Enid
Tinha quase certeza de que a mão havia quebrado. Além de inchada, estava vermelha e bem dolorida, teria que passar na enfermaria para olhar, mas não estava com vontade de sair, não naquele momento.
Deitou na cama e cobriu os olhos com o braço, achou que teria seu tão sonhado momento de sossego. Estava bem enganada, já que a porta bateu forte assim que foi aberta.
— ENID QUE PORRA FOI AQUELA?— Não tirou o braço do rosto, mas sabia quem estava no quarto só pelo som dos passos, sendo essas pessoas Yoko, Divina e Wednesday.
— Primeiro, não grita, não sou surda — Falou calmamente — Segundo, foi apenas uma conversa.
— Conversa? Enid você meteu a cabeça da garota na mesa — Tanaka estava indignada — Ela está agora na enfermaria levando pontos.
— Sendo bem sincera, eu estou pouco me lixando se ela está levando pontos — Encarou Yoko — Aquela vadia mereceu o que teve, acha que pode humilhar todos a volta e sair impune.
— Enid por mais ordinárias que elas sejam, isso não foi a coisas certa — Divina apontou
— E é certo três lobas intimidarem uma estudante que é menor que elas? — Perguntou — É certo elas infernizarem a vida de todos que são inferiores? Reveja seu conceito de certo ou errado Divi.
— Ei, calma, não precisa falar com ela dessa maneira — Yoko defendeu.
— A questão é que todos estavam vendo a menina chorando e não fizeram nada. Até mesmo vocês duas — Apontou para as ficantes— Não me venham dar lição de moral, sendo que todo mundo aqui compactua para que coisas como aquela continue acontecendo nessa escola. As pessoas fecham os olhos para o errado, e depois quando uma tragédia acontece se unem em solidariedade.
— Enid qual a droga do seu... — Foi interrompida pela voz da autoridade.
— Enid Sinclair, pegue suas coisas e me acompanhe — Amélia apareceu na porta do quarto.
— Hora, vamos dar um passeio, querida diretora? — Se fez de desentendida.
— Sem gracinhas, Sinclair — Alertou — Pegue seus pertences e me acompanhe.
— Vai me expulsar? — Cruzou os braços e permaneceu no mesmo lugar — Sabe que seria um pouco injusto, não sabe?
— Temos três lobas na enfermaria por sua causa.
— Engraçado que ninguém perguntou se minha mão está bem— Mostrou a mão quebrada — Ela também sofreu uma agressão, o rosto da Cheryl é bem duro.
— PEGUE SUAS COISAS E ME ACOMPANHE, SINCLAIR — Viu as amigas se encolhendo com o berro. Wednesday observava tudo em completo silêncio.
— Não — Desafiou — Não seria justo eu ser expulsa, sendo que aquelas três é quem agride os outros alunos. Sabe quantas pessoas elas já enfiaram a cabeça na privada?
Amélia não respondeu, estava desnorteada demais para falar qualquer coisa.
— Seu silêncio diz tudo — A diretora fechou os olhos e contou até dez.
— Pois bem, dessa vez passa — Apontou o dedo — Mas se isso se repetir...
— Tudo depende de Cheryl e do seu bando — Foi sincera.
— Essa não é a resposta certa, Enid — Alertou.
— Tudo bem, querida e esplêndida diretora, não irá se repetir — Amélia semicerrou os olhos em sua direção, deu um sorriso sínico para a mulher — Mais alguma coisa?
{...}
Estava sendo obrigada a ir à enfermaria, e para melhorar a situação, estava sendo escoltada como se fosse uma prisioneira.
E para melhorar mais ainda o que já estava de bom tamanho, Amélia não pediu a Yoko para lhe acompanhar. Pediu a Wednesday.
O que resultou no silêncio mortal e no próprio coração acelerado. Não achou que Wednesday voltaria tão cedo para Nevermore, achou que demoraria mais alguns dias.
A última noite juntas de uma forma mais íntima tinha ocorrido há poucas horas, e cada detalhe ainda estava cravado na alma.
Assim que entrou na enfermaria viu Cheryl deitada com uma bolsa de gelo na cabeça. A garota se ajeitou na cama assustada assim que notou sua presença.
Não era atoa que a própria mão havia quebrado, o estrago que tinha feito no rosto da loba não tinha sido pouco.
Foi guiada para uma sala reservada, a enfermeira de meia-idade tinha receio de mais um incidente ocorrer. Até parece que ia pular no pescoço de alguém como um cão raivoso.
— Aguarde aqui, senhorita Sinclair vou pegar os equipamentos — Quase pediu para mulher não ir, quase fez isso, mas a porta já tinha sido trancada.
Wednesday.
Era incrível a capacidade do universo de mudar tudo em tão poucas horas. E era assustador se sentir impotente por não conseguir mudar um segundo se quer.
Parada naquela sala vazia com Enid, foi que se deu conta do quão doloroso o tempo podia ser. Era como se o espírito bom e carinhoso da loba tivesse desaparecido em 24 horas.
Foi esse o tempo que levou para ver um lado totalmente diferente de Enid. A conversa com Isabel lhe abriu os olhos, mas uma coisa não concordava.
A mesma disse que Sinclair talvez não fosse se entregar por completo, mas ao ver o quão impiedosa Enid fora naquela briga, descartou aquela possibilidade. Ela já estava se entregando.
Em menos de 24 horas ela havia mudado da água para o vinho, e quanto mais tempo passasse, mais mudanças a loba ia fazer. Estava temendo aquilo, com todo seu ser.
— Não precisa ficar aqui, prometo que não vou voar no pescoço da água de salsicha — Foi indiferente, ou ao menos tentou ser. — Pode ir embora.
— Não estou aqui a pedido seu — Lembrou — A culpa não é minha se me mandaram ficar de babá.
— Como sempre, você está em lugares errados em hora errada — Enid evitava a todo custo lhe encarar — Não era para você ter visto aquilo.
— Ser um monstro e se transformar em um são coisas distintas — Estava cada uma em um canto da sala — Cabe a você fazer a escolha.
— Você nunca conheceu meu lado mau, Wednesday — Observou o olhar perdido do outro lado — E não quero que conheça, o que fiz com a Cheryl não é nada comparado ao que posso fazer se quiser. O que você disse está certo, mas só tem um problema.
— E qual seria, Sinclair?
— Você não se transforma em um monstro, o monstro transforma você. Porque ele vive adormecido dentro de você — Pode jurar ver os olhos claros mudando de cor, jurou ver eles vermelhos — O meu está acordando após um longo tempo de hibernação.
— Você não é um monstro, Enid — Tentou se aproximar.
— Não — A mão machucada apertou firme a lateral da maca — Por favor não se aproxime. Fique onde está.
Mesmo a contragosto permaneceu parada, Enid pareceu respirar aliviada com aquilo. Foi ao ver a loba se controlando que percebeu, lembrou de situações em que o mesmo aconteceu.
— Não me afastou por causa do Gregory — A loba levantou o olhar — Me afastou por sua causa. Está com medo de você mesma.
— Voltei garotas, Enid estenda sua mão — Continuou encarando a loba, que nada disse apenas fez o que foi pedido.
Constatou o que já sabia.
Enid Sinclair estava morrendo, e daquela vez não podia impedir...
Nota da autora: Talvez eu fique um tempinho sem postar, sofri uma perda ontem que mexeu muito comigo. Todos precisam de tempo para se recuperar, comigo não é diferente.
Logo estarei de volta, beijos fiquem com Deus.
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Don't give up (Wenclair)
FanfictionPossui conteúdo sensível/ +18 O amor é algo esquisito, não é mesmo, aparece de repente e você só vai perceber que está amando quando começa a machucar, quando pequenas ações fazem seu coração bater mais rápido, e quando vai ver, bum, está apaixonado...