Capítulo 46

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🔥Catena🔥

Observo meu reflexo no espelho, as lágrimas ainda presentes em meus olhos, mas recuso-me a deixá-las cair. As contusões roxas estão ainda mais evidentes.

- Ao menos aplique uma base - sugere Yanka.

- Não! Quero que testemunhem o que sou capaz de aguentar - respondo com firmeza.

- Você não precisa provar nada a ninguém, Catena - argumenta Joana.

- Quero fazer isso por Reegan, mas ainda mais, quero fazer isso por mim - digo, voltando a fixar meu olhar no reflexo do espelho.

Necessito sobreviver neste mundo se desejo construir um futuro ao lado de Reegan. Devo superar meu temor em relação à morte e aprender a controlá-la a meu favor. Preciso enfrentar as sombras e não me deixar submergir por elas.

Ergo-me da cadeira e me aproximo da janela, contemplando o Mar Mediterrâneo se mesclar com a escuridão de um céu sem estrelas. A cauda do vestido azul-turquesa se estende elegantemente, e eu ajeito a alça única sobre meu ombro direito.

Em seguida, volto-me para observar Joana, Yanka e Catarina, esposas dos homens de confiança de Reegan. Elas foram designadas para me auxiliar na missão de me familiarizar com o mundo da 'Ndrangheta durante a tarde.

Apesar dos casamentos arranjados, todas parecem encontrar contentamento em suas vidas, não se limitando apenas às tarefas domésticas. Cada uma delas conquistou seu lugar dentro da Famiglia, demonstrando seu valor.

Catarina supervisiona os legits, Joana auxilia Giancarlo com os drops e Yanka mantém a fachada da Família Fallacci na imprensa local e internacional.

Batidas na porta chamam minha atenção, e eu observo Nestore entrar, seu rosto ainda marcado por ter se colocado em meu caminho para me proteger.

- É hora - ele anuncia, e eu lhe ofereço um sorriso.

As outras mulheres saem do cômodo, me deixando sozinha novamente. Volto-me para o espelho, encarando mais uma vez os hematomas, buscando força para enfrentar tudo que está por vir esta noite.

Nestore se aproxima com uma caixa em mãos. Ele abre o estojo de veludo negro, revelando um colar com um pequeno diamante que brilha delicadamente.

- O Don pediu que você usasse isso esta noite - ele informa, colocando o estojo sobre a mesa.

- Todos já estão no salão? - pergunto, e o aceno afirmativo com a cabeça dele faz meu estômago se revirar.

Coloco a joia em meu pescoço e seguro seu braço, seguindo-o para fora do escritório.

Respiro profundamente e fecho os olhos por um breve momento. A música penetra em meus ouvidos, murmúrios e risadas ecoam distantes, e uma melodia suave e tranquila embala a conversa. O baile marca o batismo dos novos membros da 'Ndrangheta, um juramento que será prestado ao Capo dei Capi, com sangue.

Nestore me puxa suavemente em direção ao salão. A intensidade da luz aumenta em meu rosto, e eu abro os olhos, deslizando-os por toda a sala até que se detenham nas pedras preciosas fixas no olhar de Reegan. Como duas esmeraldas meticulosamente lapidadas, que brilham sob o esplendor do lustre no salão.

Todos os presentes dirigem olhares em minha direção, alguns curiosos, outros repletos de desdém. No entanto, mantenho minha trajetória ao lado de Nestore, avançando em direção a Reegan. A cada passo que dou, sinto meu coração acelerar ainda mais. Quando finalmente alcanço seus braços, me aninho em seu peito robusto, e tudo ao nosso redor parece desvanecer-se. Reegan beija minha testa e segura minha mão, posicionando-me ao seu lado.

A cerimônia tem início com as palavras de Antonini Fallacci, o Boss e pai de Reegan, que mantém ao seu lado Louise. Eu imito a postura altiva deles, e ela me presenteia com um sorriso cúmplice, como se estivesse erguendo uma bandeira branca.

Observo os rapazes ajoelharem-se perante Reegan, estendendo-lhe as mãos ensanguentadas e recitando o juramento com lágrimas nos olhos. Gradualmente, a magnitude do momento começa a me atingir. O ambiente ao meu redor parece girar, e faço um esforço consciente para permanecer de pé sobre os saltos, desviando ocasionalmente o olhar para evitar um desmaio.

Logo após a conclusão do juramento, eu me afasto com uma taça de champagne em mãos. A porta de vidro se abre para um jardim privado, e eu me aproximo da balaustrada de mármore trabalhado, colocando a taça sobre a superfície fria. A escuridão da noite impede que eu veja claramente adiante, mas o som das ondas briga por espaço com a música agora mais alta. O aroma salgado do mar me envolve, e a brisa gélida parece sussurrar que o momento está chegando.

Volto meu olhar para a porta de vidro, e um arrepio percorre meu corpo. Observo o tom acobreado mesclar-se com o reflexo das luzes; o rosto pálido emerge das sombras, ostentando um sorriso lupino.

- Está tão linda, Catena. Se não fossem essas manchas em seu rosto, você seria a mais bela da festa - sua voz flutua, carregada pelo vento enquanto ele diminui a distância entre nós.

- Uma pequena lembrança do inferno pelo qual passei, Mikko - observo a taça, as bolhas do líquido dançando dentro do cristal.

- Ainda não enfrentou o verdadeiro inferno, minha querida Catena - diz ao tocar meu rosto com seus dedos gélidos. - Quando você voltar para Apúlia, eu tomarei tudo que é meu, quebrarei você e a enfiarei em um buraco que jamais vai conseguir sair - murmura com os dentes cerrados.

Afasto sua mão e sustento seu olhar sombrio.

- Quero ver você tentar - seguro a taça com firmeza.

Mikko pega a taça da minha mão e esvazia o conteúdo da champagne em um único gole, colocando-a com suavidade sobre o mármore.

- Em breve, todo este espetáculo será território da Sacra Corona Unita, e o seu amado Reegan estará morto - ele profere com uma expressão de vitória.

- Quem encontrará a morte será você - eu enfrento-o com determinação.

Seus dedos apertam meu pescoço enquanto ele aproxima o rosto do meu, forçando-me a encarar seus olhos repletos de fúria.

- Eu vou me divertir tanto ouvindo seus gritos de desespero enquanto meus homens te fodem como a puta que você é - ele rosna entre dentes.

- Não, Mikko - consigo dizer enquanto sinto o aperto ao redor do meu pescoço afrouxar. - Serei eu a me divertir quando você estiver contorcendo-se e espumando pela boca.

Observo-o recuar dois passos e fixar seus olhos na taça, a incredulidade estampada em seu rosto, enquanto eu exibo meu melhor sorriso.

Seus joelhos enfraquecem e ele cai no chão, começando a agonizar pela falta de oxigênio. Eu me aproximo.

- Eu disse que iria te matar. Essa é a minha vingança, por mim e por Belinda - sussurro, mantendo meu olhar fixo no dele. - Nada do que você disse será realidade. A Sacra Corona Unita será esquecida para sempre, quando Reegan eliminar toda a sua família.

Encosto-me ao mármore e observo-o agonizar no chão, o veneno percorrendo suas veias. Consumindo-o internamente, liquefazendo seus órgãos e proporcionando-lhe uma morte lenta.

- Enquanto você e sua maldita família queimam no inferno, eu estarei aqui, ao lado de Reegan - elevo a taça em um brinde solitário e a atiro ao chão, vendo-a se despedaçar em mil pedaços.

- Enquanto você e sua maldita família queimam no inferno, eu estarei aqui, ao lado de Reegan - elevo a taça em um brinde solitário e a atiro ao chão, vendo-a se despedaçar em mil pedaços

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