Capítulo 31

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🔥Catena🔥

Silêncio.

As madrugadas têm se tornado a melhor parte do meu dia, pois é quando Mikko me deixa sozinha aqui dentro desse quarto. É impossível olhá-lo e não me lembrar do momento em que ele tirou a vida de Belinda; a raiva pulsa junto com as batidas aceleradas do meu coração.

Cada vez que encaro aqueles olhos, que outrora eram como faróis que me guiavam em direção à felicidade, agora são os mesmos olhos que me fazem jurar que o matarei com minhas próprias mãos, em busca de uma vingança que pode arrastar minha alma junto com a dele para o inferno.

Pensei que Reegan pudesse seguir o rastro que deixei, mas já faz uma semana que seus quinze bilhões estão em posse da família, que agora festeja como se tivesse dominado o mundo.

Deito-me na cama de solteiro e fecho os meus olhos, tentando encontrar o sono. Amanhã será mais um dia diante do notebook, sob o olhar atento do homem que me causa repulsa. Concentro-me no som dos passos dos seguranças que protegem a minha porta, como se eu fosse alguma espécie de jóia preciosa.

O baque oco ecoa no corredor, gemidos escapam abafados e os passos cessam em frente à porta. Sento-me na cama, com o coração martelando no peito e os olhos arregalados. O medo começa a correr por minhas veias, paralisando meus músculos enquanto encaro a porta, que permanece fechada.

O tempo parece se arrastar lentamente, e o som da maçaneta faz com que eu segure minha respiração. Um feixe de luz penetra o quarto escuro, revelando a figura de um homem jovem na porta. Seu rosto está manchado de sangue, e sua respiração é ofegante.

— Catena, precisamos sair daqui imediatamente — sua voz grave ecoa, fazendo meu corpo estremecer. — Eu lhe asseguro que não lhe causarei mal, mas se Mikko nos encontrar, será o nosso fim — acrescenta, num tom carregado de urgência.

Uma batalha se desenrola em minha mente, entre seguir o desconhecido ou permanecer onde estou. São dois caminhos que potencialmente podem me levar ao encontro da morte.

A mão estendida em minha direção oscila enquanto seus olhos estão fixos em meu rosto. Agora, o tempo parece acelerar rapidamente. A urgência de uma resposta ecoa em seu olhar taciturno.

Eu seguro a mão do desconhecido e me deixo ser conduzida por ele para fora do quarto. Sigo-o pelos corredores da minha prisão, repetindo para mim mesma que morrer tentando era melhor do que viver aprisionada no inferno pessoal de Mikko.

Se houvesse qualquer chance de escapar, eu a aproveitaria, independentemente de quem tivesse que seguir ou obedecer. Meu objetivo era fugir das garras monstruosas que me maltrataram e me prenderam como um animal.

O imponente corpo para junto à porta, seus dedos tocam meu queixo e seus olhos voltam a se fixar nos meus, profundos e negros como a noite.

— Quando eu disser para correr, você vai em direção à garagem e não pare até entrar no carro preto com uma águia no capô. Você entendeu? — pergunta.

Balanço a cabeça em concordância, absorvendo cada palavra que sai de sua boca.

— Carro preto, com uma águia no capô — sussurro.

— Isso mesmo, não olhe para trás e não me espere.

A porta se fecha e ele me deixa sozinha no corredor silencioso, enquanto as batidas do meu coração parecem estremecer as paredes e ecoar por todo o ambiente. Inclino levemente o corpo para frente e tento espiar através do pequeno buraco da fechadura.

Lá fora, vejo o jovem lutando contra outros três seguranças. É difícil identificar quem está em vantagem, pois a luta se desloca para outro lugar, fora do meu campo de visão. Respiro fundo e seguro firmemente a maçaneta, evocando coragem para abrir a porta.

O metal é empurrado para baixo e a porta se abre. Um dos seguranças de Mikko avança em minha direção, agarrando-me pelos cabelos e me jogando violentamente na parede. Por mais que eu tente, não consigo conter o grito que escapa de minha garganta quando o homem se coloca sobre meu corpo, me prendendo ao chão.

Reúno todas as minhas forças e dou um tapa no rosto dele, ao som de seus xingamentos. Em resposta à minha audácia, recebo um soco que me deixa atordoada, à beira da inconsciência.

O sabor ferroso do sangue preenche minha boca, e seus dedos se fecham ao redor do meu pescoço. O aperto impede o ar de chegar aos meus pulmões, mas não possuo forças para reagir. Apenas fecho meus olhos e aguardo o abraço da morte.

Valeu a pena ter tentado.

Valeu a pena morrer em busca da liberdade.

O líquido quente e pegajoso banha minha pele, enquanto o peso esmaga meu corpo. Puxo o ar desesperadamente, como se não respirasse há uma eternidade.
Sou erguida do chão, envolta pelo frio da noite, e abro meus olhos, encontrando o olhar preocupado do jovem sobre meu rosto. Por um breve instante, mantenho meus olhos abertos antes de fechá-los novamente.

Meu corpo anseia pela entrega à escuridão, mas eu continuo lutando.

O barulho me obriga a abrir os olhos mais uma vez, tiros atingem a lataria do carro. O jovem tranca as portas e gira o volante, fazendo os pneus cantarem.

— Estamos quase lá, Catena — ele diz.

Volto a fechar os olhos, completamente exausta.

Tudo é avassalador, tudo é intenso.

O toque suave em minha bochecha provoca um sorriso em meu rosto. Abro os olhos e as estrelas brilham no céu como se estivessem celebrando nossa fuga. Tudo parece um sonho.

O jovem me carrega em seus braços em direção ao desconhecido, mas isso não me incomoda. Ele arriscou sua vida para me tirar daquele buraco, e por enquanto, isso é suficiente para mim.

Sou delicadamente deitada sobre um colchão macio, e um cobertor aconchegante envolve meu corpo, fazendo-me soltar um suspiro de contentamento. O jovem desliza seus dedos pelos meus cabelos, acariciando-os com ternura.

— Poderia me dizer seu nome? — pergunto, com voz sonolenta.

— Me chamo Nestore — responde ele, sentando-se em uma poltrona em minha frente.

— Estou cansada demais para continuar lutando, Nestore — minha voz escapa em um sussurro.

— Não se preocupe, Catena. Agora você está segura. Pode descansar tranquilamente. Ele estará esperando por você quando acordar — ele afirma com gentileza.

A menção de outra pessoa desperta uma mistura de curiosidade e ansiedade em meu coração, mas a exaustão toma conta de mim, e tudo que consigo fazer é me render a ela. Permito-me ser levada para longe desse lugar, ao menos em meus sonhos, sabendo que um novo capítulo me aguarda ao despertar.

 Permito-me ser levada para longe desse lugar, ao menos em meus sonhos, sabendo que um novo capítulo me aguarda ao despertar

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