Prólogo - Lugar Nenhum

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O tapete de musgo sobre o piso do longo corredor deixava evidente o abandono do local. A madeira que ornamentava metade da parede parecia ser nobre, mas já perdera todo o seu brilho por conta da umidade. A outra parte, coberta por tinta que ia até o teto, exalava um odor ácido de arder as narinas.

A luminosidade precária vinha das janelas altas com vidraças sujas e do buraco recém-aberto no teto também ornamentado com vidro, por onde Audrey havia acabado de cair. Fora isso, samambaias emergiam pelas quinas das paredes deixando o ambiente esverdeado muito semelhante a uma floresta gótica de conto de fadas.

— Sherlock... tive medo de você não atender... — Ela estava ofegante quando finalmente conseguiu falar com o amigo. — Você nunca atende, mas quando retornei a chamada do John foi direto pra caixa postal.

— Audrey, estávamos exatamente te procurando. — O tom de voz do homem mostrava o quanto ele estava preocupado. — Onde você está?

— Eu não sei — respondeu ela com lágrimas descendo pelo rosto.

Com certo esforço, Audrey levantou se apoiando nas paredes, tirou uma foto do lugar e enviou para Sherlock. O homem foi tomado pelo pânico por não reconhecer o lugar na imagem.

— Você está ferida? — perguntou John pegando o telefone enquanto Sherlock e Greg tentavam encontrar a mulher rastreando a ligação.

— Tem um corte na minha panturrilha direita, John. — Audrey gemeu enquanto levantava a perna da calça jeans para checar o ferimento. — Tá sangrando um pouco.

— Muito grande? — perguntou o médico.

— Menos de quatro centímetros, eu acho — respondeu ela depois de medir usando os dedos como referência.

— Tem alguma coisa que você possa usar para amarrar sobre a ferida?

— Estou usando polainas de lã, acho que consigo fazer uma faixa com uma delas.

— Faça isso, mas não encerre a ligação, estamos tentando encontrar você localizando a chamada — pediu ele.

— Não demorem muito, — ela sentou no chão e desamarrou o All Star azul de cano baixo que usava. — A bateria caiu pra 20%.

— Ela disse que a bateria está acabando — informou John aos amigos.

— Audrey! — chamou Sherlock um pouco mais alto sem saber se ela conseguia ouvir depois que o médico havia dado a tarefa de improvisar um torniquete.

— Tá no viva-voz — avisou ela. — Pode falar.

— Tem como você ir para um lugar mais aberto?

O programa estava com dificuldade para rastrear o sinal do aparelho.

— Deixa só eu terminar de amarrar essa atadura improvisada.

Audrey gemeu de novo quando conseguiu dar um nó na polaina cinza de lã ao redor da panturrilha. Depois deu um nó nos longos cabelos castanhos, tentando inutilmente não o sujar de sangue, pegou o celular e levantou.

Não havia ninguém além dela no local e, a julgar pelo estado do chão e das paredes, já fazia algum tempo que estava inabitado. Com dificuldade por causa da dor, ela caminhou devagar olhando através dos vidros embaçados pela sujeira e, por mais estranho que pudesse parecer, a mulher estava encantada com a paz do lugar.

A única saída parecia ser a porta de ferro envidraçada no final do corredor, pois todas as outras passagens estavam obstruídas por entulho e o buraco no teto por onde ela havia acabado de cair era muito alto para ser alcançado.

Audrey parou de frente para a porta que por sorte não ofereceu resistência quando ela a empurrou, mas infelizmente os poucos vidros que ainda estavam presos caíram sobre a mulher que não pode fazer nada além de se encolher no chão com os braços sobre a cabeça para se proteger.

O barulho assustou os três homens que gritaram o nome dela tentando fazer contado.

— Estou viva — revelou Audrey ofegante enquanto se livrava dos cacos de vidro. — E acho que vou precisar improvisar outra atadura. — Ela olhou para o antebraço direito ensanguentado até o cotovelo.

— O que aconteceu? — perguntou John com o desespero evidente em seu tom de voz.

— Fui abrir a única porta que tem aqui e os vidros que estavam nela soltaram. — Audrey gemeu enquanto retirava o último caco de vidro do braço. — Vou lá pra fora.

Os três esperaram apreensivos.

— Estou numa sacada. — Ela começou a descrever. — Tem um pátio na minha frente com algumas árvores, muito mato e... — A mulher parou de falar de repente.

— Audrey, o que foi? — perguntou John.

— O carro da Molly tá lá embaixo — disse ela sem conseguir entender o que acontecia. — "Teria vindo com a amiga para aquele lugar? Mas onde ela estava" — pensou. — Qual foi a última vez que vocês falaram com ela?

— Nos encontramos na cantina durante meu intervalo entre duas consultas. Acho que ela tinha acabado de chegar. Não notei nada de estranho... — John tentava se manter sereno enquanto via o desespero de Sherlock aumentando rapidamente. — Tem certeza que é o carro dela?

— Sim. Eu memorizei a placa — confirmou a mulher.

— Consegue ver se ela está no carro?

— Acho que está vazio. — Audrey se debruçou na beirada da varanda. — A porta do lado do motorista está aberta.

O celular dela emitiu um ruído.

— John, só tenho 10% de bateria... — O medo tomou conta da mulher e ela sentiu suas mãos e lábios começarem a tremer antecipando as lágrimas que em breve escorreriam pelo seu rosto.

— Calma, Audrey — pediu ele percebendo a aflição na voz da amiga. — Nós vamos encontrar vocês duas.

A mulher sentiu seus batimentos cardíacos acelerando quando ouviu o barulho de cacos de vidro quebrando sob a pressão de alguém que caminhava sobre eles. Não estava mais sozinha ali. Se fosse Molly, a amiga teria chamado por ela, a não ser que estivesse ferida demais para conseguir falar.

Entretanto, antes que pudesse se virar e descobrir quem se aproximava, um golpe forte atingiu a parte de trás de sua cabeça a deixando muito tonta. A visão estava embaçada quando ela finalmente conseguiu se virar apenas para desmaiar inconsciente segundos depois.

— AUDREY! — gritou John do outro lado da linha.

A ligação foi cortada antes que o aparelho pudesse ser localizado e os três homens se olharam em pânico sem saber o que fazer.

***
Esse prólogo foi só um aperitivo do que está por vir. Ainda hoje publicarei o primeiro capítulo!


YOLO - Só se vive uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora