Capítulo 52: Almoço em família

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Madeline

Acordei na manhã seguinte sozinha e com o corpo pesado na minha cama. Não esperava acordar com Damian do meu lado, mas devo confessar que nutria certa esperança por isso.

O dia anterior passava como um borrão na minha mente, ficando cada vez menos nítido. Não sei me sinto bem ou mal por isso. Em alguns momentos parecia apenas mais um sonho, mas em outros era tão claro que é como se eu vivesse tudo de novo.

Me enfiei debaixo do chuveiro frio, tentando recuperar um pouco da minha compostura.

Desci para o café da manhã e assim que cheguei na cozinha, minha mãe me surpreendeu com um abraço. Seu calor e cheiro eram tão familiares que eu tive vontade de chorar, não de tristeza, e sim de alívio. Apertei meus braços ao redor de mamãe.

— Esses ultimos dois dias foram os piores da minha vida — Ela disse chorosa — Perder Eugene foi tão devastador e eu não suportaria perder você também.

Olhei para ela e forcei um sorriso, tentando fazê-la ver que eu estou bem, entretanto, não consegui. Nem sei se o que saiu dos meus lábios poderia ser considerado um sorriso.

— Venha, vamos comer. Chega de tristeza — Mamãe segurou minha mão e me puxou para mesa.

Nós comemos em silêncio, um silêncio confortável, cheio de sentimentos e familiaridade. Céus, eu estava tão bem aqui com ela.

Pensei na escola, e em como eu não queria voltar para lá de jeito nenhum. Não importa o quanto eu tente, nunca vou esquecer deles matando um aluno sem mais nem menos na frente de todos os presentes. O sequestro. O que aconteceu ontem. O homem baleado.

Tudo era terrível. De repente a lembrança das mãos daquele homem no meu pescoço me fizeram ter vontade de vomitar o café da manhã eu mal tinha começado a comer.

Minhas mãos tremiam eu soltei os talheres que usava para comer as panquecas, pondo as mãos nas têmporas e massageado.

Mamãe mantinha um sorriso discreto em seus lábios enquanto servia seu suco. Sua face alegre se desfez quando me viu.

— O que foi Maddy? — Ela perguntou preocupada — Quer voltar a se deitar?

Neguei com a cabeça e suspirei pesadamente, voltado ao meu prato de panquecas.

(...)

Meia hora depois, eu me encontrava na sala, encarando o lado de fora. Observava a movimentação da rua meio fascinada, como se esperasse que eles aparecem na minha porta e levassem a nós duas para outro buraco mofado como o que estive.

A neve dava uma impressão calma para mundo lá fora, muito diferente de como se encontrava minha cabeça neste momento: turbulenta, inquieta e assustada.

Eu adorava o inverno por trazer essa pequena sensação de volta conforto, mesmo que não fosse me deixar bem neste momento.

O toque do meu celular me tirou de meus pensamentos. Chequei a tela e vi que era a Vic ligando.

— Como você está? — Ela perguntou assim que eu atendi.

Eu não preciso mentir para Vic, nunca precisei. Meus olhos se enchem de lágrimas silenciosas. Caindo lentamente, elas molham minha bochecha.

— Mal.

— Você está segura agora. Se quiser conversar comigo estou aqui.

Isso fez eu me sentir melhor. Vic é uma das melhores pessoas que eu conheço. Ela é minha melhor amiga.

— Ah, Maddy. Você não sabe o desespero que fiquei quando sua mãe ligou para os meus pais dizendo que tinham sequestrado você — Pude ouvir pelo seu tom de voz que ela também chorava.

— Te amo, Vic.

As palavras escapuliram. Foi tão natural que a única coisa que pude fazer foi sorrir. Parecia que um lado meu queria dizer isso a todas as pessoas com quem eu me importava. Após os acontecimentos, tinha medo de não conseguir dizer depois.

— Ah, Maddy... — Ela suspirou — Eu também te amo, gostosa.

Nós rimos, sussurramos, choramos. Falar com Vic era a coisa mais maravilhosa desse mundo, e eu pude abrir meu coração para ela, expondo tudo que não me fazia bem.

Ainda estava na ligação com Vic quando a campainha tocou. Levantei-me e fui lentamente até a porta conferindo o olho mágico. Vi Luke parado ali na frente, com as mãos nos bolsos da calça e um casaco quente de lã.

Sem jaqueta de borboleta. Ótimo.

Os cabelos ruivos dele pareciam brilhar sob a luz do sol fraca de inverno. Ele tinha um aspecto renovado, como se estivesse muito mais leve.

— Vic, eu tenho que ir, mas tenho para te contar mais tarde — Eu disse, me lembrando de que não havia contado para Vic sobre Luke.

— Tudo bem. Até mais então.

— Até mais.

Desliguei e joguei o telefone no sofá. Abri a porta e o rosto de Luke se ergueu para mim.

— Posso entrar?

Dei um passo para o lado, permitindo sua entrada. Ele parou na minha frente e quando ia começar a falar mamãe chegou afobada.

— Quem estava na porta, Mad...

Ela se calou ao ver Luke. Seus lábios se abriram e suas mãos cobriram a boca. Olhando para mim, arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma.

— É e-ele?

Balancei a cabeça em concordância e mamãe se aproximou de nós.

— Posso abraçar você? — Os olhos dela começaram a ficar mareados.

Luke não teve reação, ele apenas ficou parado esperando ela abraçá-lo, e, quando ela o fez, o ruivo desabou em lágrimas e a abraçou de volta. Fiquei encarando a situação sem saber o que fazer até que decidi me aproximar e participar do abraço também.

Nos afastamos e mamãe olhou para ele sorrindo.

— Fique conosco para o almoço — Ela disse enquanto secava os olhos — sei que ainda falta duas horas, mas fique com a gente esse tempo. Podemos conversar.

Luke só concordou com ela e nós seguimos para sala.

Foi algo bom, vê-los juntos. Luke parecia menos preocupado e mamãe mais feliz. Deve ser muita coisa, achar que seu filho está morto, depois descobrir que ele está vivo e ainda  que seu marido o escondeu.

Nós ficamos na sala, conversando até a hora do almoço, onde nos sentamos na mesa um pouquinho mais leves.

— Eu posso amar Eugene com todas as minhas forças, mas nunca vou perdoa-lo por esconder meu filho de mim.

— Ele estava apenas tentando me proteger — Luke defendeu.

— Eu não disse que não entendia por que ele fez isso — Ela deu um suspiro triste — Pelo menos eu pude ter você de novo, isso basta para mim.

Luke sorriu e eu vi aquilo como o início de uma nova vida. Uma vida com três pessoas. Dois filhos sem um pai e uma viúva, mas tentaríamos ser felizes.

Ao pensar nisso, um sorriso surgiu em meus lábios.

A vida seria melhor daqui para frente.

Butterflies | Damian Wayne Onde histórias criam vida. Descubra agora