Capítulo 14 - Saber amar

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Sherlock chegou ao laboratório do hospital em seu estado tradicional de animação de quando tinha um caso interessante para resolver. Depois de cumprimentar Molly e outro funcionário do Barts que também estava no local, ele se acomodou atrás de um microscópio e começou suas análises usando um bloco de folhas amarelas pautadas para anotar suas descobertas.

A mulher, no entanto, ainda motivada pela revelação de John no dia anterior, não conseguiu mais se concentrar em seu trabalho depois da chegada do amigo. Com o coração batendo ligeiramente acelerado, ela esperou até que o outro patologista deixasse o laboratório para iniciar a conversa que não queria mais adiar.

— Sherlock, — chamou ela.

O homem deu um sobressalto, pois não havia percebido a aproximação da amiga de tão concentrado que estava. Molly deu um sorriso discreto por conta da reação dele, e se desculpou gesticulando com os lábios sem emitir som. Sherlock sorriu dispensando a necessidade do pedido ao mesmo tempo em que ficava um pouco envergonhado pelo motivo que o deixara tão absorto em seu palácio mental.

Àquela altura, o material analisado estava ali apenas para ser conferido, pois o detetive já tinha descoberto o que havia ocorrido. O que intrigava Sherlock cada vez mais, era a percepção sobre o que sentia pela amiga. Era nela que ele pensava ao ser interrompido e sentiu como se tivesse atraído Molly com a força de seu pensamento, mesmo certo de que aquilo era impossível.

— Te atrapalho se interromper por alguns minutos?

— Óbvio que não, — o homem virou o corpo de frente para a amiga.

— Eu fiquei pensando sobre o que o John confessou, e na forma como você sempre cuidou da gente, e acho que também te devo desculpas.

— O quê? Não! — Sherlock franziu as sobrancelhas. — De onde você tirou essa ideia?

— Por mais que eu só quisesse te ajudar, nem sempre fui exatamente gentil com você. — A mulher inclinou a cabeça levemente para a direita enquanto falava. — Me perdoa por ter batido em você e gritado com você quando...

— Molly, Molly, por favor, para... — Sherlock segurou as duas mãos dela por alguns instantes para interromper o discurso. — Depois da maneira lastimável e desrespeitosa que eu te tratei durante anos, usando o que você sentia por mim apenas para me beneficiar aqui no laboratório, sou eu quem precisa te pedir perdão. O que você fez, nem se compara.

— Talvez você tenha aprendido a agir dessa forma porque as pessoas com quem conviveu te ensinaram a ser assim — sugeriu a mulher fazendo uma pausa e sorrindo para ele. — E eu não estou aprovando suas atitudes, porque você é inteligente o suficiente para perceber quando machuca as pessoas com o que fala ou faz. — Molly fez uma pausa. — Quase sempre.

Os dois sorriram um para o outro se lembrando das vezes em que ela ou John precisaram repreender Sherlock por ter agido mal. No entanto, Molly não se esquecia da vez em que o amigo havia pedido perdão em um Natal depois de constrangê-la com suas deduções sobre um presente que ela havia comprado para ele.

— Pelo menos você está disposto a consertar seus erros — acrescentou a mulher. — Algumas pessoas nem se dão ao trabalho.

— Eu te perdoo, se você me perdoar também — sugeriu Sherlock.

Percebendo que não conseguiria dissuadir o amigo, Molly acabou aceitando a oferta e esticou a mão direita para selar o acordo. Sherlock correspondeu conforme o esperado, mas prolongou o contato dos dois por mais tempo que o convencional.

O gesto deixou a mulher intrigada com o significado que poderia ter, pois já era a segunda vez em pouco tempo que o amigo agia de maneira estranha para seus padrões. Não que estivesse achando ruim, mas estava com medo do sentimento que aquilo estava reacendendo nela.

YOLO - Só se vive uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora