Capítulo 39 - Danos colaterais

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Desesperado com o estado da amiga, Sherlock a deitou sobre uma espreguiçadeira acolchoada e começou a abrir os armários em busca de algo para cobrir o corpo de Audrey, que usava penas a camisola hospitalar sobre sua roupa íntima e tremia de maneira incontrolável.

Assim que encontrou o que procurava, ele voltou para perto da mulher e a enrolou com a manta felpuda. Sua ação seguinte foi procurar algum papel com que pudesse limpar o sangue já seco grudado no rosto dela.

Com uma embalagem de lenços umedecidos na mão, o homem sentou ao lado da amiga na espreguiçadeira e esfregou o rosto dela com delicadeza. Enquanto realizava a tarefa, Sherlock notou que a raiva também fazia seu corpo tremer.

Estava furioso com o que viu John fazer, principalmente por se tratar de alguém que cuidava dele e já havia sofrido tanto. Aos poucos a mulher foi relaxando e respirando mais devagar aparentemente aliviada por ter sido livre da tortura.

— Obrigada, vovó. — Sherlock a ouviu dizer e riu percebendo que sua mente ainda estava muito longe. Perdida em um passado para onde ele sabia que a amiga nunca iria querer voltar.

Audrey já havia dito que se sentia bem quando pensava em sua falecida avó, e ali estava a prova daquilo. O detetive compreendeu qual era o papel da idosa na vida da neta.

— Está tudo bem agora — disse para reforçar o conforto da amiga. Ele lamentou o fato de não conseguir imitar a voz de uma mulher idosa, mas aquilo foi o suficiente, pois Audrey parecia estar dormindo profundamente.

John apareceu na sala alguns minutos depois e pediu para aferir a pressão dela, pois havia subido muito durante o exame.

— Do jeito que vocês torturaram ela, não me surpreende — reclamou Sherlock e o amigo preferiu não retrucar.

Os dois viram o resultado, ainda alto, porém tendendo a normalizar.

— Estou na sala da Lucille analisado os resultados — informou o médico com semblante triste. — Nos avise quando ela acordar.

Sherlock não afirmou que faria aquilo, tampouco negou. Ele não estava com disposição para conversar com John no momento. Ainda demorou alguns minutos até que Audrey realmente despertasse daquele sonho/memória e voltasse a ser quem era.

Assim que abriu os olhos, o local desconhecido a deixou um pouco amedrontada até reconhecer a lapela do Belstaff do lado esquerdo de sua cabeça.

— Onde a gente tá? — perguntou Audrey sorrindo ao encontrar os olhos azuis de Sherlock ao olhar para cima.

— Em uma sala de repouso — informou ele. — Como você está se sentindo?

— Bem, eu acho... — A mulher não tinha certeza e ficou ainda mais confusa ao tirar as mãos de debaixo da manta e ver as marcas vermelhas em seus pulsos. — O que aconteceu? Não vou mais fazer o exame?

Sherlock sorriu aliviado por ela não ter lembranças do ocorrido.

— Você já fez. — Com seu tom de voz barítono ele tentava tranquilizar a amiga.

Audrey sentou e girou um pouco o corpo para ficar de frente para ele.

— Do que você se lembra? — questionou o amigo ao ver o semblante preocupado dela.

Sherlock sabia do medo dela de que seu cérebro repentinamente parasse de conservar as memórias, mas entendia por experiência própria que momentos traumáticos como aquele tinham maior tendência a não ficarem gravados com precisão.

— Nós fomos para a sala de exames, e eu estava conversando com você e o John para tentar descobrir qual foi o gatilho para a minha crise. — Ela ficou um tempo em silêncio. — Acho que isso é tudo o que me lembro.

YOLO - Só se vive uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora