Capítulo 46 - Uma boa surpresa

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O único romance que permaneceu inabalado foi exatamente aquele que durante muitos anos parecia ter poucas chances de se concretizar. Sherlock evitava a possibilidade, pois não queria ter que lidar com o que ele sequer perdia tempo imaginando que iria acontecer. Enquanto isso, Molly estava feliz em ter a amizade do homem que a encantara desde a primeira vez que o viu.

Entretanto, os dois tinham resolvido arriscar, e não se arrependeram. O detetive não se constrangia em admitir que ter a namorada ao seu lado aguçava suas habilidades, e a patologista passou a apreciar muito mais as visitas frequentes que o namorado fazia durante seu turno no hospital. Fora do trabalho, ambos haviam encontrado a companhia ideal para conseguirem se desligar do mundo ao redor e apenas curtir o momento.

John e Audrey seguiam com a amizade. Não era exatamente o que o homem queria, mas o que se permitia. Ele esperava que se a amiga tivesse um relacionamento romântico, deveria ser com uma pessoa capaz de não provocar mais traumas nela, como ele quase havia feito. A única dificuldade em seguir com aquela ideia era que a mulher não parecia se interessar por ninguém. Mas Audrey tinha alguns planos em mente.

Era mais uma noite esperando por John na casa dele cuidando de Rosie enquanto o amigo e patrão ajudava Greg junto com Sherlock em uma investigação. O jantar que ela havia preparado estava quase pronto quando os amigos chegaram e aquela noite foi uma das raras ocasiões em que o detetive se sentou à mesa e comeu com eles. Com o caso resolvido e a comida preparada pela amiga, ele não conseguiu recusar.

Sem pressa para irem embora, Audrey insistiu em cuidar da louça suja enquanto John e Sherlock brincavam com Rosie e depois o pai preparava a filha para dormir. O trio revezou nas vozes dos personagens enquanto liam uma história para o deleite completo da menina.

Quando ela finalmente dormiu, John a cobriu com a manta amarela felpuda e deu um beijo em sua testa enquanto Audrey e Sherlock, que haviam se afastado primeiro para guardar os livros de volta na estante, acompanhavam a cena da porta.

— Está tudo bem com você? — perguntou o homem para a amiga percebendo seu semblante mais contemplativo do que o usual.

— Não sei se você iria compreender... — respondeu ela olhando para Sherlock com um sorriso que rapidamente desapareceu.

— Me deixe tentar — sugeriu ele.

Apesar do tom de voz dos dois ser baixo para não perturbar o sono de Rosie, John conseguia ouvir a conversa de dentro do quarto. Audrey respirou profundamente antes de se pronunciar.

— Às vezes eu penso no que teria acontecido se eu tivesse acatado a vontade dos meus progenitores. — A mulher não conseguia chamar Raymond e Barbara de pai e mãe depois do que fizeram com ela. — Teria me casado com um homem de quem provavelmente não gostaria, mas com certeza amaria meus filhos.

Ela realmente não esperava que o amigo respondesse, mas Sherlock a surpreendeu.

— E como se sentiria quando seu marido tratasse seus filhos da mesma forma que seus pais lidavam você?

A pergunta fez Audrey repensar o que havia acabado de dizer. Era um bom argumento apresentado pelo amigo que não só parecia estar entendendo melhor aquele tipo de situação, como raciocinando de forma lógica acerca de assuntos tão subjetivos.

— Pensando por esse lado, também foi bom para meus filhos que esse casamento arranjado não tenha acontecido... — ponderou Audrey. — Mesmo assim é doloroso perceber mais uma coisa que foi tirada de mim.

— Não se preocupe. Isso vai passar logo — declarou o homem com seu sorriso confiante. — É só o seu estado atual que está te deixando assim.

— Que estado atual, Sherlock? — Ela virou de frente para o amigo e cruzou os braços sobre o peito.

YOLO - Só se vive uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora