Capítulo 33

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🔥Reegan🔥

Os olhos puxados não são mais apenas lembranças em minha mente; agora eles residem sob o mesmo teto que eu.

Contrariando as opiniões de todos, trouxe Catena para minha casa. Abriguei a arma mais preciosa de Mikko sob o meu teto, contando a mim mesmo a mentira de que aqui ela estará mais segura do que em qualquer outro lugar. Acredito que Arto jamais ousaria um ataque direto à residência do Capo dei Capi, o que me proporciona uma vantagem estratégica.

Entro no carro ainda atormentado pelo rosto enigmático da garota. O mistério que a envolve traz o caos para dentro do meu peito, e desvendá-lo se tornou minha obsessão. O soldato me leva até o Quorum, onde encontrarei Giancarlo e Rocco para planejarmos os próximos passos. Precisamos recuperar o dinheiro o mais rápido possível antes que eu precise prestar contas a Santa.

Apesar de confiar nas palavras de Catena, sei que preciso de provas concretas contra Arto para poder acusá-lo de traição diante de todos, sem que isso resulte em uma guerra sangrenta. Catena não pertence ao nosso meio, o que a torna uma testemunha inválida aos olhos dos outros.

Adentro a boate e me aproximo da mesa em que meu consigliere e meu sottocapo me aguardam. Rocco me oferece uma dose de uísque, e eu a aceito sem hesitar.

— Vejo que não está acompanhado... Pensei que você recuperaria o juízo e traria a garota para o porão da Quorum — resmunga Rocco.

— Ela precisa confiar em nós, e agir como Mikko não vai ajudar a construir essa confiança — digo, sentando-me ao lado dele.

— Demônio, ela pode estar do lado de Arto — pondera Giancarlo.

— Não consigo explicar a vocês, mas acredito que ela esteja disposta a nos ajudar — digo.

— E ela te disse isso ou você encontrou essa certeza dentro da boceta dela? — Rocco diz com desdém.

Dou um soco na mesa com força, chamando a atenção de todos ao redor.

— Mantenha sua opinião para si, Rocco. Estou pensando na segurança da famiglia e não tolerarei questionamentos às minhas decisões — aviso com firmeza.

— Don...

— Vocês estão ao meu lado ou contra mim, não há meio-termo. Portanto, ou vocês apoiam minhas decisões como verdadeiro Capo dessa Famiglia, ou encararei suas atitudes como traição — interrompo.

— Você sabe que estamos ao seu lado, Demônio, mas não fecharei os olhos se uma garota colocar tudo em risco. Se quiser me executar como traidor, que assim seja. Mas aviso que levarei ela para o inferno comigo — Giancarlo se levanta furioso e deixa a mesa.

— Giancarlo! — grito seu nome, obrigando-o a se virar em minha direção.

— No meu escritório, agora! — dou a ordem e caminho em direção às escadas, com os olhares atentos das dançarinas sobre nós.

Ouço os passos de meu sottocapo logo atrás e entro no escritório, sentando-me em minha cadeira atrás da mesa de mogno.

— O que você pensa que está fazendo? — questiono, sustentando seu olhar raivoso.

— Eu o conheço, Reegan. Você pode mentir para todos, inclusive para si mesmo. Mas essa garota mexe com você, e qualquer decisão que você tomar em relação a ela, sinto-me no dever, como membro da 'Ndrangheta, de questioná-la.

— Você só pode estar ficando louco — resmungo irritado.

No fundo da minha alma, eu sei que ele está falando a verdade. Mas se meus homens não podem confiar em minhas decisões, tudo pelo que lutei para conquistar terá sido em vão. A incerteza se espalha como uma sombra escura sobre minha mente, minando a confiança que antes era inabalável. Preciso encontrar uma maneira de conciliar a lealdade à famiglia com o desafio que a presença da garota representa. É uma encruzilhada perigosa, e minha próxima jogada determinará não apenas o meu destino, mas também o destino de todos aqueles que dependem de mim.

— Reegan, falo como seu primo e não como seu sottocapo. Falo em nome da família e não em nome da 'Ndrangheta. Seja sincero consigo mesmo, e confiarei cegamente em você novamente — sua mão toca meu ombro, e eu respiro fundo.

— Eu não sei como expressar em palavras, primo, mas as linhas do meu destino estão entrelaçadas com as dela, e agora eu preciso descobrir o porquê — confesso.

— Deixe-me cuidar do que diz respeito à famiglia em relação à garota, e você, primo, permita-se descobrir o que seu coração deseja — ele pede, olhando em meus olhos. — Minha lealdade é sua, Reegan. A famiglia confia em você para nos guiar na direção que Deus determinar. Mas lembre-se de seu juramento quando sentir que ela tem mais poder sobre você do que o sangue da famiglia que corre em suas veias — ele me deixa no escritório, sozinho com meus pensamentos.

Cada palavra que ele disse ecoa, presa dentro das paredes do escritório. Coloco a mão sobre a tatuagem em meu peito, recito num sussurro o juramento que fiz diante da Santa e encaro meu reflexo refletido no líquido âmbar dentro do copo. Uma mistura de incerteza e determinação dança nos meus olhos, enquanto mergulho na profundidade do meu ser para encontrar as respostas que busco.

Batidas na porta interrompem meus pensamentos, e eu dou permissão para a entrada. Nestore entra e fecha a porta atrás de si, seus olhos fixos em mim, como se soubesse que o assunto é Catena.

— Ela pediu por você. Você está encarregado de atender a todos os seus desejos, prestando atenção meticulosa em cada palavra que ela disser, por mais insignificante que possa parecer — digo a ele com autoridade.

— Sim, Don — responde ele prontamente, demonstrando sua lealdade.

— Una-se a Giancarlo para traçar um plano em busca de provas contra Arto — ordeno.

— Imediatamente, Don — responde ele antes de sair do escritório. Antes que a porta se feche completamente, o boss entra.

Meu pai me encara com um olhar austero, não como seu filho, mas como seu subordinado. Ele caminha em minha direção e se acomoda na poltrona do outro lado da mesa. Sua postura imponente preenche o ambiente, como se ele ainda fosse o dono absoluto.

— Diga-me, filho, que você resolverá tudo — ele pede, com voz firme.

— Não precisa se preocupar, pai — respondo, tentando transmitir confiança.

— Nem mesmo com a garota que você trouxe para dentro de nossa casa? — uma onda de desconforto percorre minha espinha.

— Sua mãe obrigou a pobre coitada a sair do quarto — ele confessa, sem rodeios.

— Pai... — começo a dizer, mas sou interrompido.

— Reegan, eu não posso interferir em sua vida pessoal, e conheço você o suficiente para saber que não adiantará nada ser contra o que quer que você tenha em mente com a garota. No entanto, se me permite um conselho... tome cuidado. Há sentimentos que nos cegam para nossos propósitos, levando-nos à morte com um sorriso no rosto — ele adverte.

Observo-o se levantar da poltrona e, assim como Giancarlo e Nestore fizeram, ele se aproxima da porta.

— Você morreria com um sorriso no rosto pela mamãe? — questiono, sentindo o impacto de suas palavras.

— Sim, Reegan, mas pela 'Ndrangheta, eu a mataria com lágrimas nos olhos também — ele responde, deixando claro que, no fim das contas, tudo se resume à morte.

As palavras ecoam em minha mente, reforçando a brutal realidade do nosso mundo.

As palavras ecoam em minha mente, reforçando a brutal realidade do nosso mundo

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