A minoria

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Wednesday

— E aí, como foi? — Olhou a loba enxerida parada na porta da biblioteca. Evitou Isabel desde o momento em que chegou, mas sabia que a ex-defunta não ia deixar que isso ocorresse por muito tempo — Se resolveram?

— A única coisa que mudou é que agora ela me quer longe de vez — Foi direta

— Eu suspeitei de que ela fosse fazer isso — Suspirou — O lado alfa dela está ficando cada dia mais evidente.

— Eu concordei — Afirmou — Eu concordei em deixar ela ir.

— Amar também é deixar ir — Recitou — Nunca gostei dessa frase, sabia.

— Somos duas

— Ela fez isso porque te considera parte da alcateia — Se sentou na poltrona — Alfas quando estão sendo ameaçados tem medo de que seus companheiros e filhotes se machuquem, então se afastam deixando a atenção dos caçadores somente neles. Depois seguem sendo lobos solitários.

— Você não me parece uma loba solitária — A garota sorriu envergonhada.

— Não sou tão forte quanto aparento ser, eu não conseguiria desligar minha humanidade. — Ponderou — Mas a Enid, sim...

— Quais os riscos se ela fizer isso?

— Ela pode não voltar deixando com que o lobo interior se aposse dela — Sentiu um nó no próprio estômago — Lobos solitários, são lobos obrigados a desligar as emoções para viverem sozinhos. E quanto mais tempo sem emoções, mais difícil de recuperá-las. É exatamente como um barco em alto mar, se não tem uma âncora para prendê-lo no fundo, a maré leva o fazendo se perder.

— Então é isso que ela pretende — Isabel concordou

— Na verdade, é isso que ela já começou a fazer. Você é a âncora dela, e sem você por perto fica mais fácil.

— Eu prometi que ia me afastar —Lembrou. 

— Se afaste em respeito ao pedido, mas permaneça próxima o suficiente para ela te sentir — Divagou — Eu realmente acho que ela vai conseguir se controlar e não vai se entregar por completo, mas não se surpreenda caso não a reconheça em certos momentos.

— Para ser sincera, eu já não a reconheço há um bom tempo — Se lembrou da garota sorridente na qual Enid era — Parece que ela morreu no dia em que a encontrei ensanguentada no chão do banheiro. Parte da Enid morreu naquela noite.

— Sabe, eu vi o que ela fez — Encarou Isabel sem entender — O vínculo me fez ver, creio que a Emma também.... É a parte ruim de termo certos dons, vemos e sabemos de coisas que não gostaríamos.

— A voz que sua filha escuta, é você quem falava com ela. Enid me contou que na noite em que estava na mansão a menina foi atrás dela falando que a voz mandou, e disse que a voz via coisas que ela não conseguia — Isabel concordou— Agora faz sentido

— Sim, era eu... É como se fosse um sonho em tempo real, tive que aprender o aperfeiçoamento para ficar de olho na Chloe nesse tempo distante. Eu deixo meu espírito ir até onde quero, vejo o que quero e depois volto para meu corpo. Assim que a Chloe me avisou sobre a Enid, fiz isso — Mexeu em um pingente que carregava no pescoço — Ela escuta meu espírito falando com ela, crianças possuem a mente mais aberta.

— Uma coisa que não se encaixa e eu estou tentando entender, como saiu viva?

— Josephine tinha desconfiado do Gregory naquela tarde, ela sabia que ele ia aprontar alguma, então quando eu saí e ele me seguiu, ela foi atrás — Explicou — Eu perdi muito sangue na briga e bati a cabeça na árvore quando fui arremessada, depois disso acabei apagando. Ele me largou lá para sangrar até a morte.

Don't give up (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora