Capítulo 42: Nem todas as famílias são felizes

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Madeline

Minha mãe parecia muito confusa, olhava para mim como se eu estivesse falando japonês. Mas meu pai parecia mortificado, como se tivesse acabado de presenciar um massacre. Seu rosto perdeu a cor e sua boca se abriu, expressando seu choque.

Estava nervosa, pude sentir o coração acelerado enquanto o silêncio se estendia mais ainda.

— Como você descobriu? — A voz de meu pai tão baixa que era quase um sussurro.

O olhar de minha mãe se alternava entre nós dois. O cenho franzido e a boca contraída deixavam claro que ela não entendia muita coisa.

— Quem é Luke, Eugene? — Ela perguntou.

Porém, papai não respondeu, ele continuou olhando fixamente para mim.

— Ele me contou — Respondi a pergunta que ele havia feito.

— Eu tenho um tio chamado Luke — Mamãe constatou — É dele que estão falando?

— Isso é impossível — Ele balançou a cabeça — Como ele poderia contar para você?

— Ele veio para Gotham — Eu disse — Veio com eles.

E papai entendeu exatamente o que eu quis dizer, porque seu rosto ficou ainda mais horrorizado.

— O que está acontecendo? — Mamãe esbravejou com os braços cruzados e o cenho franzido em irritação — É melhor um de vocês explicar.

Meu pai permaneceu parado por mais três segundos antes de engolir em seco se virar para ela. Segurando sua mão gentilmente, ele tentou levá-la para uma cadeira.

— Sente-se, querida.

— Não, eu não vou me sentar — Ela o fuzilou com o olhar — Eu vou ficar em pé.

Ele suspirou e deu alguns passos para trás, enxugando o suor das mãos na calça.

— Meu amor, eu...

— Desembucha.

Papai coçou a cabeça nervosamente.

— Nosso... Nosso filho está vivo. Nunca estive morto.

Minha  mãe ficou encarando, levando uns segundos para entender do que ele estava falando.

Quando fiquei sabendo sobre tudo isso eu achei que minha mãe sabia, mas claramente não. Ele escondeu o fato durante todos esses anos.

— Como você pode ter tanta certeza? —  O tom de sua voz ficou um pouco mais baixo.

— Porque eu o escondi. Tentei, pelo menos — Ele respondeu — Usei seu nome de solteira para batizar a criança.

— Por quê? Por que você faria isso?

Meu pai hesitou um pouco antes de responder.

— Meu amor, eu...

— Por que, Eugene!? — Nunca tinha visto minha mãe nesse estado.

— Quando eu era jovem me envolvi com pessoas horríveis — Ele deu um passo na direção dela — Quando saí, fiquei com medo de que viessem atrás dele.

— Onde você o deixou durante todo esse tempo?

— Em um... Em um... Orfanato — Ele já não a encarava mais. Seu olhar estava fixo no chão — Achei que assim ele teria chance de ser adotado.

— E ele foi? — A voz de minha mãe era apenas um sussurro.

— Não — Respondi a pergunta, pois sabia que meu pai não tinha a resposta.

Ambos se viraram para mim, como se tivessem se esquecido da minha presença aqui.

Mamãe confirmou com a cabeça e apontou para a porta de casa.

— Saia — Ela disse.

— El, por favor, me...

Por favor? — Seus olhos queimavam de raiva — Você tem a cara de pau de me pedir por favor?

Papai se encolheu um pouco diante de seu tom ameaçador.

— Você me fez acreditar que meu filho estava morto todos esses anos, Eugene! — Nunca tinha ouvido minha gritar desse jeito — Aquele foi período mais difícil da minha vida e você sabe disso!

— Eu sinto muito.

— Sente muito? Você pôs um alvo nas costas do nosso filho, o escondeu e agora sabe-se lá o que aconteceu com ele.

— Ele se juntou a gangue — Falei — Que está atrás de nós.

— Ótimo! Não contente em fazê-los ir atrás dele, você ainda os colocou atrás dela?

Minha mãe soltou um riso amargo.

— Saia daqui — Ela tornou a apontar para porta.

— El...

— Fora!

Ela gritou enquanto uma pequena lágrima escapava de seus olhos. Meu pai apenas aceitou, engolindo qualquer argumento que pensou que seria válido.

O desespero se alojou ainda mais dentro de mim. Se ele fosse para fora de casa eu não sabia o que poderia acontecer. Eles o queriam, e fora de casa ele ficaria completamente desprotegido.

— Mãe — Me levantei de supetão e postei a sua frente.

— Fique fora disso, Madeline.

— Se ele sair, vai ficar à mercê deles. Não faça isso, por favor — Supliquei.

Ela o observou, depois voltou a olhar para mim.

— Certo — Pôs a mão no meu ombro, apontando o dedo para o meu pai logo em seguida — Mas você não vai dormir no mesmo quarto que eu.

E foi assim que o nosso jantar de Ação de Graças acabou. Subi para o meu quarto.

Só quando todas as luzes se apagaram e tive certeza de que todos estavam dormindo (ou fingindo), foi quando deixei as lágrimas caírem.

Eu estraguei tudo.
Eu sempre estrago tudo.

Butterflies | Damian Wayne Onde histórias criam vida. Descubra agora