Emergência no Planeta Terra

XVI: As Notícias do Mundo de Lá

I

Março passou tão rápido que mal podia-se acompanhar as notícias do mundo caótico em que todos estavam imersos. A pandemia da doença, chamada pelos trouxas de COVID-19, enquanto no mundo bruxo era conhecida como a "Peste Moderna", era altamente contagiosa, obrigando as pessoas a utilizarem máscaras cirúrgicas para protegerem nariz e boca.

Era isso que Severo Snape testemunhava constantemente no St. Mungus. Os medibruxos e curandeiros percorriam os corredores, protegidos da cabeça aos pés, conduzindo novos pacientes em macas. A agitação era constante, com pessoas correndo de um lado para o outro, enquanto parentes choravam ao receber a triste notícia de que um ente querido havia partido. O sofrimento parecia interminável.

Snape encontrava-se internado há duas semanas desde que o Pacto de Sangue fora quebrado naquela terrível batalha em Hogsmeade. Ele teve conhecimento superficial dos acontecimentos pós-estresse devido a crise, de que os moradores foram evacuados a tempo para se refugiarem em Hogwarts, e não houve nenhuma perda significativa — exceto pelo infeliz do Duran, que acabou pagando caro ao tocar na Mão de Midas transfigurada em um pedaço de tijolo.

Mas este, era um caso para se comemorar.

Além disso, ele teve que enfrentar a explicação para sua esposa e seu melhor amigo. Obviamente, eles não ficaram nada satisfeitos. Erina quase queimou sua alma com um olhar gélido naquele dia. Foi talvez a primeira vez em que Severo sentiu o amargor de seu próprio veneno.

Severo estava recebendo um excelente atendimento na enfermaria Jano Thickey, destinada a residentes permanentes. Ele foi transferido para lá devido à necessidade dos medibruxos de liberar um quarto para acomodar os enfermos da doença. A ala era isolada das demais, com curandeiros específicos para atender aqueles pacientes.

Em relação aos cuidados médicos, Severo não tinha nada a reclamar. Eles estavam sendo gentis e atenciosos, mesmo diante do caos que assolava o St. Mungus. O que lhe perturbava mesmo eram os residentes permanentes, a maioria um saco.

Um desses pacientes era o infame Gilderoy Lockhart, que estava lá há quase trinta anos desde o incidente em que lançou um Obliviate com a varinha quebrada de Ronald Weasley, e o feitiço acabou se voltando contra ele. Severo lembrava-se claramente desse evento, afinal, era importante estar bem informado sobre as fofocas que circulavam pelos corredores do castelo. Contrariando as especulações e rumores, o estado de Lockhart não era tão calamitoso como alguns falam por aí.

É verdade que Gilderoy envelheceu muito, perdeu os seus cabelos louros e aquele "suspiro" que arrancava de algumas mulheres, mas ele parecia bem mentalmente, e até o reconheceu. Eles ficavam conversando entre as refeições — saudades dos empadões de Erina — e um dia, apenas por curiosidade, Severo comentou sobre ela.

— Não, eu não me lembro da sua esposa. — disse Gilderoy.

— Não se lembra ou não quer me dizer?

— Eu te falaria se lembrasse, mas não vem nada na minha cabeça sobre ela, nem pelo nome. Mas eu lembro muito bem de você, principalmente daquele dia em que te derrotei no Clube de Duelos na frente da escola toda.

Não foi bem isso que aconteceu, mas Severo não vai dar uma de estraga prazer. Não agora.

— E você, Snape? Por que está aqui afinal? Aposto que aprontou algo com um feitiço, não é? Seu danadinho. — Lockhart riu e deu um leve empurrão no braço de Severo, que quase esboçou um sorriso cínico — Eles me disseram que estou aqui por ter feito um feitiço errado e ter perdido completamente a minha memória. Fiquei completamente demente, como os trouxas costumam dizer.