Capítulo 23 - Cartas na mesa

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Sherlock também aproveitou o tempo para tomar banho e percebeu seu apetite aparecer com o passar dos minutos. Apesar de ainda estar no meio de um caso, essa era mais uma mudança que ele vinha observando nos últimos tempos.

Quando encontrou com John no restaurante do hotel eles descobriram que, diferente da comida, as bebidas eram retiradas no bar. Então, enquanto o amigo foi buscar duas garrafas de cerveja long neck para eles, Sherlock caminhou em direção a uma mesa perto da grande janela na parede oposta à entrada do local. John se juntou a ele ocupando a cadeira do outro lado da mesa alguns instantes depois.

Finalmente surgia a oportunidade para saciar a curiosidade que consumia John desde o último Natal. Depois que o garçom trouxe os pedidos e sabendo que não seriam interrompidos, o homem deu um longo gole em sua cerveja long neck, repousou a garrafa sobre a mesa e foi direto ao assunto.

— Vai me contar o que está acontecendo com você em relação à Molly, ou vou precisar descobrir sozinho?

— Não tem nada acontecendo. — O homem sorriu, mas o amigo percebeu a ansiedade no gesto.

Sherlock queria falar e John continuou o encarando em silêncio dando tempo para ele organizar as ideias. Sabia que se o pressionasse naquele momento, a resposta seria formada apenas por frases desconexas e evasivas.

O homem olhou para o pedaço de carne com molho ao lado do purê de batata com ervilhas no prato à sua frente, tomou um gole da cerveja imitando John e enfim desabafou.

— Eu não sei exatamente o que está acontecendo, ou talvez eu saiba, mas prefira fingir que não sei. — Sherlock engoliu em seco. — Desde que a Eurus me forçou a fazer o que eu fiz com a Molly, alguma coisa ficou diferente.

A lembrança do teste com o caixão no meio da sala apareceu simultaneamente na mente dos dois homens.

— Quando precisei pedir a Molly para dizer aquelas três palavras, eu realmente não entendi qual era a dificuldade dela, afinal, nós somos amigos há muito tempo. Então ela me desafiou a fazer o mesmo, e quando eu disse entendi não apenas por que era difícil para ela, mas também o aquilo significava para mim.

O homem sorriu encorajando o amigo a continuar com o relato.

— Ao longo da minha vida, a maioria das mulheres que demonstrou algum interesse por mim fez isso em troca de benefícios próprios. Normalmente acabavam desistindo fácil por eu ignorar, mas duas foram mais persistentes.

John franziu o cenho e tombou a cabeça para o lado, porém sem interromper a narrativa.

— A Irene foi uma das que não desistiu fácil e confesso que a inteligência dela me deixou bastante envolvido — continuou ele. — Mas, mesmo depois que eu a salvei, ela não se arrependeu o suficiente do que tinha feito para mudar de atitude.

O outro não discordou daquela afirmação, pois a dominatrix havia realmente manipulado o amigo para conseguir o que queria.

— Ela continuou me enviando mensagens por algum tempo, até que, depois daquela conversa em que você me incentivou a tomar alguma atitude, eu resolvi fazer isso — revelou o homem. — Bloqueei o número dela e todos os outros que ela tentou usar para me contratar até ela finalmente desistir de falar comigo.

— E por que você não fez o contrário? — quis saber John.

— Quando fomos encontrar com a Molly e a senhora Hudson na loja de bolos, eu percebi que se a Irene permanecesse na minha vida colocaria todos vocês em perigo — explicou Sherlock. — Como eu disse, ela nunca se arrependeu ou pensou em mudar, e se eu mantivesse um relacionamento com ela, mesmo que fosse apenas uma amizade, estaria sempre correndo o risco de qualquer um de nós sermos literalmente vendidos.

YOLO - Só se vive uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora