🔥Catena🔥
Os números se emaranham na tela diante dos meus olhos. Pela janela do meu dormitório, posso vislumbrar outro dia amanhecendo. O céu tem um tom púrpura enegrecido pela noite que ainda não foi por completo embora.
Lembro-me do senhor Monaldo me dando um olhar em suas aulas, como se fosse uma advertência silenciosa, lembrando-me do caminho que escolhi percorrer. Estou tentando criar um algoritmo capaz de não somente esconder a fantasma, como também apagar os rastros de pagamento dos meus clientes.
Volto a encarar a tela do meu notebook, correndo meus olhos rapidamente pela sequência de códigos que criei durante as madrugadas em que Sebastian está longe.
Os dias passam vagarosamente sem ele ao meu lado nas aulas e à noite, quando entro no meu dormitório e deito-me na cama, a lembrança de seus braços ao meu redor me faz sufocar em lágrimas de saudade. Luto diariamente uma batalha contra a sua falta, perdendo sempre que me pego pensando em onde ele está. As poucas mensagens trocadas não são suficientes para fazer meu coração se aquietar. Já se passaram 14 dias desde que me deixou sozinha na cafeteria, com a promessa de que voltaria.
Belinda mexe-se na cama, chamando a minha atenção e tirando-me do devaneio. Suspiro e levanto-me da cadeira estofada, sentindo minhas costas estalarem como um resmungo descontente por passar as noites sentada na cadeira. Entro no banheiro antes que Belinda abra os olhos, quero evitar seus comentários sobre minha aparência de zumbi.
A água fumega, a temperatura é capaz de queimar a pele e nem mesmo isso me incomoda. Respiro fundo, molhando os cabelos que há tempos não são lavados, os fios já estão marcados por ficarem presos em um coque bagunçado.
Pensamentos traiçoeiros começam a ocupar minha mente e decido que é hora de sair do banho. Minha pele avermelhada e sensível pela temperatura da água arrepia-se quando, inconsequentemente, coloco os pés no piso frio do banheiro.
Faço o caminho para a sala do professor Monaldo como todas as vezes desde que Sebastian partiu, no automático. O dia frio me faz puxar o capuz do casaco e cobrir meus cabelos molhados. Passo pela porta e vou até minha cadeira, ignorando o espaço vazio ao meu lado. Os olhos do professor me encararam por trás dos óculos de armação fina e ele me da um sorriso como se quisesse passar algum conforto. Retribuí por educação, tirando meu tablet da bolsa e encarando o quadro ainda branco.
Aos poucos, meus colegas de classe chegam e tomam seus assentos, ignorando minha presença melancólica e triste. Pelo menos agora, posso ser invisível, como desejei desde o primeiro dia em que pisei na universidade.
Tento me concentrar na aula, mas o sentimento de vazio me impede de me envolver plenamente nas atividades. Me sinto perdida e deslocada, como se não pertencesse àquele lugar.
Sebastian fez tudo girar em torno dele, e me deixou, sozinha com o caos.
No final da aula, arrumo meus pertences e saio da sala. Caminho pelo corredor vazio e silencioso, sentindo o peso da solidão em meus ombros. Ao chegar ao meu dormitório, abro a porta e entro no cômodo que agora está vazio. Jogo a mochila em cima da cama e suspiro, olhando ao redor do quarto, com meus pertences pessoais espalhados em desordem. É então que percebo que não estou apenas sentindo falta de Sebastian, mas também sentindo falta de mim mesma.
Sento-me na cama, tentando processar meus pensamentos e sentimentos. Sei que preciso tomar medidas para mudar minha situação, mas não sei por onde começar.
Olho para a janela e vejo a chuva caindo lá fora, decidindo que é hora de fazer uma mudança em minha vida, e a primeira coisa que farei será dar um passeio na chuva.
Saio do dormitório, sentindo as gotas de chuva gelada molharem meu rosto. Caminho pela universidade vazia e começo a me sentir um pouco mais viva, percebendo que preciso tomar mais ações para encontrar meu caminho novamente.
Caminho sem rumo por um tempo, deixando a chuva encharcar minha roupa e meus cabelos. A sensação de liberdade e renovação que a chuva traz me acalma um pouco.
Chegando ao centro da cidade, vejo uma cafeteria aberta e decido entrar. Compro um café, um pedaço de torta de chocolate e me sento próximo à janela, na mesa mais afastada. Continuo observando a chuva que golpeia a fachada da cafeteria, escorrendo pelo vidro e caindo sobre as flores que enfeitam a parte de fora.
Um rapaz de cabelos negros entra na cafeteria e chama a minha atenção. Ele parece desorientado e molhado pela chuva. O rapaz olha ao redor, procurando por um lugar para se sentar, mas todas as mesas estão ocupadas.
Levanto-me e ofereço para compartilhar a minha mesa. O desconhecido agradece e senta-se em frente a mim. Ele se apresenta como Andrew e começa a contar sua história, falando como a chuva o pegou de surpresa enquanto caminhava para uma entrevista de emprego.
Ouço atentamente seu desabafo, criando uma conexão instantânea com ele pela semelhança na área de especialização, exceto pelo fato de que ele possui um diploma invejável e um futuro trabalho provavelmente lícito.
Enquanto conversamos, noto que Andrew está começando a se sentir melhor, sorrindo e relaxando no sofá da cafeteria. A chuva começa a diminuir e ele olha para o relógio, percebendo que precisa sair para chegar a tempo para a entrevista.
Andrew me olha e pisca, levantando-se com a alça da bolsa sobre o ombro.
— Obrigado pela companhia e por compartilhar a mesa. Espero que nos vejamos novamente por aqui — diz ele, estendendo a mão.
Eu balanço a cabeça em afirmativa, aperto sua mão fria e sorrio.
— Claro, seria ótimo! Foi um prazer conversar com você, Andrew. Boa sorte na entrevista, e espero que você consiga o emprego — respondo com um sorriso encorajador.
Ele agradece mais uma vez e sai da cafeteria, desaparecendo na leve chuva que ainda cai lá fora. Volto a me sentar, observando as pessoas passando na rua e refletindo sobre a breve, mas significativa interação que acabei de ter com um estranho.
A chuva lá fora agora é apenas uma lembrança, fecho meus olhos, apreciando o momento sozinha.
Termino meu café e decido partir, desejando o melhor para Andrew e para mim mesma em nossos respectivos caminhos.
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O Código da Calábria
ActionNa sombria Calábria, um território dominado pela cruel 'Ndrangheta, Reegan Fallacci governa com punho de ferro, sendo temido como o demônio da Calábria. Quando a sagrada Omertà é quebrada, ele não hesita em desencadear um inferno na terra para punir...