Capítulo 38: A armadilha

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Damian

Parei na frente de um prédio abandonado de três andares. Deixei de lado o pressentimento ruim que esse lugar dava. Haviam barricadas nas janelas e a porta principal estava quase caindo.

Subi os degraus, puxando a maçaneta e liberando a entrada para o interior. O lugar fedia a coisas velhas e a mofo, a poeira quase me fazendo espirrar. Olhei para as escadas de madeira podre e resmunguei. Eu teria que subir essa merda.

Analisei a recepção antes de subir, e a única coisa que encontrei foram papéis rasgados, mofados e amarelados.

Soltei um suspiro e comecei a subir, as escadas rangendo por conta do meu peso. Quando cheguei no final um dos pedaços se quebrou, caindo no primeiro andar.

— Sua maldita traiçoeira — Xinguei em voz baixa.

Um corredor enorme se estendeu à minha frente. Deviam ter no mínimo quinze apartamentos por andar, então teria que começar a olhar logo se não quisesse passar a noite toda aqui.

Abri o apartamento número um. Tinha poeira e teias de aranhas por todas as partes. Não havia nada aqui dentro, nenhum móvel abandonado, nem mesmo as bancadas da cozinha. O banheiro também não ficava muito atrás. A pia, o vaso sanitário e até mesmo o cano do chuveiro haviam sido retirados.

Conferi todos os apartamentos um por um, não encontrando nada além de seringas e pacotinhos de drogas. Infiltrações também eram bem comuns, deixando as paredes úmidas e poças no chão.

Faltavam apenas três portas quando ouvi um barulho no andar de cima. Ia começar a subir, mas a porta catorze se mexeu, como se alguém tivesse se chocado contra ela pelo lado de dentro. Fiquei dividido entre checar o andar de cima ou a porta.

Com um suspiro, desci do primeiro degrau da escada e me dirigi à porta. Arregalei os olhos ao ver o que estava aqui dentro. Caixas e mais caixas de armas e munição. Seja lá o que estejam planejando, é grandioso.

Me movi lentamente pelo apartamento, procurando quem havia feito aquele barulho. A porta de um dos quartos estava entreaberta e eu espiei pela fresta. Um garoto estava sentado na ponta da cama enquanto desmontava e limpava a arma.

Um gemido alto veio de dentro do banheiro atrás de mim.

— Já mandei você calar a boca, Luke! — O garoto dentro do quarto gritou — Você teve sorte que minha arma estava desmontada, seu rato. Quando ela estiver limpa e montada voltarei a falar com você.

Rato?

Me virei e abri a porta do banheiro, vendo um garoto amarrado e amordaçado dentro da banheira, o mesmo daquele dia. Seu desespero foi substituído por espanto quando me viu. Pus o indicador na frente dos lábios, indicando que ele devia ficar quieto.

Seus cachos ruivos estavam desgrenhados e caiam sobre seu rosto, lançando uma sombra em seus olhos. Soltei sua mordaça e cortei as cordas com um dos meus bumerangues.

Me ergui de novo, ouvindo o clique de uma uma arma atrás da minha cabeça.

Droga.

— Então você acha que esse rato de merda merece ser salvo? A recompensa para traidores é um buraco na testa — A voz do outro cara carregada de desdém — Vire-se. Devagar — Pronunciou as palavras com lentidão.

Fiz o que ele disse e me virei, seus olhos se iluminaram com reconhecimento.

— Ora, ora, ora. Veja se não é nosso belo passarinho. — Um sorriso cruel surgiu em seu rosto — Que engraçado eu te encontrar, estava mesmo querendo acertar as contas. Aquele soco que você me deu naquela festa ridícula me deixou roxo e dolorido por dias.

Observando seu rosto mais atentamente me dei conte de que era ele o cara que pôs uma faca no pescoço de Madeline. Ele tentou matá-la.

— Aquela idiota escandalosa expôs nossa localização. Eu a tinha em meus braços, se aquela vadi...

Interrompi ele com um soco no nariz. Senti a raiva queimar dentro de mim. Agarrei seu colarinho acertei mais sete socos em seu rosto e depois bati com sua cabeça na parede.

Ninguém fala da minha namorada assim.

O garoto ruivo, que agora eu sabia que era o informante, estava parado na porta.

— Você — Me virei para ele — Você é o informante. É o irmão dela, por isso está ajudando.

Ele me olhou com espanto.

— Como você sabe?

Não respondi sua pergunta, apenas o encarei.

— Não sei o que eles querem aqui, mas não me deixaram entrar.

Confirmei com a cabeça.

— Saia daqui antes que você leve um tiro — Eu disse, indicando a porta do apartamento.

Luke saiu correndo para fora, tropeçando em uma das caixas de arma e quase caindo no chão.

Lancei um último olhar para o garoto no chão. Tinha vontade arrebentar ainda mais cara dele, porém me contive, ele já estava inconsciente.

Quando voltei para o corredor do andar Luke já tinha ido embora. Menos mal. Subi as escadas para o segundo andar, vendo mais um corredor com mais quinze portas.

O padrão dos apartamentos de baixo se repetiu: restos de drogas, mofo, umidade e sem nenhum móvel, alguns tinham caixas de armas.

No terceiro e último andar fiz a mesma coisa, abrindo porta por porta e conferindo apartamento por apartamento. Estava no treze quando ouvi barulhos esquisitos vindo de trás da parede que dividia os apartamentos. Corri para sair e entrar na porta ao lado.

Quando abri, fui recebido por três homens armados. Antes que pudessem apontá-las para mim, peguei a arma do da esquerda e joguei no que estava no meio, derrubando os três logo em seguida.

Me virei para sair do apartamento, mas outro homem se colocou de repente na frente da porta, disparando a arma.

Uma queimação começou na parte esquerda do meu abdômen, porém, a adrenalina me manteve de pé. Desarmei o homem e o apaguei, atirando a arma longe.

Comecei a andar com dificuldade para as escadas que levavam para os andares inferiores, só que os passos apressados subindo as escadas me fizeram parar e correr com muita dor na direção oposta. Para as escadas que levavam ao terraço.

O vento frio da noite bateu na ferida recém aberta, me deixando arrepiado. Bati a porta de metal o mais forte que consegui para tentar deixá-la emperrada. Havia uma lixeira aberta lá em baixo, no beco atrás do prédio.

Merda.

Estava refletindo se pulava dessa altura ou não, mas a dúvida simplesmente desapareceu quando os ouvi forçando a porta.

Pulei na lixeira, os sacos de lixo amortecendo a queda. Saí de dentro dela e me esgueirei para as sombras. Me encostei em uma parede e deslizei até o chão, respirando rápido.

Pela primeira vez na minha vida, desejei ter obedecido meu pai. Se eu tivesse ficado em casa não estaria sangrando em um beco sujo.

Era uma armadilha. Como ele disse.

Levantei-me, a dor onde levei o tiro se tornou mais insuportável. Toquei na orelha, onde deveria estar meu comunicador, mas o havia deixado em casa para evitar ser localizado.

Estava longe de casa, então o que eu...

Madeline.

O distrito ficava perto da casa dela, eu poderia ir até lá pedir ajuda a ela.

O caminho foi extremamente doloroso e lento, já que tive que ir me escondendo pelos becos para evitar ser visto.

Cheguei à janela com a mão cheia de sangue. Estava me sentindo tonto, mas precisava me manter consciente.

Parece que ela finalmente vai descobrir a verdade.

Butterflies | Damian Wayne Onde histórias criam vida. Descubra agora