Caixinha de joias

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Wednesday

Jamais, em nenhum momento da vida desde o momento em que nasceu pensou em dividir a cama com outra pessoa, tudo começou a cair por baixo graças a Enid, deixou a loba invadir seu espaço. Mas agora ela estava trazendo consigo a mini pitbull, e tinha também o urso de pelúcia que a menina lhe obrigou a segurar durante o bendito filme.

Em resumo, um baita arco-iris estava esparramado sobre a própria cama, enquanto era obrigada a segurar o celular na mão a contra gosto para a criança assistir o desenho, estava no meio das duas, e era abraçada pela cintura por ambas.

Chloe prestava atenção na tela do celular, os olhos estavam vidrados na princesa da Disney que cantava uma música clichê. Enid, por outro lado, estava dormindo tranquila, a loba tinha cochilado nos primeiros quinze minutos de filme. Então foi obrigada a ser babá da criança.

A pequena Alaric olhava vez ou outra para si, para se certificar que estava assistindo e não dormindo como a tia. Não que estivesse se incomodando com aquilo, não estava, só era estranho estar daquela maneira com a menina.

— Tia Wed — A voz saiu bem baixa, Chloe estava com medo de acordar a loba adormecida — Para onde vamos quando morremos?

Encarou a menina surpresa pela pergunta, bem que Enid tinha falado que a garota falava coisas peculiares de uma hora para a outra.

— Creio eu que para algum tipo de descanso eterno — Chloe ficou pensativa.

— Podemos ver as pessoas depois que elas morrem? Ir visitá-las se sentirmos saudades?

— Talvez em sonhos, podemos rever elas em sonhos — Deu de ombros.

— A tia Enid vai nos visitar em sonho, então? — Se virou para a menina de imediato, ela tinha um olhar inocente para o que acabará de perguntar. Mas si própria estava assustada.

— Como é? — Chloe se sentou na cama e fez uma careta.

— Tia Emma falou que a Enid não respirava, e quando a pessoa não respira é porque morreu — Se lembrou de Emma contando sobre a visão na biblioteca — A tia Enid vai morrer?

— Não, Chloe, eu não vou morrer — Sentiu um arrepio ao ouvir a voz de Enid próxima ao seu ouvido. Sentiu as mãos da loba lhe acariciando a barriga, provavelmente a mesma escutou seu coração batendo rápido no peito e acordou.

— Então, por que a tia Emma falou aquilo? — Enid deu um suspiro cansado e se sentou na cama, estendeu os braços para a sobrinha e a puxou para se sentar em seu colo.

— Estávamos falando de lugares, às vezes tem lugares onde não nos sentimos bem, que ficamos deslocados, sufocados, por assim dizer, e temos a sensação de que não estamos respirando — A menina encostou a cabeça no peito de Sinclair e prestou atenção em tudo o que era dito — Era sobre isso que estávamos conversando.

— Enid, eu não quero que você morra, nem hoje e nem nunca — Sentiu o próprio coração se apertando com a fala da menina, e doeu ainda mais após ver Enid fechando os olhos — Quando a mamãe estava morta, eu me sentia sozinha, eu estava triste, todos estavam tristes, tia Emma o papai. Foi aí que você apareceu, e tudo começou a ficar feliz de novo... Se você for embora, tudo vai voltar a ser como antes.

— Chloe meu amorzinho, escute bem o que vou te falar — Sinclair se afastou para olhar diretamente nos olhos cinzas — Infelizmente, a morte não é uma coisa que pode ser evitada, é o ciclo da vida, igualzinho no filme rei leão. Algumas pessoas acabam partindo mais cedo do que as outras.

— Você vai ser uma delas? — Enid suspirou.

— Eu não sei meu anjo, tudo depende do grande ciclo da vida, pode ser que eu acabe indo mais cedo do que gostaríamos, isso é possível — Chloe murchou de imediato o semblante — Mas sabe, caso um dia isso aconteça, eu ainda vou estar por perto... Vai conseguir me sentir com você.

Don't give up (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora