O cheiro de café fresco foi o que despertou Audrey às cinco da manhã do dia seguinte, mas ela sabia que não poderia comer nada até o procedimento estar terminado. Pensando em adiantar as coisas, a mulher afastou a coberta, colocou os pés no chão e se levantou para ir ao banheiro. O gesto automático, no entanto, acabou provocando uma pontada de dor que a fez se deitar novamente.
Quando terminou de comer, John subiu para acordar a amiga e a encontrou deitada com os joelhos dobrados e o braço direito apoiado sobre os olhos fechados. Ele acendeu a luz principal do cômodo já pressentindo que algo não estava bem.
— Bom dia — cumprimentou ela sem se mover.
— Bom dia, — disse ele esperando para poder agir. — Está com muita dor?
— Tentei ficar em pé pra ir no banheiro, e não consegui.
John entrou no quarto e tocou a panturrilha de Audrey percebendo o inchaço novamente ganhando tamanho. Ele sabia que depois de retirado o que estava causando aquilo, precisaria fazer uma lavagem cuidadosa do ferimento para garantir que não infeccionaria novamente.
— Vem, eu te ajudo — chamou ele incentivando a amiga a se levantar de novo.
Mal Audrey sentou na cama, John a ergueu com os braços. Os dois se olharam por alguns instantes. Ela tentando arranjar algum comentário irônico para fazer e ele apenas esperando para poder retrucar. Entretanto, sem forças para pensar em algo, a mulher deitou a cabeça sobre o ombro esquerdo do homem e ele a levou para fora do quarto.
— Me chama quando terminar. — John deixou a amiga em pé perto da privada e saiu para dar privacidade a ela com a garantia de que voltaria para buscá-la.
Se apoiando em uma só perna, a mulher usou o banheiro enquanto o homem voltou ao quarto de hóspedes para arrumar a cama. Audrey chamou John quando terminou e, carregando a amiga mais uma vez, ela retornou para o cômodo onde trocaria de roupa. O homem foi para o próprio quarto fazer o mesmo e pouco depois das 6 da manhã estavam prontos para sair.
O trajeto foi em silêncio não só pela dor que a mulher sentia, cada vez mais intensa, mas também por conta da tensão de estarem a caminho de um procedimento cirúrgico. Não havia falta de confiança por qualquer uma das partes, apenas a ansiedade normal que antecede um evento relevante.
John manobrou o carro dentro do estacionamento praticamente vazio no subsolo do hospital e, como da vez anterior, foi buscar uma cadeira de rodas para se locomover com a amiga. Querendo adiantar a ação, Audrey abriu a porta do carona e se virou para o lado colocando as pernas para fora do veículo.
— John, é você? — perguntou a mulher sentindo um arrepio ao ouvir sons de passos que ela não identificou como sendo do amigo. — Tem alguém aí? — repetiu ela se arrependendo assim que lembrou quantas vítimas dos filmes de terror haviam feito a mesma pergunta antes de serem atacadas.
Pressentindo o perigo, Audrey se equilibrou sobre a perna esquerda e ficou de pé segurando firme com as duas mãos na porta aberta do carro para ter uma visão maior do estacionamento.
O silêncio a deixou apavorada, pois se fosse alguém sem intenção de fazer mal teria respondido, e ela tinha certeza de ter ouvido passos. Seus instintos estavam gritando para avisá-la de que não estava sozinha e muito menos segura.
Mesmo com poucos carros, as muitas sombras nos cantos mais afastados esconderiam com facilidade uma pessoa. A mulher aguçou os sentidos e olhou a sua volta tentando não focar nos seus batimentos cardíacos acelerando e no suor descendo pelas axilas.
— Audrey.
Ela reagiu com um pulinho ao chamado inesperado, ao mesmo tempo em que sentiu alívio, pois, apesar do susto, jamais se enganaria ao ouvir a voz de John. O homem caminhava devagar na direção dela empurrando uma cadeira de rodas e transparecia a preocupação em seu semblante.
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YOLO - Só se vive uma vez
FanfictionDr. Watson disse certa vez que normal e bem são termos relativos quando se trata dos Holmes, e o mesmo parece valer para quem frequenta o 221B da Rua Baker. Rosie iniciou a vida escolar, ainda contando com sua babá, Audrey, que conseguiu um lugar pe...