Capítulo 27

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🔥Catena🔥

Entro no quarto do hotel, descalço-me, retirando os sapatos de salto alto que me machucam. O plano meticulosamente elaborado para escapar de Mikko e sua família desmorona diante da minha decisão imprudente de buscar ajuda no lugar errado.

Toco meu braço no lugar onde seus dedos me seguraram e posso sentir minha pele queimar. O aroma do seu perfume ainda permeia minha memória, e o olhar que ele lançou sobre mim está gravado em minha mente para sempre.

É por causa dele que estou aprisionada por Mikko. Ele é o temido Don Fallacci, como Arto costuma zombar. O impiedoso e cruel demônio da Calábria. O homem que tirou tudo deles, e agora, sou forçada a roubá-lo se quiser continuar vivendo.

Caio exausta sobre a cama de casal, os lençóis luxuosos me envolvem como um abraço reconfortante. O cansaço se apodera de mim, e meus olhos começam a se fechar lentamente. Há tantas coisas que eu gostaria de fazer antes de enfrentar a morte. Tantos sonhos a serem realizados, ainda que o tempo esteja contra mim.

O som de vidro quebrando ecoa ao longe, seguido por passos pesados que se aproximam rapidamente. Vejo duas esferas verdes brilhando na escuridão do quarto de hotel. Uma figura imponente se move nas sombras. Um sorriso branco como a neve adorna seus lábios, pertencente a um ser demoníaco.

— Já que você está em meu território, cuidarei de você —  ele proclama, com parte de seu rosto iluminado pela tênue luz que entra pela janela.

— Reegan? — sussurro, encarando-o com um misto de surpresa e medo.

— Abra os olhos e lute com todas as suas forças — ele me encoraja.

A figura se desvanece como fumaça, deixando-me lutando para controlar o batimento acelerado do meu coração.

A porta se fecha com um empurrão, a tensão no quarto é quase palpável enquanto Mikko caminha de um lado para o outro, parecendo estar possuído por uma fúria incontrolável. Seus olhos injetados de sangue e expressão atordoada me fazem encolher instintivamente na cama, temendo pelo que virá a seguir.

— Me diga o que ele falou para você! — ele grita com ferocidade, sua voz ecoando pelo quarto.

— Quem? —  pergunto, confusa e temerosa, lutando para entender o que está acontecendo. Mas antes que eu possa processar a situação, sinto seus dedos se enterrando em meus cabelos, puxando-me com violência para cima.

— Não me trate como um idiota! Eu ouvi você chamando por ele agora, enquanto dormia — ele diz, seu hálito carregado de uísque invadindo minhas narinas, provocando náuseas. Fecho os olhos por um momento, tentando controlar a onda de emoções que ameaça me dominar.

— Eu juro que não sei do que está falando, Mikko, por favor — imploro em desespero, tentando encontrar uma maneira de acalmar a fúria que arde em seus olhos.

— Eu sei que ele entrou naquele banheiro, baby, não minta para mim — continua ele, aumentando minha angústia. Meu coração dispara, suas palavras ecoando em meus ouvidos como uma sentença de morte.

— Eu não falei nada, eu juro... Eu nem sabia que era o Reegan de quem vocês tanto falam... Você precisa acreditar em mim — digo em voz trêmula, as palavras escapando de minha boca com desespero genuíno.

— Você jura? —  ele pergunta, afrouxando o aperto em meus cabelos, mas seus dedos descem para meu pescoço, acariciando minha pele de uma maneira que me é tão familiar, mas agora repleta de ódio. A lembrança do momento em que ele matou Belinda surge em minha mente, enchendo-me de uma fúria ardente.

— Eu juro, Mikko — sussurro, tomando coragem para dar um passo para trás, afastando-me de sua presença ameaçadora.

Sinto o aperto em meu pescoço, sufocando minhas palavras. Minha respiração é interrompida pela força implacável de Mikko. Sou lançada sobre a cama, seus joelhos me imobilizam, cerceando minha liberdade. Seus olhos lançam acusações e suas palavras carregam o peso da desconfiança.

— Você é uma mentirosa, Catena — sussurra ele, apertando ainda mais minha garganta.

Meus instintos de sobrevivência me fazem lutar debaixo dele, minhas mãos golpeiam seu corpo desesperadamente, buscando qualquer chance de afastá-lo.

— Por mais insano que seja, Catena, eu te amo. Eu te conquistei na faculdade e sempre cuidei de você... Eu esperei pacientemente por sua entrega, e ainda estou aguardando o momento em que você se renderá a mim.

Seus dedos seguram meu rosto com firmeza, Mikko se inclina sobre mim, seus lábios encontram os meus num beijo repugnante. Cada parte do meu ser se contorce em repulsa ao seu toque, minhas entranhas gritam de angústia.

Sinto o peso do corpo de Mikko sobre o meu, empurro-o para o lado, torcendo para que ele esteja morto. Um suspiro baixo escapa de meus lábios enquanto me afasto. Observo-o imóvel, com cuidado, acaricio o peito dele, sentindo as batidas calmas e regulares de seu coração. Uma mistura de alívio e frustração toma conta de mim.

A tentação de encerrar sua vida ali mesmo é grande, mas uma voz cautelosa dentro de mim sussurra sobre as possíveis consequências que isso acarretaria. Arto certamente não deixaria impune tal ato.

Caminho devagar até o banheiro e tranco a porta. Parada em frente ao espelho, encaro meu reflexo com olhos marejados. As marcas avermelhadas em meu pescoço são lembranças vivas do aperto sufocante de Mikko, do momento em que minha respiração foi roubada e meu corpo dominado pelo medo e exaustão.

As lágrimas escorrem livremente pelo meu rosto, testemunhas silenciosas de toda a dor e angústia que carrego dentro de mim. Sinto-me frágil e vulnerável, sobrecarregada pelos desafios que enfrento, tanto física quanto emocionalmente. Deixo meu corpo ceder ao cansaço, permitindo-me sentir a tristeza e o desespero que me consomem. As lágrimas são um alívio temporário, uma liberação das emoções reprimidas que lutam para serem expressadas.

Desabafo emocionalmente, as lágrimas trazendo um alívio momentâneo ao meu sofrimento. O banheiro se torna um refúgio temporário onde posso desabar e lidar com a avalanche de sentimentos que me aflige. A dor e o medo são minha constante companhia, e o preço da minha busca por liberdade é cada vez mais alto.

Após um tempo, ergo meu olhar no espelho e encontro meu próprio olhar. Limpo o rosto, tentando apagar qualquer vestígio das lágrimas que derramei. Respiro fundo e tomo uma decisão: preciso encontrar uma maneira de escapar da influência de Mikko, e a resposta deve estar nas profundezas da rede de segredos que envolvem Don Fallacci.

Reegan, aquele que entrou em minha mente como uma sombra, deve ser a chave para essa porta. Minhas lembranças, minhas emoções, tudo o que carrego é um quebra-cabeça, e Reegan pode ser a peça que falta.

Embora o caminho que escolhi seja perigoso e implacável, eu sei que não posso recuar. O mundo em que me encontro é um jogo perverso, onde a sobrevivência depende de habilidades afiadas e decisões calculadas. Se eu não aprender a jogar esse jogo, ele me engolirá por inteira, devorando minha sanidade e minha esperança.

Nesse mar de escuridão, eu preciso ser forte. Não há espaço para fraqueza ou hesitação. Eu carrego o fardo de vingar uma vida perdida, e essa missão me impulsiona além dos meus limites. Cada passo que eu dou é um passo em direção à redenção, um passo para honrar a memória de Belinda.

A loucura espreita nas sombras, tentando me envolver em seu abraço enlouquecedor, mas eu tenho que resistir. Encontrar forças onde puder para enfrentar as trevas com a cabeça erguida.

Respiro fundo, absorvendo a determinação queimando dentro de mim. Eu estou pronta para enfrentar o que vier, confiante de que, mesmo que o mundo me empurre para o limite, eu permanecerei firme em minha busca por vingança.

 Eu estou pronta para enfrentar o que vier, confiante de que, mesmo que o mundo me empurre para o limite, eu permanecerei firme em minha busca por vingança

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