Capítulo 1

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🔥 Catena 🔥


Respire.

Meu cérebro dá ordens, mas meu corpo permanece imóvel; minha caixa torácica se recusa a obedecer.

Estou em pânico.

Parada no meio do corredor principal da Universidade de La Sapienza, em Roma. Olho para o chão, observando o piso branco manchado de pegadas marrons, de vários tamanhos e formas. Volto a olhar para frente, encarando o corredor de paredes beges que parece não ter fim. Sinto o impacto no meu ombro, movendo meu corpo petrificado para o lado esquerdo; tudo parece estar em câmera lenta e um zunido incômodo ecoa dentro da minha cabeça.

— Desculpa — fito o rapaz de cabelo negro, afastando-se sem olhar para trás.

Movo a cabeça para o lado, encontrando uma porta aberta e me esgueiro para dentro da sala, buscando um esconderijo onde meu cérebro possa processar com calma o novo ambiente. Dou um passo à frente, encarando as imensas prateleiras de madeira envernizada com escadas do tamanho da minha antiga casa. Encontro, mesmo que sem querer, a biblioteca da universidade.

Dou mais um passo na direção das estantes que contêm segredos de toda Roma e percebo que chamar um lugar como esse de biblioteca é um sacrilégio a tamanha divindade. Esse lugar se parece mais com um santuário.

Um santuário de livros.

Puxo o ar para dentro dos meus pulmões e solto vagarosamente pela boca, tentando controlar a respiração para cessar os tremores em meu corpo. A universidade parece mais assustadora do que nas fotos da internet, o campus é gigante e cheio de armadilhas sociais, para o meu desespero.

— Mais fácil de ficar invisível, vai dar tudo certo, Catena — sussurro, dando mais um passo para dentro do lugar que parece querer sugar minha alma e enterrá-la entre os livros.

A porta do meu dormitório já está aberta, e começo a pedir ao universo por uma companheira de quarto legal, ou pelo menos quieta. E se não for pedir muito, que ela não seja intrometida. 

Paro no limiar da porta e coloco a cabeça para dentro, observando uma menina com jeito de patricinha de Beverly Hills decorando seu lado do quarto com piscas-piscas de estrelas combinando com o umidificador. O cheiro de morango me faz espirrar, chamando a atenção da menina que para me olhar dos pés à cabeça e me dá um sorriso forçado após a inspeção.

— Oi, eu sou a Belinda, mas pode me chamar de Bee.

Que não seja intrometida…

— O que é isso nas suas mãos? — pergunta Belinda.

Aperto mais o meu notebook ao meu corpo, querendo protegê-lo dos olhos e, principalmente, dos dedos com unhas longas e rosas.

— Sou a Catena e isso é algo extremamente radioativo — digo e sua gargalhada ecoa pelo quarto.

— Você me parece legal, Catena — ela pisca para mim.

Caminho até minha cama, colocando a bolsa em cima do edredom vermelho com a logomarca da universidade e o notebook cuidadosamente na escrivaninha que faz conjunto com o resto dos móveis. A mala pequena, com meus poucos pertences, vai direto para baixo da cama; arrumarei em outra oportunidade. 

O Código da CalábriaOnde histórias criam vida. Descubra agora