XVII: Uma Mensagem de Muito Longe

29 2 211
                                    

Nota da Autora: o capítulo apresenta trechos do romance que Snape está escrevendo, e os diálogos são usados aspas simples ao invés do travessão, pois é o padrão de escrita no Reino Unido e demais países da língua inglesa. 

I

Clack, clack, clack. As teclas batiam e emitiam o som metálico característico. Ele tinha terminado o primeiro capítulo do seu romance.

Severo Snape ajeitou os óculos e retirou a folha do rolo da máquina de escrever. Ficou relendo o mesmo trecho várias vezes, procurando por erros ortográficos ou de digitação. O capítulo inicial deu duas folhas, frente e verso, e até achou que foi um bom início.

Apresentou as duas primeiras personagens com calma. Jocelyn Strauss era o nome da protagonista, uma mulher de vinte e oito anos, com duas filhas e com marcas profundas causadas pela Segunda Guerra Bruxa. A segunda, era a sua melhor amiga chamada Rebel Killian, que trabalhava no Departamento de Mistérios como uma Inominável. Rebel é notoriamente inspirada na melhor amiga de sua esposa, Ever Molin.

Mesmo com todos estes dados, sentia que faltava alguma coisa no seu texto, um início melhor para apresentar o primeiro caso de Jocelyn. Deveria fazer um prólogo contando como aconteceu o crime?

Este seria o seu terceiro rascunho. Os dois primeiros ele mandou para bem longe; o primeiro, escrito enquanto estava internado no St. Mungus, foi a coisa mais horrível que leu na vida, e o segundo, já em casa e com a Olivetti disponível, foi tão prejudicado pelo layout da máquina ser diferente que ele acabou construindo uma bagunça insossa de letras e descartou sem pensar duas vezes.

Não estava ruim, Severo analisava, porém, faltava algo importante.

Severo tirou os óculos e parou de escrever, olhando para a cama do quarto e fitando uma figura que lhe fazia companhia. Polly Shelby o via com um olhar de fogo, como se quisesse dizer alguma coisa a ele, mas Severo entendia isso como um julgamento perante àquelas íris lavanda com acabamento parecido com os olhos de um gato. Não apenas isso, mas até mesmo o laçarote rosa que usava na cabeça formando um topete de pelos verdes combinava com o clima hostil.

— O que tanto olha para mim, Shelby? Quer saber quais serão os próximos passos da Inspetora Jocelyn? — Polly balançou o seu corpinho peludo com um sorriso no rostinho maroto — Saiba que a criatividade de um autor requer tempo e sabedoria, mas como minha... como a minha esposa disse? Leitor beta... é isso? — Polly não respondeu, e não fez nenhum gesto — Enfim, como minha primeira leitora, logo terá acesso ao manuscrito completo. Apenas peço que tenha paciência.

E do nada, Severo começou a ter novas ideias e as anotou em um caderno ao lado da Olivetti. Polly deu um salto da cama até o braço da poltrona de leitura.

— Nem invente de querer saltar em cima da minha máquina para quebrar tudo, Shelby. Aliás, você não tem que cuidar dos seus filhotes? Eles devem estar com saudades de você.

Desde que Severo fez as pazes com Polly e os pufosos, a relação deles melhorou bastante. A pufosa nunca mais saltou na sua cara — apesar de ele saber que ela ainda tinha essa vontade — e agora, apenas fica perto dele, acompanhando-o nos lugares, seja escrevendo, cozinhando ou fazendo as suas poções. E Severo gostava disso, afinal de contas, nada melhor do que uma companhia silenciosa que não ficava no seu ouvido falando asneiras ou resmungando perguntas idiotas.

Polly fez um zumbido para Severo, podendo indicar raiva ou até indignação. Ele não poderia falar "pufanês", mas deve significar que os filhotes estavam bem.

— O Aberama está cuidando deles, não é? — Polly fez um novo zumbido, agora de confirmação — Entendo. Ele é um bom pai. Bom, vou terminar por aqui e vejo se consigo construir um prólogo refazendo a cena do crime. Estou achando isso daqui sem nenhuma base de direção, se é que me entende. — Polly mexeu os seus pelos, o que pode ser um sim, quem sabe?

Emergência no Planeta TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora