não de novo. Não queria passar por aquilo mais uma vez. Senti a mão dele em meu pulso, me puxando para si, me fazendo me sentar em seu colo.

— Uma pequena punição por ter me ameaçado e ter tirado Mia do porão sem minha permissão. Agora pegue a taça e a faca.

Nego o olhando, estava trêmula. Ele nunca tinha feito isso antes, nunca tinha me mandado me cortar. E isso me apavora mais do que se fosse ele bebendo o meu sangue.

— Anda.
— Não...
— Sarah.

Fecho os olhos assustada e com as mãos trêmulas pego a taça e a faca, ele pega a taça de minha mão esquerda e espera. Respiro fundo umas três vezes seguidas, tentando não surtar com aquilo. "Faça" Abro os olhos que estavam desfocados apenas focados na ordem dele e sem saber o que realmente estava fazendo, fiz um corte em meu pulso e deixei meu sangue encher a taça na mão dele, sempre refazendo o corte quando se fechava.

A mão esquerda dele está em minha cabeça, me deixando apoiada em seu ombro, enquanto ouvia cada respiração e batimento vindos de mim. E quando terminei de encher a segunda taça, ele tirou tudo de minha mão e deixou sobre a mesa, me embalando em seu colo e me consolando, já que lágrimas escorriam pelo meu rosto.

— Isso é apenas uma punição para você aprender a não passar por cima de minhas ordens. Logo isso passa, agora descansa. Peter está com Lorie agora lá no jardim, de olho enquanto ela brinca, para ter certeza de que Mia não acorde antes do tempo e tente algo contra ela. Descanse agora.

Com os olhos fechados e com a cabeça leve, atordoada e perdida no tempo e no presente e passado, me deixei ser embalada por ele e caí no sono, cansada de tudo e de todos dessa casa.

— O que... O QUÊ VOCÊ FEZ COMIGO SUA PIRRALHA?!

Dei um passo para trás assustada com o grito de minha antiga babá, vendo ela puxar as cordas dos pulsos tentando se soltar. Peter se colocou em minha frente tapando minha visão da vampira que estava toda amarrada de ponta cabeça em uma árvore.

— Cuidado com como fala com minha irmã, Mia.

Ela rosnou a Peter e ouvi um barulho de algo se partindo, e depois cordas que me fez me arrepiar toda. Senti a mão de Peter me mantendo atrás de si e depois ouvi a risada sádica de Mia.

— E quem disse que estava falando dessa pirralha aí? Essa daí não me faz mal nem com um graveto! Estou falando da outra que está sendo punida agora, ah como gostaria de ver como está sendo a punição dela.

Paralisei ao ouvir o que ela disse, sentindo meu ar travando, mesmo que não precisasse dele mais a muitos séculos. Apertei a blusa de Peter assustada com o que o papai possa estar fazendo a Sarah, mas então ouvi um som de vômito e ao olhar pelo lado de meu irmão, vejo Mia dobrada sobre si mesma cuspindo sangue, atônita com o que tinha lhe acontecido.

— O que?

Me mantive calada atrás de meu irmão, vendo aquela cena em minha frente se desenrolar e vendo ela gritar logo em seguida com dor, enquanto que cuspia sangue.

— Vai para o seu quarto, Lorie. Vou cuidar dela e a levar para o porão de volta, antes que ela suje aqui tudo.

Afirmei a ele e sem esperar muito por outra palavra dele, fui para dentro. Corri para o quarto de Sarah, mas ela não estava lá, então apenas me deitei em sua cama me enroscando nas cobertas limpas e fechei meus olhos. Sentia o cheiro dela ali e isso me acalmava um pouco.

Ouvi passos após um tempo no corredor e achando que era meu irmão, sai da cama e fui até a porta a abrindo, apenas para ver o papai alí, me olhando. Engoli em seco o medo dele e me encolho um pouco, ele se virou e voltou a andar e eu corri para o quarto dele. Tentei entrar, mas a porta não abria, não conseguia a abrir. Tem magia aqui, os poderes dele. Ele não quer que ninguém entre alí. Tinha Sarah presa ali dentro e por não conseguir fazer nada para a ajudar, para a tirar de lá, o desespero veio junto com o que Mia tinha dito e aí comecei a chorar.

Ouvi uma voz vindo do outro lado da porta, uma voz abafada e fraca, sonolenta ainda.

— O que houve, pequena? Por que está chorando?
— Sarah, Sarah você está bem? Não consigo abrir a porta... Você está bem?
— Estou sim, pequena. Pare de chorar, estou bem, apenas cansada. Vou dormir mais um pouquinho e desculpa por não ter brincado com você...

Nego com a cabeça olhando para a porta e com as mãos nela, querendo abraçar minha babá e ter a certeza de que ela está bem, mas não podia, não tenho como. Lágrimas rolam pelo meu rosto e eu nego sem parar com a cabeça.

— Lorie, está aí ainda? Você está bem?
— Não quero te deixar sozinha aí... Deixa eu entrar... por favor?
— Não posso pequena... Não fui eu que coloquei essa barreira... Vai com seus irmãos agora, vai. Está na hora de você comer. Seja uma boa garota...
— Mas...
— Vai lá, Lorie. Eu só vou descansar, estou cansada. Estava dormindo quando te ouvi e acordei. Seja uma boa garota e vai comer, ficar com seus irmãos... Eu estou bem... Só vou descansar...

Respiro fundo fechando as mãos em punhos e negando, até que sinto alguém atrás de mim. Ao olhar vi que era Nicolae, olho para a porta de volta.

— Sarah...
— Nicolae, a leve por favor... Estou cansada ainda e não posso cuidar dela agora...
— Tudo bem. Descanse, Sarah. Vem comigo Lorie, vamos deixar ela descansar agora.
— Não, não quero!

Fui pega por ele e levada para longe do quarto, não quero sair de perto dela, não quero. Com a mão estendida na direção do quarto choro angustiada, sendo amparada por Nicolae que me leva para o meu quarto, fechando a porta me levando para a minha cama.

— Shh, ela está bem. Só está cansada, Lorie. Ela não teve uma boa noite de sono e com o que ela fez a Mia, apenas a cansou mais. Calma, minha pequena.
— Mas a Mia disse... disse que ele ia a punir... que estava...
— Ele não faria mal a ela, Lorie. Respira fundo e se acalme. Sarah é da família já. E ele em algum momento já fez algo com nós quatro?

Respiro fundo para me acalmar enquanto olho para meu irmão e nego respondendo sua pergunta, o que faz surgir em seu rosto um sorriso e assim ele toca na ponta de meu nariz, me fazendo dar um sorrisinho pequeno e contido.

— Exatamente, apesar de todas as brigas, ele nunca fez nada a nós. Vamos comer agora?

Afirmo a ele e assim fomos os dois para a cozinha, onde encontrei Drogo, Peter e o papai, que desviei o olhar para o chão. Me sentei em meu lugar, ao lado de Drogo já que Sarah não se encontra e Nicolae me serve un pedaço de bolo com sangue além de um copo de sangue. A receita de Sarah. Dou um sorriso a ele e começo a comer.

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