Reegan
A pele bronzeada resplandece sob os acariciantes raios solares. Contemplo de braços cruzados enquanto ela delicadamente se acomoda sobre a relva verde, seu vestido azul-turquesa adornado com tule acentuando sua beleza. A risada de Neera ecoa, uma melodia tão harmoniosa quanto era a de sua mãe, provocando um suave arrepio a percorrer meu ser.
Três anos transcorreram, e ainda sinto meu coração sangrar. A ferida deixada por sua partida permanece aberta, como se a cicatrização fosse uma promessa distante.
Meu sottocapo se aproxima, postando-se ao meu lado e gentilmente tocando meu ombro.
— Kaden já o conduziu para Quorum - ele informa.
— Não desejo que alguém se aproxime dele - afirmo, meus olhos ainda fixos em Neera.
— Entendido, Don. Estamos preparados para partir quando desejar.
— Conceda-lhe mais tempo, hoje é o dia de seu aniversário e seu único desejo foi celebrar junto à mãe - as palavras parecem me despedaçar de dentro para fora.
— Como preferir, Don - Giancarlo cruza os braços ao meu lado, observando-a depositar uma rosa branca sobre a lápide.
Ela inclina a cabeça para trás, deslocando os cachos negros, e seus olhos verdes se encontram com os meus. Um sorriso resplandecente enfeita seus lábios, e ela ergue-se graciosamente da relva, alisando suas pequenas mãos no vestido.
Rocco resmunga em um tom baixo, atraindo a atenção minha e de Giancarlo.
— Yanka ficará furiosa conosco por permitirmos que ela se sujasse assim - ele comenta, voltando o olhar para Neera.
Ela corre em minha direção de braços abertos, a brisa do mar movendo delicadamente a saia do vestido e seus cabelos. Seu perfume se dispersa pelo cemitério, enchendo o ar. A ergo em meus braços e ela se aninha junto ao meu peito.
— Papai, eu te amo - declara, com o rosto corado e úmido pelo suor.
— E eu te amo também - respondo com carinho.
Ao meu lado, Giancarlo pigarreia, lançando um olhar pouco amistoso para nós dois.
— Você afirmou à Joana que amava mais a mim, o seu padrinho - ele comenta, ajustando seu terno com uma mesura cuidadosa.
— Eu amo os dois... inclusive você, tio Rocco - ela pisca para o consigliere, que batalha para manter sua expressão imperturbável.
A realidade é que Neera trouxe tranquilidade e serenidade para minha jornada. E por isso, sou eternamente grato a Catena.
Confio Neera aos cuidados de Yanka em meu escritório e desço os degraus em direção ao porão da Quorum. Os sussurros de angústia me recebem nesse espaço onde minha faceta mais sombria emerge.
Contemplo Arto suspenso pelas correntes como se fosse uma fera enjaulada, e um sorriso escapa por meus lábios. Avanço em sua direção com passos calculados, enquanto ele mantém sua postura apesar de sua situação deplorável.
— Não espere que eu suplique por piedade - ele cospe sangue no chão, sua voz trêmula mas carregada de desafio.
— Quanto a você, tenho certeza de que não implorará, mas e quanto a sua esposa e filho? Vamos ouvir juntos seus últimos desejos, Arto - faço um gesto e Andrew liga o grande monitor preso à parede.
Rocco direciona a câmera para a fachada de sua residência em Apúlia, onde uma pilha de corpos de seus subordinados mortos se amontoa no hall de entrada, e ele permanece em silêncio.
— Tenho conhecimento de seu apreço por porões; afinal, foi lá que manteve Catena aprisionada, não foi? - inquiro, fixando meu olhar em seus olhos, que gradualmente se sombreiam à medida que a fúria começa a consumi-lo.
Ativo o comando em meu celular, e Rocco desce as escadas em direção ao porão, os gritos de sua esposa e filho aumentando de intensidade. As correntes que prendem seus pulsos tilintam à medida que ele tenta se mover.
E então, o rosto de Reino surge na tela. Seus olhos inchados devido ao choro e aos hematomas, a boca manchada de sangue e as mãos amarradas nas costas.
— Pai - ele suplica, enquanto Arto grita e se debate.
A câmera muda para o rosto de sua esposa, que luta para conter as lágrimas.
— Faça-os implorar, Rocco - digo, com firmeza.
A chamada de vídeo é ajustada para um ângulo perfeito, e o primeiro soco acerta o rosto de Reino, fazendo-o desabar no chão. Os gritos da esposa de Arto ecoam pelos alto-falantes. Gemidos e lágrimas se entrelaçam em uma melodia sombria. Pouco tempo depois, o primeiro pedido de clemência é proferido.
A mulher ergue o rosto com determinação e suplica, encarando a câmera do celular de Rocco.
— Imploro a você por misericórdia, Don Fallacci.
Aplaudindo suavemente, desvio o olhar para Arto, que permanece curvado com a cabeça baixa, encarando o chão. Rocco fita a câmera, e eu emito outro sinal através do meu celular.
— Olhe, Arto, não vai querer perder a melhor parte, não é mesmo? - comento.
Me aproximo dele e seguro seu rosto, forçando-o a encarar a tela no momento em que Rocco começa a espalhar a gasolina pelo ambiente.
As vestes da esposa de Arto e de Reino estão empapadas com o líquido inflamável, envolvendo o ambiente em um caos enquanto os gritos por clemência se intensificam.
— Misericórdia, Don Fallacci - o pedido escapa sussurrado dos lábios de Arto.
Eu me afasto e paro diante dele, inclinando-me à altura de seu rosto.
— Você demonstrou misericórdia quando matou minha esposa no dia do meu casamento? Diante de nossa filha? - falo entre dentes.
— Aquela puta mereceu o destino que teve.
Minha mão atinge seu rosto com tanta força que as correntes estremecem, fazendo o corpo de Arto balançar para o lado.
— Eis a misericórdia que você merece - aciono novamente meu celular e Rocco incendeia o corpo de Reino.
Os gritos ecoam pelo porão, enquanto o choro angustiado de sua esposa ressoa, fazendo as paredes de concreto tremerem. Arto se debatendo, impotente, ao testemunhar sua esposa queimar na tentativa desesperada de salvar o filho.
Permaneço ali imóvel, observando, até que os gritos finalmente se extinguem e Rocco deixa a residência. A câmera volta a focar na fachada, acompanhando o momento em que Rocco pressiona um botão vermelho, e tudo explode diante dos olhos de Arto. Um grito estridente escapa dos lábios dele, testemunhando a ruína de seu império, e eu seguro a arma, destravando-a.
Encaro seus olhos uma última vez e posiciono o cano gélido da arma em sua testa.
— Queime no inferno, junto com toda a sua maldita família.
O estrondo do disparo ecoa pelo porão, e o vermelho do seu sangue mancha o chão. O aroma ferroso invade minhas narinas, alimentando a fera que ruge dentro de mim.
Não pude proteger Catena, mas fiz o juramento de cuidar de Neera, e isso significa que nenhum pentito ficará vivo.
Fim.
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O Código da Calábria
ActionNa sombria Calábria, um território dominado pela cruel 'Ndrangheta, Reegan Fallacci governa com punho de ferro, sendo temido como o demônio da Calábria. Quando a sagrada Omertà é quebrada, ele não hesita em desencadear um inferno na terra para punir...