A Puro-Sangue

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"Aquela vadia ainda me paga, quem ela pensa que é para me tratar dessa forma?!", penso comigo mesma enquanto me mantenho andando de um lado para o outro em meu quarto. Ela está mentindo a todos sobre quem é, mas isso não posso revelar, pois se não acabo me ferrando também e ele acaba por me matar. Olho para a porta ao ouvir uma correria e uma voz que conheço perfeitamente, vou até ela e a abro vendo a pirralha correndo e chamando pelo irmão mais velho, que é o único que tem a decência de manter um bom humor perto de mim.

Um sorriso se abre em meu rosto ao ouvir o que ela diz ao irmão no andar de baixo. "Então quer dizer que ela está mal? Melhor ainda para mim", olho na direção do quarto dela e depois para o último quarto. O quarto de meu criador e... E nada, pois aquela vadia tomou o que era meu. Entro em meu quarto de volta, fechando a porta atrás de mim e vou para minha cama onde me deito e fico ali, esperando o momento certo.

— A calma é o que trará um resultado perfeito.

— O que você disse?

Pergunto olhando para Lorie que está com a forma de lasanha nas mãos parada em minha frente. A loira que está com uma expressão preocupada, apenas afirmou deixando a forma sobre minha mesa e deu a volta, parando em minha frente e puxando meu braço.

— Ela não está bem... Vem, por favor, Nicolai.
— E essa lasanha? Por que a trouxe aqui?

Após a minha pergunta, Lorie finalmente parou de me puxar e focou o olhar na comida humana, como se tivesse se esquecido dela e queria atear fogo nela e em quem a tinha feito.

— É culpa delas! Aquelas bruxas! Elas fizeram isso com a Sarah!

Franzi o cenho ao ouvir a acusação dela e antes que eu pudesse continuar, ela voltou a falar brava ainda.

— Essa.. coisa! Tem alguma coisa nela que fez a Sarah passar mal! Tem alguma coisa aí no meio sim, Nicolai!

Ver a reação e a afirmação de minha irmã mais nova sobre ter algo naquela lasanha e que foi a responsável pela "recaída" de Sarah, me fez me focar em fim na comida e sem esperar outro episódio histérico da loira, comecei a examinar aquela comida feita pelas bruxas... E quando eu senti o cheiro da verbena ali, fiquei preocupado. Deixei Lorie na mesa e fui atrás de um livro que continha um antídoto para a verbena, isso é, se existisse mesmo...

— Nicolai!
— Já estou indo, Lorie!

Olhei três livros sobre a planta, mas não encontrei nada contra ela, então o que nos restava era ela terminar de expelir a verbena de seu organismo e repôr o sangue perdido... Deixei os livros ali e fui para o andar superior com Lorie em meu encalço, um pouco mais lenta.

Entrei no quarto dela e ao ver Drogo com ela, me deixou um pouco mais aliviado mas ainda assim assustado pela situação dela e pela sua aparência. Graças a Deus que ela tinha comida apenas um pequeno pedaço daquela lasanha, o que não demoraria muito para sair de seu sistema. O que demoraria seria o efeito dela passar, o que deixaria Sarah fraca por um tempo.

Suspiro e vou até ela na cama que dormia sem que Drogo tivesse percebido, e eu calmamente, a desperto para ter certeza de como ela estava. A loira abre os olhos aos poucos e o que vejo ali, não me agrada muito.

— Oi, Sarah. – dou um sorriso acolhedor a ela, lhe tocando a testa para ver se tinha alguma febre – Como se sente?
— Péssima... O que tinha naquela lasanha – ela me pergunta enquanto eu fico mais aliviado por ela não ter febre e me sento na cama ao seu lado –, Nicolai?
— Tinha verbena. – a respondi calmamente, tomando o cuidado com as palavras – Elas devem ter posto, para que você não corresse nenhum risco aqui.

Ela afirmou com a cabeça em um movimento leve e lento, voltando a fechar os olhos, pondo o braço sobre o rosto mais uma vez e murmurou um "entendo" antes de fazer uma careta por alguma coisa, respirando fundo em seguida. E com apenas isso, me afastei da cama e deixei Drogo lhe confortar e a acalmar, enquanto falava a ele.

— Ela vai ficar assim por mais um dia, até o efeito da verbena sair totalmente de seu corpo. Ela vai precisar de sangue depois, muito. Vou ver com o Viktor e dar um jeito dele não querer matar as duas, já que elas são "amigas" da Sarah.

O vampiro loiro apenas deu um aceno de cabeça a mim, o que me fez suspirar e o olhar com pena por ele não ser capaz de ser o "alimento" de Sarah e por ninguém mais puder, além do próprio Viktor Bartholy. Fiz um carinho na cabeça de Lorie e depois sai do quarto, precisava avisar ao nosso criador sobre a sua "bonequinha" e sobre as necessidades dela. E também a acalma-lo depois dele se inteirar com o ocorrido.

Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento, minha garganta está seca e minha boca com o gosto horrível de sangue velho, o que não ajudava muito com minha ânsia e vontade de vomitar. Pedi ao Drogo em um sussurro, um copo de água e ele prontamente foi o buscar para mim, me deixando com Lorie que se deitou ao meu lado, me abraçando, comigo retribuindo o seu abraço.

Deus, por que essas coisas só acontecem comigo? Eu por um acaso joguei pedra na cruz? Porque não é possível, não tenho um segundo de paz nessa vida. Preciso urgentemente me mudar e tirar férias sem tempo de volta... Mas aí vem outro problema: minha alimentação. Maldita hora que Viktor Bartholy proclamou aquilo, após me fazer beber de seu sangue.

Assim que a porta do quarto foi aberta, abri meus olhos ao não ouvir a voz de Drogo e a sua frase de sempre carregando a palavra princesinha, e uma careta se formou em meu rosto ao ver Mia ali. O que ela queria comigo agora? Apertei Lorie no abraço, já que a mesma acabou adormecendo e não queria que ela acordasse e voasse sobre a loira oxigenada. A vadia não deu nem mesmo um passo direito e coisas se quebrando foram ouvidas no andar debaixo, assustando nós três, fazendo a pequena acordar no susto e se agarrar a mim.

— O que... – questionei a Cooper mesmo, já que a mesma estava na porta, enquanto apertava Lorie – o que foi isso?

Ela negou olhando para o corredor e escutei daqui sua respiração travar e no segundo seguinte, sumir de minha vista, apenas para aparece Viktor. Furioso. Com as presas a mostra e os olhos tingidos de vermelho, o puro ódio ali, que me fez encolher e  ficar mais pálida do que já estava.