Na sombria Calábria, um território dominado pela cruel 'Ndrangheta, Reegan Fallacci governa com punho de ferro, sendo temido como o demônio da Calábria. Quando a sagrada Omertà é quebrada, ele não hesita em desencadear um inferno na terra para punir...
Contemplo Catena dormir em meus braços, uma fúria incontrolável percorre minhas veias ao observar as marcas espalhadas pelo seu corpo. Ela não merece passar por isso. Prometi protegê-la, cuidar dela, e falhei miseravelmente. Esses dois dias longe foram uma tortura.
Não posso permitir que mais mal seja feito a ela. Vou caçar Hector Ruzatti, vou fazê-lo pagar pelo que fez. Nenhum pentito fica impune. O sangue dele será derramado pelas minhas mãos.
A imagem de Arto aparece diante dos meus olhos e tenho certeza de que é mais um de seus planos. Como uma cobra peçonhenta, espalhando seu veneno pela Santa.
Ele atingiu o elo mais fraco de nós, deixando para Hector fazer o seu trabalho sujo.
Olho para Catena novamente, e meu coração se aperta, imaginar a dor que ela passou por minha causa é insuportável. Eu não posso deixá-la sofrer mais. Vou protegê-la com tudo que tenho, com minha vida se necessário.
Levanto-me da cama com cuidado para não acordá-la, e saio do quarto. Encaro meus homens, parados em frente à porta, esperando pela minha ordem. A raiva ainda lateja em meu peito, mas a preocupação com Catena é o que domina meus pensamentos.
— Leve-o para o porão da Quorum –--- ordeno com firmeza, me referindo a Hector Ruzatti.
Meu sottocapo, Giancarlo, parece hesitar antes de falar.
— Don... –--- começa ele.
Olho nos olhos de Giancarlo, sabendo o que ele quer dizer.
— E se fosse Joana, Giancarlo? Deixaria o desgraçado viver depois de ter batido nela? - questiono, buscando fazer com que ele entenda a gravidade da situação. Giancarlo assente compreensivamente.
— Eu vou reunir a Santa — diz.
Assinto, agradecendo sua compreensão. Antes de me afastar em direção à saída, ele me chama, fazendo-me olhar para trás.
— Faça-o conhecer o Demônio da Calábria — diz, piscando para mim.
Meus lábios se curvam em um sorriso sombrio. Giancarlo sabe exatamente o que fazer. A Calábria não é lugar para os fracos, e quem ousa mexer com minha família vai enfrentar a fúria do meu império. Hector Ruzatti terá um encontro com o próprio inferno.
Meu único pensamento agora é vingança.
Ninguém mexe com o que é meu e sai impune.
— Reegan –--- a voz de Catena se faz ouvir, e eu me viro em sua direção, observando-a envolta em um roupão fino.
Respiro profundamente, encarando meus homens que desviam o olhar para o chão.
— Volte a dormir.
— Implorei a você que não o matasse... — ela diz, aproximando-se de mim.
— Não posso permitir que ele continue vivo após o que fez a você.
— Ainda não, Reegan... Após o baile, ele estará totalmente à sua mercê — ela acrescenta de maneira enigmática.
E ali está a fênix, mais uma vez emergindo das sombras para ressurgir. Elevando-se de forma extraordinária para dissipar a escuridão que a envolve.
Ouço o rugir do mar enquanto ele investe impetuosamente contra as rochas, e o canto da sereia ressoa carregado pela brisa do Mar Mediterrâneo. Ergo a cabeça e libero uma espiral de fumaça do cigarro que se eleva em direção ao céu. Meus olhos se fixam no horizonte de Reggio Calábria, meu território. O local onde sempre exerci minha autoridade com mão de ferro, e onde deixei a mulher que amo nas garras dos meus adversários.
— Demônio, como se sente hoje? — Giancarlo, meu primo e sottocapo, questiona.
— Só desejo que ela compreenda plenamente o que está enfrentando. — respondo, trazendo à tona o assunto que esmaga meu peito.
— Ela não é tão frágil quanto aparenta, primo. Qualquer outra pessoa teria sucumbido à morte... No entanto, ela resistiu, por você — sua mão repousa em meu ombro.
— Até quando ela precisará resistir para que meu mundo não a corrompa? Até quando aguentará antes de partir? Quanto mais dos meus demônios ela suportará, Giancarlo? — deixo que meus temores fluam de meus lábios.
— Pelo que tenho notado, Reegan, ela governará sobre todos os seus demônios — ele afirma, dando dois toques suaves em meu ombro.
Rocco assume a posição ao meu lado, substituindo Giancarlo. Um silêncio opressivo paira entre nós, e desvio meu olhar do mar para encontrá-lo. Ele solta uma longa corrente de fumaça do seu cigarro, tentando aplacar os nervos. Seus olhos exibem uma mistura de preocupação e anseio por vingança diante do ataque a Yanka.
— Como está Yanka? –--- questiono, ciente de que ele teme pela segurança de sua esposa, especialmente porque tudo aconteceu enquanto Catena estava sob sua proteção.
— Ela não pôde evitar, Don — sua resposta ecoa com um tom suplicante.
— Há apenas uma pessoa responsável por tudo isso, Rocco, e essa pessoa é Hector.
— Ele agrediu Yanka, Reegan — sua voz vacila devido à ira que ameaça consumi-lo.
— Hector pagará por todas as suas ações, Rocco — declaro com firmeza.
Acendo outro cigarro e dirijo meu olhar de volta para o mar. Busco no céu alguma orientação, uma direção a seguir. Braços delicados enlaçam minha cintura, o aroma familiar me envolve, e eu fecho os olhos.
Com um movimento calmo, viro-me em direção a Catena, nossos olhares se encontrando. Eu seguro seu rosto entre minhas mãos com cuidado, como se fosse o objeto mais precioso do mundo.
— Eu amo você — as palavras escapam de meus lábios.
No âmago dos seus olhos negros, vejo não apenas a minha própria imagem refletida, mas também a promessa de um futuro que construiremos juntos. O amor que compartilhamos é um farol que nos guiará através das tempestades e das calmarias da vida, uma constante que permanecerá inalterada mesmo diante dos desafios que estão por vir.
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