Todo o empenho que Sherlock não havia dedicado ao caso foi descontado daquele episódio em diante. Ele rejeitou os clientes que bateram à sua porta, se recusou a ajudar Greg em qualquer coisa não relacionada ao "desafio mortal" e ignorou qualquer mensagem de Mycroft que não estivesse relacionada àquele caso específico.
Já John estava dividindo seu tempo entre ajudar o amigo na investigação, seu trabalho, os cuidados com Audrey e naquela primeira semana precisou dedicar mais tempo à Rosie já que a babá não estava em condições de cuidar da menina.
— Só se vive uma vez... — disse Audrey lendo a frase em voz alta.
Quando ela e Sherlock ficaram sozinhos no apartamento, a mulher pediu todos os detalhes do caso e passou a ajudar o detetive a investigar. Entretanto, depois de alguns dias, eles não haviam avançado muito.
— Esse pessoal tem consciência de que podem estar errados, não é?
— Não estão não. — Sherlock foi enfático e olhou para a mulher com um sorriso irônico no rosto.
Ele estava sentado em uma cadeira de frente para o laptop e ela estava de pé atrás dele se apoiando na bengala reta de cabo de alumínio e punho emborrachado preto que mais uma vez estava sendo útil para ela.
— Por acaso você já morreu para ter certeza?
O homem revirou os olhos.
— Tô falando morrer de verdade. — A mulher riu. — Não fingir de morto.
— Audrey, você não vai começar a acreditar nessas coisas, não é?
— Não te parece tentador acreditar na possibilidade, mesmo que remota, de passar uma eternidade feliz ao lado da Molly, por exemplo?
A mulher, que estava na cozinha com John, passou a prestar atenção na conversa ao ouvir seu nome.
— Prefiro a felicidade compartilhada com ela agora. — Sherlock voltou olhar para a tela do computador.
— E se você puder ter os dois e o pré-requisito for apenas crer e seguir a vontade de Deus?
— Não posso seguir algo que eu nem acredito que exista. — A vontade dele em continuar com aquela conversa diminuía exponencialmente e aos poucos começava a irritá-lo.
— Olha, sei que não é tão fácil assim de repente ter fé, eu também não me sinto segura para afirmar que tenho. Mas desde que ouvi a respeito, tem parecido uma possibilidade convidativa. Estou tentada a abraçar a ideia — declarou Audrey antes de tocar o ombro do amigo e se afastar.
— Se existe um Deus bom e poderoso, — Sherlock se virou na cadeira ficando de frente para ela. — Onde Ele estava quando seus pais tentaram se livrar de você e ainda lucrar com isso? — O detetive enfatizou o pronome pessoal.
Se antes apenas Molly prestava atenção no que estava sendo dito, o tom de voz de Sherlock e a pergunta incentivaram John a parar o que estava fazendo e ouvir também.
— Com certeza se empenhando para impedir que eles fizessem isso — respondeu a mulher com serenidade sem precisar pensar a respeito. Já havia se feito aquela pergunta e refletido sobre ela. — Mas a decisão final sobre fazer alguma coisa, ou não, é sempre nossa. E mesmo sem acreditar, olha só aonde eu vim parar. — Audrey se calou e gesticulou indicando onde estava e os amigos. — Você pode acreditar que foi por acaso ou que eu fui guiada até aqui. A escolha é sua, mas não altera a verdade seja ela qual for.
— Essa verdade que você quer acreditar é uma história inventada — retrucou Sherlock.
— Você não tem como provar isso. E como eu disse antes, não vejo mal nenhum em acreditar. — Audrey mantinha a expressão serena e estava muito tranquila ao falar. Não tinha intenção de brigar com o amigo. — O que a gente não pode é ficar esperando uma solução mágica pras coisas.
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YOLO - Só se vive uma vez
FanficDr. Watson disse certa vez que normal e bem são termos relativos quando se trata dos Holmes, e o mesmo parece valer para quem frequenta o 221B da Rua Baker. Rosie iniciou a vida escolar, ainda contando com sua babá, Audrey, que conseguiu um lugar pe...