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Não acredito que eu esqueci que hoje era sábado, mas também a culpa é minha, quem mandou ser tão esquecida. Ouço gritos novamente, suspiro me encolhendo no sofá com a almofada sobre a orelha para abafar o som assim, mas mesmo assim ouço os gritos dela. Ben que eles poderiam por uma barreira de som ou cortar as cordas vocais dela, assim eu não ouviria mais sua odiosa voz.

Cessaram. E logo o cheiro de sangue que antes era pouco, ficou forte do nada. Abri os olhos e me deparei com uma loirinha toda suja de sangue, desde os pés até a cabeça. Meus olhos se arregalaram com tal visão e logo me sentei no sofá, a puxando para perto de mim e a examinando com atenção.

— Estou bem. Não é meu, é dela.
— Dela?

Ela afirma e eu suspiro aliviada, a olho nos olhos e inclinou a cabeça para o lado pondo um sorriso no rosto.

— E o que você fez a ela? Qual foi a brincadeira?
— A Princesa e o Caçador. Papai deixou eu brincar com ela, a única coisa que ele proibiu foi de a alimentar.

Papai? Desde quando ela o chama assim? O que perdi enquanto estava no quarto ontem a noite e hoje?

— O caçador matou a princesa?
— Sim, pois tinha que ter certeza de que a princesa não era o lobo. A abri e olhei cada cantinho dela, mas não encontrei nada.

Agora eu sei o motivo dos gritos, dei uma risadinha anasalada imaginando essa cena.

— Boa garota. Vem, vamos tomar um banho e ir comer algo.
— Não quero comer, já comi. Você acordou tarde e onde vai com esse uniforme?

A olho por uns instantes pensando em algo para lhe dizer, não tinha uma resposta decente para aquela pergunta então é melhor desviar dela. Me levanto do sofá e segurando em sua mão, a levo para as escadas.

— Após o banho vamos brincar lá fora e quem sabe até mesmo de Forca com ela. Vou ver se consigo a permissão para tirar ela de lá e a levar para o jardim, o que acha?

Os olhos dela brilharam com minha sugestão e não tardou para ela me puxar escada acima, querendo ir tomar o seu banho logo. Subi as escadas rindo de sua empolgação, entrei em seu quarto e enquanto ela foi para o banheiro já tomar o seu banho, eu fui até o seu closet e peguei um vestido leve para ela vestir e se sentir livre com ele enquanto brinca.

A loirinha está sentada em seu banquinho em frente a penteadeira brincando com uma de suas bonecas, enquanto balança as pernas e eu penteando seu cabelo molhado. Hoje eles vão ficar soltos, já que é um pedido da mesma, então para eles não ficarem caindo em seu rosto, vou fazer uma trata de trança. Tranço o seu cabelo com atenção, pegando as mexas certas e ao terminar, prendo com um elástico e grampo, para não se soltar enquanto ela pula.

— Pronto, terminei. Vamos?

Ela se levanta do banquinho e se vira para mim, apontando para minha roupa.

— Não vai se trocar?
— Okay, corre para o meu quarto e vai escolhendo minha roupa. Mas nada extravagante e chamativo, quero algo leve também, ouviu?
— Sim.

E em um piscar de olhos, Lorie sumiu de minha frente, indo para o meu quarto e eu fui arrumar o seu, que estava com a cama desorganizada e brinquedos espalhados para todos os lados. Droga. Deixei tudo como estava ali mesmo e com uma boneca em mão ainda e fui para o meu quarto, onde ouvi o grito dela. Entrei nele e vi a loirinha parada em frente a minha cama, olhando para o sangue que tinha ali nos lençóis.

— Lorie...? Olha para mim, eu estou bem. Pequena?

Ela não se mexeu e eu cheguei até ela, a virando para mim, ficando em sua altura e segurando o seu rosto vendo seus olhos cheios de lágrimas e vermelhos.

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