A Estação

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Wednesday

O barulho do bip dos aparelhos médicos era mórbido. Enid estava com o rosto pálido, a respiração subia e descia, o soro pingava a conta-gotas.

Não gostava daquela visão, Enid não combinava com ela. Se aproximou da cama da garota e segurou sua mão, estava gelada como uma pedra de gelo.

Os médicos deixaram com que Enid recebesse visitas, deixou com que todos fossem primeiro ver a loba e ficou por último.

Todos os momentos confidentes que teve com Sinclair foram sozinhas, seus melhores e piores momentos foram só entre as duas. Era algo delas e que não podia ser quebrado.

— Você conseguiu, Enid — Acariciou a mão fria — Você venceu.

Olhava para rosto sereno com a esperança de ver algum tipo de reação, mas tudo que recebeu foi silêncio.

— Sei que talvez você fique brava comigo quando acordar, mas eu dei um soco na cara da sua mãe — Imaginava até qual seria a reação da loba, olhos arregalados e um leve grito com os dizeres "o quê?" — E Amanda também bateu nela. Só para constar, eu prefiro ela sendo sua mãe do que a Charlotte.

Bip, bip, bip, apenas isso a resposta que tinha. Uma dor angustiante pairava no peito, dilacerava como veneno.

Olhava para Enid naquele leito e tentava entender o porquê? Porque a história dela teve que terminar daquele jeito, não era muito justo, não depois de tudo.

A flor bela do jardineiro estava desaparecendo, porque depois da primavera, onde a flor floresceu, o verão passaria depressa, até que o outono chegasse e as pétalas começassem a cair. E no inverno, a flor já não existiria mais, e a única coisa que sobraria, seria a terra congelada.

A terra que teria a raiz do que um dia foi um coração, a terra que já teve vida pairando sobre ela.

— Eu pagaria para estar no seu lugar agora, Enid. Eu preferia que fosse eu aí e não você, eu não sei lidar com isso — A garganta se fechou, trazendo um gosto ruim na boca das palavras que ficaram presas — Eu não sei como ficar sem você, eu não posso viver sem você.

Os olhos já estavam úmidos, olhou para cima e respirou fundo. Precisava se controlar, tinha que se controlar.

— Você me mostrou que a vulnerabilidade pode ser bonita, se for encontrada da maneira certa — A voz saiu rouca — Que eu posso até fingir esconder o que sinto e penso, mas você sempre vai saber a verdade. Bem no começo da nossa história, você me perguntava se eu tinha ciúmes ou gostava de você, e eu disse não, e então você me beijou.

Aquela lembrança parecia tão distante agora, mas era uma memória bonita.

— Você estava certa, Enid, eu já amava você desde aquele momento, mas falar sobre sentimentos sempre foi difícil para mim. Mas com o passar do tempo, você me mostrou que não preciso fugir deles — Pingos de chuva começaram a bater na janela, olhou para fora e viu um clarão no céu, logo em seguida o trovão ressoou — Você foi a luz que encontrei em meio às trevas, Sinclair. E eu não quero viver mais na escuridão, eu não consigo mais fazer isso... Não depois do que você me fez encontrar.

O cheiro de terra molhada subia na atmosfera. Noites chuvosas passaram a ser seu próprio pesadelo, porque lembranças da noite do banheiro revisitavam a mente.

A chuva começou a aparecer em momentos onde se sentia impotente, impotente por não ajudar Enid.

— Enid, se estiver me ouvindo, por favor, me dê um sinal — Implorou — Qualquer coisa.

Mais um clarão e mais um estrondo, se assustou com o barulho, mas não com o do trovão, foi com o vaso de porcelana caindo.

Se levantou e foi até o objeto quebrado pegando os cacos do chão, enquanto pegava acabou olhando para a flor branca que estava caída a alguns metros de distância.

Don't give up (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora